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Crise hídrica impõe ações ambientais

Imagem Ilustrativa

Diante da maior crise hídrica vivenciada no Brasil, em 91 anos – com secas severas, níveis cada vez mais baixos dos reservatórios,  situação de emergência e racionamento de água em muitas cidades (dezenas delas em Minas), bandeira vermelha nas contas de energia em função do uso das térmicas e, principalmente, falhas do poder público na gestão dos recursos – há luzes, ainda tênues, no fim do túnel.

Isso porque, em paralelo ao agravamento da crise, felizmente, surgem iniciativas que trazem esperança.

Uma delas é um projeto de conservação e reflorestamento em áreas rurais com resultados de sucesso em Extrema, no Sul de Minas. A partir da reconstituição de áreas degradadas, a cidade consegue reter as águas de chuvas, ampliando o volume que escorre para as minas. É um exemplo do Estado, que começa a se espalhar por outras regiões no País.

Outra medida que, se concretizada, deve trazer algum direcionamento é o plano de segurança hídrica em elaboração no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que deve ficar pronto em 15 meses.

Essa, aliás, é uma das medidas pleiteadas pela Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), para minorar prejuízos ao setor do agronegócio em decorrência das longas estiagens.

Esses são alguns dos pontos abordados nesta terceira reportagem do #JuntosPorMinas, projeto do DIÁRIO DO COMÉRCIO que propõe discutir desafios e gargalos que podem e precisam ser transformados em  oportunidades de crescimento, inclusão e transformação social.

Extrema: a cidade mineira que ‘planta’ água há 21 anos

No início dos anos 2000 iniciou-se na cidade de Extrema, no Sul de Minas, um movimento que, em momentos como o atual, de severa escassez hídrica, revela-se imprescindível: a conservação das águas. A reconstituição da floresta em áreas degradadas é uma espécie de seguro contra as secas e as enchentes, com as árvores ocupando áreas onde antes o capim imperava.

A iniciativa também garante um lucro médio anual de R$ 250 para 300 sítios e fazendas, que ocupam uma área de aproximadamente 20 mil hectares no município mineiro. Parece pouco, mas são R$ 75 mil injetados na economia local – e, dependendo da área recuperada, pode aumentar.

O empreendimento é relativamente simples: o proprietário rural é incentivado a fazer a reconstituição vegetal em suas propriedades, capaz de recuperar o potencial hídrico dos terrenos. Ou seja, vai plantar árvore onde existe capim. Com isso, recupera a capacidade dos terrenos em reter a água da chuva, que, depois, escorre pelas minas d’água.

A mata funciona como uma esponja, permitindo que a água penetre lentamente na terra. Assim, ela promove a recarga do lençol freático e, depois, libera essa água aos poucos nas nascentes.

Numa área de capim usada para o pasto, acontece diferente: a tendência após as chuvas é a formação de enxurradas, com o surgimento de enchentes e de erosões e, com isso, as temidas voçorocas. O plantio de árvores evitará esse problema, favorecendo a retenção da água da chuva, sem prejuízos ao terreno.

Fonte de inspiração – “Temos mananciais produzindo em torno de um litro por segundo em um momento em que atravessamos uma das piores crises hídricas dos últimos 91 anos da região Sudeste”, informou o biólogo Paulo Henrique Pereira. Especialista em gerenciamento ambiental, Pereira foi secretário do Meio Ambiente de Extrema durante quase duas décadas. É o idealizador e executor do projeto no município.

Ele explicou que o projeto, pioneiro dos produtores de água de Extrema, virou fonte de inspiração para outros lugares do Brasil. Há seis anos, o projeto deu origem a outro maior, o Conservador da Mantiqueira, que beneficia 284 municípios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

A região da Mantiqueira tem um papel importante no equilíbrio hídrico brasileiro, porque ali nascem rios como o Paraíba do Sul, que abastece a cidade do Rio de Janeiro, e o rio Grande, responsável por algumas das mais importantes hidrelétricas do País, como a de Furnas.

Somada, a área passível de reflorestamento nos municípios abrangidos pelo Conservador da Mantiqueira equivale a 1,2 milhão de hectares, algo em torno de 10% da meta do Brasil na Conferência do Clima de Paris (COP 21).

Projeto é repetido em Santa Catarina e DF

O bom exemplo em Extrema, no Sul de Minas, vem sendo seguido em outras regiões do País. Para diminuir o risco de falta de água, os municípios de Balneário Camboriú e Camboriú, em Santa Catarina, estão incentivando o pagamento por serviços ambientais sobre a tarifa cobrada dos consumidores.

O risco de escassez de água começou a diminuir quando proprietários no entorno das nascentes toparam entrar no projeto, demarcando e, em diversos casos, reconstituindo áreas com o investimento patrocinado.

No entorno de Brasília (DF), por sua vez, moradores e proprietários rurais que se beneficiam do conjunto de nascentes conhecido como Águas Emendadas, também estão participando e plantando árvores.

Como pagamento pelo serviço ambiental prestado, os produtores receberam, em cinco anos, R$ 15 mil do programa, provenientes de recursos públicos e  organizações não-governamentais (ONGs).

Fonte: DC.

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