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Saneamento NE atrai R$ 28 bi desde 2020 e projeta R$ 10 bi em 2026 (1)

Saneamento: NE atrai R$ 28 bi desde 2020 e projeta R$ 10 bi em 2026

Compesa, de Pernambuco, lidera volume contratado no Nordeste com R$ 19 bilhões. Região concentra quatro dos seis novos projetos de cprivatização de saneamento estruturados pelo BNDES.

O Nordeste consolidou, em 2025, sua posição de liderança na expansão da iniciativa privada no setor de saneamento. Levantamento da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon) e do Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon) publicado em agosto deste ano mostra que 77% dos municípios da região já firmaram contratos com metas de universalização – a maior proporção do país.

Desde 2020, foram realizados 12 leilões no Nordeste, envolvendo 403 municípios e R$ 27,9 bilhões em investimentos privados, dos quais R$ 19 bilhões correspondem à concessão parcial da Compesa, viabilizada em dezembro. Para 2026, estão previstos quatro novos projetos na região, com expectativa de atrair mais R$ 10 bilhões em aportes.

Essa expansão se sustenta em modelos regionais que agrupam municípios com diferentes perfis econômicos, viabilizando o subsídio cruzado entre localidades superavitárias e deficitárias. A estrutura contratual passou a incluir mecanismos de proteção social, como tarifas reduzidas para populações vulneráveis, e cláusulas específicas voltadas à gestão de riscos climáticos, como eventos de estiagem prolongada.

Esse conjunto de avanços tem sustentado o interesse de grandes operadores privados, inclusive em regiões com baixa cobertura atual. Na Região Norte, por exemplo, apenas 22,8% da população têm acesso à coleta e tratamento de esgoto, enquanto o índice de abastecimento com água tratada é de 60,9%.

No Nordeste, a atuação privada em esgotamento sanitário já alcança 423 municípios (23,6%) e, no abastecimento de água, 21,7% dos municípios. Entre 2019 e 2023, o número de Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) cresceu 153%, passando de 307 para 778. Entre 2020 e 2023, operadores privados no país trataram 2,5 bilhões de m³ de esgoto e expandiram as redes em 44.897 km de água e 9.576 km de esgoto, com destaque para os estados do Norte e Nordeste.

Compesa tem concessão parcial

A Compesa continua responsável pela captação e produção de água tratada, mas transferiu à iniciativa privada a operação da distribuição de água e coleta de esgoto em 175 dos 185 municípios pernambucanos. O leilão foi realizado no dia 18 de dezembro, na B3, em São Paulo, marcando o encerramento do calendário nacional de concessões do setor em 2025. Dividido em dois blocos, o certame atraiu grandes grupos do setor.

O Bloco Sertão, com 24 municípios, foi arrematado pelo Grupo Pátria, com uma proposta de R$ 720 milhões em outorga e desconto tarifário máximo. Já o Bloco Pajeú, com 151 municípios – incluindo a Região Metropolitana do Recife e Fernando de Noronha -, foi vencido pelo consórcio BRK-Acciona, que já atua em Pernambuco por meio de PPP desde 2013. As duas concessões têm duração de 35 anos e fixam metas de 99% de cobertura de abastecimento de água e 90% de esgoto até 2033.

O segundo maior certame da região em 2025 foi o leilão de integração no Piauí. A Aegea, que já operava a Águas de Teresina desde 2017, passou a controlar os serviços de saneamento em todo o estado, unificando a operação em 224 municípios sob a nova empresa Águas do Piauí. O contrato prevê 35 anos de concessão plena e investimentos superiores a R$ 5 bilhões, com foco em esgotamento sanitário e redução de perdas. A nova modelagem inclui tarifa social ampliada e cláusulas voltadas à adaptação climática.

Estados nordestinos avançam em concessões

Além de Pernambuco e Piauí, outros estados nordestinos consolidaram operadores privados. Alagoas opera desde 2020 com um modelo regionalizado em três blocos, incluindo Maceió, a Zona da Mata e o Agreste, somando mais de 1,8 milhão de pessoas atendidas. O Ceará tem concessões em três regiões urbanas — Fortaleza, Crato e Juazeiro do Norte -, todas firmadas entre 2022 e 2023 com a Aegea.

Em Sergipe, o contrato assinado em 2024 com a Iguá Saneamento abrange Aracaju e outros 73 municípios, alcançando 2,33 milhões de habitantes. O Rio Grande do Norte terá uma concessão plena em 48 municípios, com investimentos estimados em R$ 4 bilhões e atendimento a cerca de 1,85 milhão de habitantes, como parte do ciclo de projetos previstos para 2026. Bahia, Paraíba e Maranhão têm concessões parciais ou contratos em fase de reestruturação, além de projetos previstos para o mesmo ciclo.

Panorama do saneamento nordestino

Segundo dados do Painel Abcon Data, consultado em dezembro, 86 municípios (84,3%) operam sob gestão privada em Alagoas, com um projeto em andamento abrangendo 21 municípios, R$ 2,2 bilhões em investimentos e atendimento a 0,6 milhão de pessoas, todos 100% regionalizados. Na Bahia, apenas seis municípios (1,4%) têm operação privada, com um projeto envolvendo o município de Serra do Ramalho, atendido pela Águas de Serra do Ramalho Saneamento Brasil Engenharia, em contrato de concessão parcial de água iniciado em 2019, com população de 31.355 habitantes e prazo de 30 anos.

O Ceará conta com 25 municípios (13,6%) sob gestão privada e 159 públicos, com um projeto em andamento que abrange 128 municípios, R$ 6,9 bilhões em investimentos e atendimento a 1,6 milhão de habitantes. No Maranhão, seis municípios (2,8%) operam sob gestão privada, com um projeto contemplando o município de Bom Jesus das Selvas, atendido pela concessionária Hidro Forte Saneamento – Norte Saneamento, em concessão plena iniciada em 2022, com população aproximada de 35,6 mil habitantes e abrangência 100% regionalizada.

Na Paraíba, há apenas um município (0,4%) com operação privada, Santa Rita, atendido pela Águas do Nordeste S.A., em contrato de concessão plena iniciado em 2019, com prazo de 30 anos e população beneficiada de 126.383 habitantes.

Em Pernambuco, 175 municípios (94,6%) estarão sob gestão privada, enquanto 10 permanecerão públicos, todos com 100% de regionalização. O Piauí apresenta 224 municípios (100%) sob operação privada, totalmente regionalizados. No Rio Grande do Norte, a concessão plena abrangerá 48 municípios, com cerca de 1,85 milhão de habitantes e investimentos estimados em R$ 4 bilhões, com metas de ampliação da rede, redução de perdas e universalização até 2033. Em Sergipe, 74 municípios (98,7%) têm gestão privada, com 100% de regionalização.

Próximos projetos nordestinos em estruturação

Dos seis grandes projetos em estruturação com apoio do BNDES em todo o país, quatro estão concentrados no Nordeste, reunindo 383 municípios e previsão de mais R$ 10 bilhões em investimentos privados – o que representa 66% do total nacional de municípios envolvidos e quase 20% do volume de aportes previstos, estimado em R$ 52 bilhões. A maioria dos estudos já passou pela fase de consulta pública e tem edital previsto para o segundo semestre de 2026.

Na Paraíba, a proposta em análise é uma PPP voltada à coleta e ao tratamento de esgoto em 93 municípios, concentrados em regiões de maior adensamento populacional, com atendimento previsto para 2,29 milhões de pessoas e aportes estimados em R$ 3,45 bilhões.

Em Alagoas, será lançada a quarta etapa do modelo regional implantado em 2020. O chamado Bloco D engloba 28 municípios ainda não contemplados nas rodadas anteriores, totalizando uma população de 660 mil habitantes e investimentos da ordem de R$ 1,7 bilhão.

No Maranhão, o projeto estruturado envolve 214 municípios e R$ 18,7 bilhões em aportes estimados, sendo o maior em valor e abrangência populacional entre os previstos, apesar de a publicação do edital ter sido adiada.

Perspectivas para 2026

Ao todo, o pipeline de 2026 inclui seis grandes projetos estruturados pelo BNDES e outras concessões de menor porte, totalizando cerca de R$ 27 bilhões em investimentos e 540 municípios envolvidos. Além dos estados nordestinos, há previsão de editais em Rondônia, no interior do Ceará e em Goiás. O principal destaque do ano, porém, deve ser a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), considerada estratégica para operadores de grande porte.

A Abcon/Sindcon projeta que o foco de 2026 será a expansão para regiões até então consideradas de baixo atrativo econômico, como Rondônia, consolidando a presença da iniciativa privada em áreas com menor infraestrutura pré-existente.

Fonte: Movimento Econômico


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