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Acesso a água e esgoto ainda é gargalo no Ceará

Entre as 100 maiores cidades brasileiras, Fortaleza e Caucaia ocupam a 65ª e a 72ª posições, respectivamente, no Ranking do Saneamento Básico 2018; coleta e tratamento de esgotos e abastecimento hídrico são desafios

Não somente a Capital, como também o maior município da Região Metropolitana (RMF) e segundo maior do Estado figura em colocações nada animadoras nas categorias do estudo. Conforme o levantamento, Caucaia tinha o sexto pior índice de abastecimento de água entre as 100 cidades avaliadas, com 32,6% da população ainda sem acesso a fontes do recurso potável, contra 67,4% que são atendidos. Um fator positivo, porém, aparece no número de novas ligações de água realizadas entre 2015 e 2016: um crescimento de 6,2%.

Quando o assunto é o funcionamento da rede de esgoto, Caucaia volta à conjuntura de desvantagem: de acordo com os dados fornecidos pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) ao SNIS, o atendimento total do serviço atingia pouco mais de 31%, em 2016, gerando décit de acesso a cerca de 69% da população do Município.

Procurada pela reportagem desde a última segunda-feira (28) para informar, entre outros pontos, sobre os índices referentes aos anos de 2017 e 2018, a Companhia não respondeu à demanda até o fechamento desta matéria. Em publicação do Diário do Nordeste no dia 23 de maio deste ano, porém, a Cagece informou que 40,9% dos 151 municípios cearenses assistidos contam com o sistema de esgoto instalado, o que totalizaria cerca de 59% de falta de cobertura, respectivamente, em todas essas localidades – 10% a menos do que o valor respondido somente por Caucaia em 2016.

Transtornos

Ainda conforme os dados do ranking do Trata Brasil, a rede de esgoto pública atendia 49,7% da Capital cearense, em 2016, cenário em que mais de 50% das edificações ainda não possuíam instalação adequada. Já de acordo com os números informados pela Cagece, o percentual de atendimento atual é de 62%, totalizando aproximadamente 38% de domicílios ainda sem sistema de esgoto instalado.

Na prática, ter o imóvel ligado ao sistema de coleta e tratamento de esgoto não é sinônimo de saneamento pleno – na casa da aposentada Inácia Tavares, 72, no bairro Cais do Porto, ocorre justamente o contrário. Periodicamente, a água contaminada por fezes e urina retorna do bueiro da Cagece, na rua, para dentro da residência, tornando o odor e a presença de insetos e larvas (popularmente chamadas de “tapurus”) insuportáveis. “A gente paga uma taxa cara, quase o dobro do preço da água, e precisa dormir com esse cheiro podre. Já moro aqui há mais de 30 anos e esse problema sempre existiu, mas agora tá muito mais grave”, indigna-se Inácia, que precisou se mudar temporariamente para a casa da mãe.

Segundo a aposentada, desde que o problema aconteceu de novo, recentemente, duas equipes da Companhia já foram até lá, “mas disseram que o problema deveria ser resolvido pela proprietária”. A situação já persiste há mais de duas semanas, despertando em Inácia “a vontade de pegar um balde com essa água e levar até a Cagece”, onde já foi relatar o problema e solicitar solução, sem sucesso.

A Cagece informa que a ocorrência de extravasamento de esgoto na área já foi solucionada. No local foi realizada limpeza na rede de esgotamento sanitário. Durante a execução do serviço foram encontrados materiais prejudiciais ao bom funcionamento da rede como plástico, madeira e areia. Segundo a Companhia, esse tipo de material ocasiona obstrução da rede de esgotamento, provocando o extravasamento.

Soluções 

Para o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental e coordenador do Laboratório de Saneamento (Labosan) da Universidade Federal Ceará (UFC), André Bezerra, a baixa cobertura, o subdimensionamento, a falta de manutenção e a chegada de resíduos sólidos ao sistema de esgoto da Grande Fortaleza “acabam acarretando dificuldades hidráulicas e extravasando a rede”.

“É um serviço caro para se implantar e manter, e é preciso maior celeridade na captação de recursos”, sugere o engenheiro. “As pessoas e o Estado precisam atentar à importância do saneamento básico. Estima-se que para cada R$ 1 investido em saneamento, economiza-se R$ 4 em saúde”, conclui.

Fonte: diário do nordeste

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