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Crise hídrica: fruto de má gestão e negligência

O lançamento do documento oficial de intenções do 8º Fórum Mundial da Água, em solenidade com participação do governador Rodrigo Rollemberg, ontem, apontou soluções ambientais, econômicas e sociais para a gestão de recursos hídricos no futuro.

Os painéis técnicos realizados no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, porém, bateram na tecla de que grande parte dos problemas é fruto de má gestão.

O pesquisador Ronald Arce, do Incae Business School, um instituto da Costa Rica, ressaltou, após sua apresentação, que, por natureza, as pessoas não costumam pensar em algo que exceda seu tempo de vida, portanto a gestão de um recurso outrora tão abundante como a água foi bastante negligenciada mundialmente. “Brasília foi planejada, mas ninguém percebeu como poderia haver mudanças nesse projeto. Então é preciso aprender com o que acontece”, exemplifica.

Segundo ele, questões como o crescimento urbano desordenado, uma das causas apontadas pelo Governo de Brasília como motivo da atual crise hídrica, acontecem em diversos países. Portanto, o intuito do Fórum é justamente criar uma rede de compartilhamento de ideias para aproveitar experiências bem-sucedidas.

“Israel é um grande exemplo de como gerir da maneira certa. Está no meio do deserto e eles plantam bananas e outras frutas tropicais. Toda a água é tratada, limpa e reutilizada, em um ciclo. Eles não podem se dar ao luxo de desperdiçar nada”, diz, apontando as semelhanças com o DF.

Prejuízo financeiro

Em um painel paralelo, o representante de uma empresa de saneamento do Japão, Tetsuya Takayama, lembrou ainda sobre como o desperdício de água gera prejuízo financeiro, e o DF viveu experiência nesse sentido.

Ano passado, o estádio Mané Garrincha, que ironicamente sedia uma parte do Fórum em seu estacionamento, causou prejuízo de R$ 2,2 milhões – revistos posteriormente para pouco mais de R$ 1 milhão – ao governo após desperdício de 94,2 milhões de litros de água. A justificativa oficial do Buriti foi uma ligação errada no encanamento, que ainda é apurada.

A pesquisadora da Malásia, Recca Tharmajarah, apontou que esse tipo de má gestão cria entraves para qualquer nação alcançar equilíbrio. No seu país, paga-se pouco pela água, por haver conservação e consciência coletiva a respeito. Como a mensagem acima do painel lembraram, “os principais desafios para assegurar o saneamento são governança e financiamento.”

Experiência com voluntariado

20cid4f2-1024x682Para tentar transformar o conhecimento presente no evento em algo prático, a organização incentivou o trabalho voluntário envolvendo a comunidade acadêmica. Das 45 mil pessoas previstas para passar por ali até o encerramento, na sexta-feira, mil são voluntários, entre estudantes do Ensino Médio, doutorandos e professores.

Para Magaly Vasconcelos, coordenadora da Agência Nacional de Águas (ANA) e integrante do Comitê Executivo para o Fórum, é a chance de montar um grande laboratório de ideias e aprendizado. “Colocar o aluno para aplicar o que é ensinado em aula é uma maneira de exaltar seu trabalho”, avaliou.

Estudante de curso técnico em serviços públicos e voluntária, Caroline Torres, de 23 anos, é uma prova viva. Ela ajuda no credenciamento dos voluntários, mas demonstra engajamento além de suas funções. “O evento vai ajudar na conscientização das pessoas. Com o racionamento, muitas pessoas ficam sem água. Através desse evento, acredito que as pessoas podem ver o que muitos passam com a crise e se conscientizar para cuidar melhor da água”, projeta.

Camila Oliveira, 23 anos, estudante de engenharia ambiental na Universidade de Brasília (UnB), faz um trabalho um pouco diferente da área de seu curso, mas também aproveita a expertise à disposição. “Meus estudos são voltados para água e saneamento básico e estar aqui é uma oportunidade única. Observar de perto tudo que está acontecendo é de grande conhecimento”, empolga-se.

Já Larissa Moura, 27, aluna do IFB, faz graduação de controle ambiental e conta que decidiu se voluntariar para acompanhar mais de perto assuntos voltados ao curso. A jovem recepciona os visitantes em um estande de reciclagem de garrafas PET. De acordo com ela, existe relação entre seu curso e o trabalho voluntário. “Minha área trabalha com separação de resíduos sólidos e reutilização”, explica.

Propostas

– Rollemberg já havia reforçado que em 2018 haverá o fim do racionamento e a antecipação de obras de captação. Fala repetida durante o lançamento do relatório do Fórum, na tarde de ontem.

– No mesmo embalo, o presidente Michel Temer, presente na solenidade, anunciou “o novo marco regulatório do saneamento básico”, sem, no entanto, entrar em detalhes a respeito de quando acontecerá.

– Em seu discurso, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, reiterou o compromisso da ONU em trabalhar com os pequenos países em desenvolvimento para proteger seus lençóis freáticos. Segundo ela, 90% da população mundial depende de recursos que estão em países vizinhos, portanto há riscos de mais conflitos.

Fonte: Jornal de Brasilia

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