Lixo de Wall Street
Empresas que atuam com aterros sanitários estão investindo na produção de gás de lixo e tecnologias de reciclagem.
O impulso verde dos EUA e os governos estaduais estão transformando o lixo em tesouro e impulsionando as empresas que lidam com o lixo das Américas.
Ações dos maiores players dos EUA nos negócios de lixo, gerenciamento de resíduos e serviços, negociaram em recordes desde que o presidente Biden assinou o projeto de lei climático, tributário e de saúde em agosto passado.
Apesar de um declínio recente, as ações são escolhas populares em Wall Street para aproveitar o boom da sustentabilidade.
“Eles ocupam uma posição extraordinária”, disse Michael Hoffman, analista do banco de investimentos Stifel. “O lixo estará na vanguarda.”
Esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e reutilização de materiais estão tornando mais rentável a mineração em aterros sanitários para obter energia e adequar o lixo para as commodities da economia verde, como garrafas de detergente e caixas de papelão.
A WM e a Republic estão construindo usinas para isolar o metano da fumaça emitida pelo lixo apodrecido e canalizá-lo para a rede de gás natural para ser queimado em usinas de energia, fornos e cozinhas.
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Eles também estão equipando as instalações de reciclagem com o que há de mais moderno em automação para classificar e processar melhor os materiais para as empresas de bens de consumo que estão sob pressão para manter suas embalagens fora dos aterros sanitários e dos oceanos.
Lixo de Wall Street
Os proprietários de aterros sanitários estão prevendo centenas de milhões de dólares em lucro adicional com a crescente demanda por materiais reciclados e incentivos fiscais para produzir energia a partir de emissões que, de outra forma, seriam lançadas na atmosfera.
“Somos abençoados por estarmos bem no meio de uma megatendência”, disse o presidente-executivo da Republic, Jon Vander Ark. “Costumávamos pensar em obter um crescimento de receita de 5% ao ano; agora estamos com crescimento de dois dígitos.”
A Republic, que tem 206 aterros sanitários ativos, tem uma joint venture com uma unidade da BP para instalar fábricas de gás em 43 de seus lixões.
A empresa Phoenix tem 65 usinas de gás de aterro. Alguns alimentam tubulações de serviços públicos e outros geram eletricidade no local.
A Republic também está gastando cerca de US$ 275 milhões para construir quatro instalações de processamento de polímeros que classificarão o plástico coletado na calçada e o transformarão em flocos para novas garrafas e jarros.
Vander Ark disse que as empresas de produtos de consumo enfrentam mandatos mínimos de conteúdo pós-consumo na Califórnia, Washington e outros estados, bem como suas próprias metas de sustentabilidade.
A primeira fábrica de plásticos da Republic está programada para abrir ainda este ano em Las Vegas.
“Há brigas entre os clientes sobre quem fica com o quê”, disse Vander Ark.
Analistas dizem que um risco é que aumentar a exposição a mercados voláteis de commodities e créditos de combustíveis renováveis pode assustar os investidores interessados nos lucros estáveis e previsíveis envolvidos no despejo de lixo em aterros sanitários.
Executivos dizem que os negócios de sustentabilidade são complementares e lucrativos mesmo quando os preços das commodities estão baixos, como agora.
“Sim, há um impacto ano a ano, mas a reciclagem ainda é lucrativa”, disse Tara Hemmer, diretora de sustentabilidade da WM. “Ainda é um dos nossos investimentos com maior retorno sobre o capital.”
A WM, que opera mais de 250 aterros sanitários, está no segundo ano de um plano de quatro anos para gastar US$ 1,2 bilhão adicionando 20 usinas de gás de lixo, bem como US$ 1 bilhão expandindo e automatizando seu negócio de reciclagem.
A empresa de Houston espera que instalações novas e atualizadas aumentem sua recuperação de materiais reutilizáveis em 25% até 2025.
Ter máquinas fazendo o trabalho sujo também reduz os custos de mão de obra, dizem os executivos.
“Muitos trabalhos difíceis de preencher serão substituídos por classificadores ópticos, que usam câmeras infravermelhas para identificar materiais valiosos na confusão e soprar os pedaços desejáveis em caixas separadas com sopros precisos de ar, disse Hemmer.
“No passado, podíamos ter fardos de papel misto com papelão embutido”, disse ela. “Agora podemos retirar mais desse papelão, ele vai para o fardo de papelão, e o preço do papelão é muito mais alto do que o do papel misto.”
A WM diz que o valor da commodity combinada de suas instalações automatizadas de recuperação de material é cerca de 15% maior por tonelada.
As máquinas não apenas acumulam material mais valioso como o material sai mais limpo e pode render mais do que fardos bagunçados.
Os investimentos em reciclagem adicionarão US$ 240 milhões a seus resultados nos próximos quatro anos, diz a WM. Tem expectativas mais elevadas para o seu negócio de gás.
A WM diz que aumentará em oito vezes a produção de gás de aterro e gerará mais de US$ 500 milhões em ganhos adicionais antes de juros, impostos, depreciação e amortização até 2026.
Essa previsão de lucro assume dois preços associados a cada milhão de unidades térmicas britânicas de gás.
A WM está contando com a venda real do combustível por $ 2,50, que ultimamente é quase o preço do gás dos poços geológicos. Outros US$ 23,50 são esperados de créditos de combustível renovável, o que está de acordo com as negociações recentes, de acordo com a empresa de informações sobre energia Platts.
A perspectiva não considera os US$ 250 milhões ou mais em créditos fiscais que a WM espera para a construção de novas usinas de gás.
A lei climática do ano passado adoçou a economia do gás proveniente do lixo.
Uma proposta federal para oferecer créditos adicionais para projetos de biogás que produzem energia para veículos elétricos pode tornar os incentivos ainda mais fortes.
Executivos e analistas de empresas de tratamento de resíduos dizem que vale a pena construir muitos de qualquer maneira e que os incentivos tornam econômica a instalação de fábricas de gás em aterros menores e menos gasosos.
“O gás de aterro sanitário é essencialmente o único biocombustível escalável que não tem uma troca de alimento por combustível”, disse Jerry Revich, analista do Goldman Sachs. “Esses projetos não precisam de subsídios, mas receberão o dinheiro de graça.”
Fonte: Kane Bridge.
Tradução e adaptação Flávio H. Zavarise Lemos
