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Crise Hídrica Autoridades Financeiras

Crises hídricas entram no radar das autoridades financeiras

Crise Hídrica Autoridades Financeiras

A Região Metropolitana de São Paulo volta a enfrentar a redução da pressão no abastecimento de água e potencial ameaça de racionamento.

As dimensões econômicas e sociais do problema chegaram aos bancos centrais e supervisores do setor financeiro

A repetição do drama mostra que a lição do passado não foi aprendida, apesar da realização de algumas obras desde então e do avanço do conhecimento ambiental.

As dimensões econômicas e sociais do problema chegaram aos bancos centrais e supervisores do setor financeiro. A retirada de água do sistema de abastecimento da região pela Sabesp, responsável pelo saneamento da cidade, precisou superar o volume registrado nos anos anteriores à crise hídrica de 2014.

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Com isso, os níveis atuais dos reservatórios estão similares aos de 2013, mesmo aporte obras feitas para integrar novos mananciais. Há o receio de ser necessário recorrer de novo ao “volume morto” das represas e de racionamento (Valor, 28/10). Há cerca de um mês, a Sabesp acertou a compra do controle da Empresa Metropolitana de Água e Energia, de olho na integração dos sistemas Guarapiranga e Billings, que pode garantir a segurança hídrica de São Paulo.

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Portanto o estudo “Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, feito pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a consultoria Ex Ante, prevê que os racionamentos de água podem ser mais frequentes e prolongados e se tornarem uma realidade em várias regiões do país, como resultado dos problemas climáticos, agravados pela expansão da atividade econômica e pelos desperdícios.

Segundo o estudo, a demanda por água vai aumentar em 24,9% até 2050 em consequência do aumento de 1º C que deve ocorrer até lá na temperatura máxima, em comparação aos níveis de 2023. A temperatura mínima vai subir 0,47 °C, também elevando o consumo de água. Além disso, a cada aumento de um ponto percentual na umidade relativa do ar, o consumo per capita de água crescerá mais 3,6%.

Também influencia a demanda a atividade econômica. Segundo o relatório, considerando crescimento de PIB de 2,7% ao ano e o atual índice de perdas, a demanda futura de água até 2050 exigiria o aumento de 59,3% na produção de água tratada em comparação com 2023. A oferta de água à população não deve acompanhar esse aumento da demanda. Ao contrário, deverá cair 3,4% por volta de 2050, obrigando o racionamento, que deverá durar 12 dias por ano em média. Em locais onde as chuvas já são mais escassas, como em partes do Nordeste do Centro-Oeste, a contenção poderá exceder 30 dias.

Perdas de Água

Então a redução das perdas de água por desperdícios na distribuição e furtos conseguiria diminuir a defasagem prevista para 2050 ou até suprir toda a demanda, dependendo da eficiência alcançada.

Portanto em 2023, a produção de água foi de cerca de 18 bilhões de m3 para um consumo de 10,7 bilhões de m3, de acordo com o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico. O desperdício de água tratada ultrapassa os 7 bilhões de m3, volume superior à demanda adicional estimada de 6,4 bilhões de m3 em 2050.

Escassez Hídrica

Então a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentou uma nova dimensão para a questão hídrica, no relatório “Incorporação dos Riscos Relacionados à Água nos Marcos de Estabilidade Financeira”, de outubro. Mas o estudo menciona que o Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que os bancos centrais e supervisores financeiros no mundo todo estão apenas no início da necessária avaliação dos riscos relacionados à escassez de água, secas e enchentes que podem interromper a produção econômica e reduzir o valor ativos, gerar perdas de crédito e volatilidade nos mercados, afetando as instituições financeiras.

Contudo a experiência brasileira é tema de um box do relatório da OCDE, que detalha a iniciativa do Banco Central (BC) de determinar que as instituições financeiras avaliem e divulguem sistematicamente sua exposição a riscos ambientais, e detalhem suas práticas de gestão desse problemas, o que inclui informações sobre desmatamento, uso da água e outros fatores de impacto ambiental relativos a seus clientes.

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Uso da Água

Para a OCDE, os riscos hídricos devem fazer parte das agendas de estabilidade financeira e de supervisão; e as finanças devem ser alinha a políticas que apoiem a segurança hídrica, a proteção da natureza, e garantam o uso sustentável da água. Na avaliação do organismo, os riscos econômicos relacionados à água equivalem a 7% a 9% do PIB global, o mais alto entre os serviços ecossistêmicos.

Portanto os gráficos pluviométricos da Região Metropolitana de SP não deixam dúvida de que as chuvas estão diminuindo ano a ano. São Paulo se situa em uma latitude em que existem alguns desertos, como em parte da Austrália e no Sul da África. Mas só não está em situação crítica porque recebe a umidade do Atlântico que entra pelo norte do país, rebate nos Andes e na Floresta Amazônica e desce pelo meio do continente.

No entanto, as mudanças climáticas vêm neutralizando esses efeitos benéficos. Pois com o crescimento do consumo, da população, da atividade econômica, e continuidade das grandes perdas no abastecimento, a situação tende a piorar, exigindo uma atenção e providências contínua dos governos.

Fonte: Valor.

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