Resumo
Aterros sanitários de resíduos sólidos são a forma de disposição final adequada mais utilizada no mundo devido a suas vantagens operacionais. O processo de instalação, no entanto, exige o desenvolvimento de diversos sistemas tecnológicos a fim de garantir uma disposição de resíduos segura em termos ambientais e de saúde pública. Ainda assim, a contaminação do ambiente subterrâneo pelos produtos da degradação dos resíduos sólidos (chorume) é recorrente. Diante dessas ocorrências, é necessário investigar a área com o objetivo de encontrar as falhas nos sistemas do aterro responsáveis pela contaminação; propor projetos de remediação e monitoramento.
Este trabalho aplicou o método geofísico da eletrorresistividade em uma vala de resíduos de um aterro sanitário de pequeno porte com o intuito de diagnosticar a presença de chorume no aquífero e detectar possíveis imperfeições no sistema de impermeabilização. Adicionalmente, por meio de um monitoramento temporal do parâmetro resistividade, entender a dinâmica da geração e fluxo do chorume na área do aterro. Para tanto, o levantamento geofísico contou com 12 linhas de tomografia elétrica, adquiridas durante um período de 3 anos (2016, 2017 e 2018). Para complementar os resultados o método do potencial espontâneo foi aplicado na área no ano de 2018 com o objetivo de adicionar informações a respeito do estágio de degradação dos resíduos sólidos. Os resultados do parâmetro resistividade elétrica são apresentados em seções 2D e modelos de visualização 3D com discussões para o nível mais raso de aquisição, para o nível de instalação do sistema de impermeabilização por geomembrana de PEAD (-4m) e para o nível do aquífero (-10m).
A análise dos resultados de resistividade demonstra zonas de acúmulo de chorume em profundidade que provavelmente sugerem um fluxo vertical originado de falhas no sistema de revestimento. O aporte de água para dentro da célula de resíduos e sua consequente percolação no aquífero gerou zonas de acumulação de chorume nas fraturas das rochas adjacentes. Os dados de potencial elétrico natural permitiram a identificação de zonas oxidantes, onde os resíduos estão geoquimicamente estáveis com o meio; e zonas redutoras, que caracterizam áreas com a presença de matéria orgânica biodegradável. Os diferentes estágios de degradação dos resíduos permitem interpretar a forma de disposição dos resíduos e os processos de atenuação vigentes na área.
Os resultados são de grande relevância para estudos de áreas contaminadas, uma vez que identifica locais de falhas na impermeabilização. O monitoramento ao longo do tempo sugere os caminhos preferenciais de fluxo, os quais devem ser priorizados nos projetos de contenção de resíduos sólidos urbanos e remediação a fim de impedir a propagação da pluma de chorume no aquífero
Introdução
O gerenciamento de resíduos sólidos pode ser considerado um dos grandes desafios ambientais, econômicos e sociais da atualidade. A geração de resíduos tem acompanhado as atividades antrópicas desde o início da industrialização, entretanto, a criticidade atual do problema é caracterizada pelo grande volume de resíduos sólidos urbanos gerado por uma população que hoje chega a 7,5 bilhões de pessoas (WILLIANS, 2005).
Assim como as demais áreas do saneamento, a complexidade da prestação dos serviços públicos de coleta, transporte, tratamento e disposição dos resíduos envolvem além de conflitos políticos, dificuldades técnicas e escassez de recursos (REDDY, 2011). A pressão sobre o gerenciamento de resíduos é ainda maior tendo em vista que o resíduo é o mais visível e perceptível dos problemas ambientais nas áreas urbanas.
Assim como as demais áreas do saneamento, a complexidade da prestação dos serviços públicos de coleta, transporte, tratamento e disposição dos resíduos envolvem além de conflitos políticos, dificuldades técnicas e escassez de recursos (REDDY, 2011). A pressão sobre o gerenciamento de resíduos é ainda maior tendo em vista que o resíduo é o mais visível e perceptível dos problemas ambientais nas áreas urbanas.
O encaminhamento de 55% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados para aterros sanitários é uma conquista importante quando considerado o histórico de disposição em locais inapropriados, sem qualquer proteção ambiental ou preocupação social (BRASIL, 2018; IPEA, 2012). Os aterros sanitários são empreendimentos que envolvem o armazenamento e isolamento dos resíduos no solo em locais distantes de grandes centros urbanos e com sistemas de controle ambiental adequado para que ocorra a degradação natural dos resíduos (TCHOBANOGLUS & KREITH, 2002).
A preferência mundial pela disposição final em aterros sanitários é devida principalmente aos benefícios operacionais e financeiros. Quando comparado a outras técnicas, os aterros apresentam o menor custo de investimento e operação. O grande diferencial, entretanto, é a simplicidade na operação e a possibilidade de receber diferentes tipos e volumes de resíduos sem prejudicar sua eficiência (HUNG et al.,2014).
Apesar das claras vantagens, os aterros não permitem o aproveitamento imediato dos resíduos, demandam grandes áreas de implantação e a operação está sujeita a variações climáticas que interferem nos processos de decomposição. Além disso, apesar de serem projetados baseado em critérios técnicos rigorosos, alguns problemas são comuns aos aterros sanitários, entre eles, a contaminação do solo e das águas subterrâneas por chorume, produto da decomposição dos resíduos (CHRISTENSEN, 2011; DEUBLEIN & STEINHAUSER, 2011).
Os casos de aterros sanitários de pequeno porte que contaminaram o ambiente subterrâneo são recorrentes, ocasionados muitas vezes pela implantação do aterro em áreas vulneráveis, pela operação inadequada ou por falhas nos sistemas de impermeabilização e sistema de coleta e tratamento de chorume.