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greenTalks Sustentabilidade de Embalagens

greenTalks entrevista Bruno Pereira, CEO da Ecopopuli, sobre sustentabilidade de embalagens

greenTalks Sustentabilidade de Embalagens

Por: Eleni Gritzapis

O segundo episódio da temporada 2024 do videocast greenTalks – uma iniciativa pioneira entre a green4T e NEO MONDO para discutir o papel fundamental da tecnologia na promoção de um futuro mais sustentável – tem como entrevistado especial Bruno Pereira, Especialista em Sustentabilidade Positiva, Líder do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) e CEO da Ecopopuli.

Primeiramente, nesta entrevista, Bruno Pereira fala sobre a sustentabilidade de embalagens e esclarece os mitos e greenwashing que cercam o tema. Ele também conta como porque acredita na embalagem como ferramenta de transformação.

Confira os principais trechos da entrevista e assista a íntegra abaixo:

greenTalks Sustentabilidade de Embalagens

(greenTalks) – Vamos começar com uma pergunta que é sempre polêmica: as embalagens de plástico sempre são prejudiciais ao meio ambiente?  Para sermos sustentáveis, temos que abolir os plásticos de nossa vida?

O mundo que queremos, que comporta 10 bilhões de pessoas com qualidade de vida, com saúde, com segurança, ele precisa de plástico. Não dá para ter essa quantidade de gente no planeta abrindo mão dessa tecnologia. É é lógico que o plástico precisa mudar, ele não é perfeito, precisa evoluir. Mas não é uma evolução oportunista, não é só a reciclagem que vai endereçar este problema. Tem que haver uma evolução estratégica planejada, ao longo das décadas, para mudar a fonte do petróleo, mudar o destino, garantir que o plástico não vai parar no meio ambiente e que ele sempre seja bem gerenciado. Aí vamos ter o mundo ideal, em que aproveitamos os benefícios do plástico, não precisamos de petróleo e protegemos o meio ambiente.

(greenTalks) – Bruno, ainda nos temas polêmicos, você falou que é uma solução que vai levar décadas e que só reciclar não basta. E muitos falam de embalagem biodegradável. A embalagem biodegradável é a solução perfeita para a questão das embalagens de plástico?

Não é. Temos que tomar muito cuidado com apelo popular de palavras como reciclável, biodegradável e outras. Elas são ferramentas. Se uma embalagem biodegrada quando não precisa, solta CO2 para atmosfera e contribui para o efeito estufa sem necessidade. Uma embalagem reciclada de forma inadequada também traz impactos, porque a reciclagem é uma atividade industrial.

Biodegradável e reciclagem são ferramentas que devem ser consideradas tendo a Ciência como base. Deve ser feita uma análise técnica para o que conjunto produto + embalagem + tecnologias de hoje faça sentido.
E o consumidor precisa ser envolvido e orientado, não de forma populista. A embalagem foi desenhada para ser reciclável? Faça isso. Ela foi reciclada para ser biodegradável? Faça isso.

É preciso tomar cuidado para não reforçar esses mitos na comunicação. Biodegradável e reciclagem são ferramentas que devem ser usadas de forma técnica e não como sinônimo de sustentabilidade.

(greenTalks) – Você promove um conceito muito interessante, que é o da Sustentabilidade Positiva. Você pode nos explicar do que se trata?

A sustentabilidade positiva parte do princípio que para um produto ser mais sustentável, ele tem que ser irresistível. Ou seja, para o consumidor, o mais sustentável tem que ser o mais legal, tem que ser o mais econômico, com menor custo; para as empresas, tem que ser o que vai trazer mais prosperidade. Às vezes parece difícil, não é? Mas vamos tomar como exemplo a bicicleta elétrica: quem a adota para ir para o trabalho, não está fazendo apenas porque é sustentável. A pessoa sai do trânsito, economiza no estacionamento e combustível, vai melhorar a saúde… A sustentabilidade é consequência.

Então, a sustentabilidade positiva é quando reinventamos os processos; não é melhorar um pouquinho um processo ou produto, não é buscar um pouquinho menos de impacto. Sustentabilidade positiva é reinvenção de processos e produtos. E ela é irreversível.

(greenTalks) – Por que você acredita que as embalagens são ferramenta de transformação?

A embalagem é uma parte pequena do impacto de uma cadeia, mas ela tem uma função enorme de apresentar novos produtos para o consumidor. Então, quando vamos no mercado, descobrimos novos produtos, e é a embalagem que mostra que tem algo novo. Ela pode trazer um produto mais sustentável e explicar como isso traz impacto na prática. E, mais importante, ela pode encantar o consumidor para uma nova forma de consumir.

A embalagem tem um poder enorme de transformação. Mas isso tem que vir com responsabilidade por parte dos fabricantes, caso contrário ela vai conduzir o consumidor a acreditar em coisas que não são verdade, isso é greenwashing. E quando é revelado que aquilo não é o melhor e nem o mais sustentável, tira a confiança e frustra o consumidor. A embalagem tem um poder de transformação que, muitas vezes, nem percebemos o quanto é grande e quanto tem que ser bem utilizado.

(greenTalks) – Quando falamos de sustentabilidade, falamos também de durabilidade e segurança, que são os principais papéis da embalagem, sem contar sua atuação como ferramenta de marketing. Quantas vezes vamos no mercado e escolhemos um produto por conta da comunicação visual da embalagem… Na sua experiência tão grande em tecnologias sustentáveis, quais são as ferramentas tecnológicas para promover a sustentabilidade nas embalagens e como endereçar a equação durabilidade, segurança e sustentabilidade?

Por incrível que pareça, o entrave não é tecnológico. É até frustrante, às vezes, porque para cada passo para frente em tecnologia de sustentabilidade, são dois para trás, num oportunismo de usar a sustentabilidade para tentar destruir um concorrente. A sustentabilidade não é uma arma para destruir concorrente, ela é uma arma para trazer prosperidade para todo mundo.

E quando falamos de tecnologias, o que eu vejo como grande oportunidade é aplicar o conhecimento primeiro de forma honesta. No mercado de embalagens, temos que olhar cadeias e categorias para garantir a sustentabilidade: produtos para banho, limpeza pessoal, limpeza de casa, alimentos etc. Depois de avaliada a aplicação do produto, temos que fazer uma análise de ciclo de vida e criar um plano de transição para endereçar eventuais gaps (lacunas) de sustentabilidade. É uma combinação de tecnologia com planos estratégicos de transição. Tecnologia não falta. Se a gente não inventasse nada em tecnologia, com as que já temos disponíveis hoje já dava para melhorar muito.

(greenTalks) – Podemos esperar que o custo das embalagens sustentáveis diminua à medida que a tecnologia avança, o chamado premium dos produtos sustentáveis?

A questão do premium tem que ser um grande alerta, porque sustentabilidade é fazer mais com menos. E fazer mais com menos é menos trabalho, menos recurso. É estranho custar mais… Se alguém fala que o produto é sustentável e custa duas vezes mais, temos que suspeitar. Às vezes é um custo que está para a sociedade, não no preço, então é necessário corrigir o modelo, trazer essas externalidades para dentro do preço. Se algo é mais sustentável, por definição, tem que custar menos para a sociedade. De novo, se alguém diz que o produto é mais sustentável, mas custa duas vezes mais, então me explica porque que é mais sustentável, porque provavelmente não é.

Fonte: Neo Mondo

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