saneamento basico

Influência do uso da terra na qualidade da água em bacias hidrográficas com usos distintos, em Jataí-GO e Canapolis – MG

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Resumo

Partimos da hipótese de que o modelo de uso da terra, presente nas áreas das bacias hidrográficas ribeirão Paraíso-GO e córrego Cerrado/Cadunga-MG, vem proporcionando mudanças significativas na qualidade das águas das mesmas, as quais recebem sedimentos e nutrientes provenientes de fatores naturais e antrópicos. Neste sentido objetivo geral, diagnosticar a qualidade das águas em relação ao modelo de modelo de uso da terra e características físicas das bacias. Os métodos utilizados na pesquisa seguiram os procedimentos da American Public Health Association (APHA), legislação CONAMA nº 357/2005 (água superficial) e portaria do Ministério da Saúde 2914/2011 (água potável). Ao se comparar os aspectos geológicos das duas bacias, verificou-se que as mesmas se diferenciam pela presença das areias inconsolidadas na parte superior do ribeirão Paraíso. Em relação aos solos, ambas distinguem-se pela presença dos Cambissolos no ribeirão Paraíso e se assemelham em relação à presença de solos com características hidromórficas. Os estudos de uso da terra entre 2005 a 2015 demonstraram o desaparecimento gradativo do bioma Cerrado, principalmente na bacia do córrego Cerrado/Cadunga. A região da bacia hidrográfica do ribeirão Paraíso apresentou maior potencial erosivo nas áreas de formação Vale do Rio do Peixe, assim como córrego Cerrado/Cadunga. Os teores de metais pesados nos solos identificados nos diferentes pontos amostrais revelam contaminações pontuais, principalmente ligadas ao uso da terra. No geral, os resultados dos sedimentos do córrego Cerrado/Cadunga mostraram que a distribuição dos elementos tem como principal contribuição a área urbana e o lançamento efluentes domésticos e industriais na rede de drenagem, e para os solos, as atividades agropastoris. Para a bacia do ribeirão Paraíso, a maior influência esteve ligada às atividades agrícolas, com destaque para a cana-de-açúcar. Dos metais pesados encontrados em ambas as bacias analisadas, o que demanda uma maior atenção, tanto nos sedimentos quanto nos solos, é o cádmio. Em relação ao enquadramento dos corpos d’água, constatou-se que o ribeirão Paraíso e o córrego Cerrado/Cadunga se enquadraram em todas as campanhas amostrais nas classes III e IV da Resolução CONAMA nº 357/2005, pois as variáveis Fósforo, Cádmio e Cobre apresentaram valores superiores aos estabelecido pela referida Resolução. Conforme o enquadramento dos corpos hídricos de ambas as bacias, as mesmas podem ser utilizadas para abastecimento humano, após tratamento convencional ou avançado, à irrigação, pesca amadora, à recreação e, ainda, dessedentação de animais. Nesse sentido, concluiu-se que o uso da terra apresentado em ambas as bacias, em razão do uso de agroquímicos, oferecem riscos à qualidade da água, tanto quanto o lançamento de efluentes domésticos e industriais, uma vez que as bacias avaliadas apresentaram alterações nos mesmos parâmetros avaliados.[/vc_column_text][vc_column_text]

Introdução

A questão ambiental está inserida nos paradigmas da sociedade moderna, principalmente nas últimas décadas, ocupando importante espaço no cenário político, econômico, social, científico e até mesmo no cultural, entre todas as nações. Com o desenvolvimento tecnológico e o crescimento demográfico mundial intensificaram-se as atividades industriais, agrícolas, o extrativismo mineral e a urbanização, o que gerou e vem ocasionando considerável aumento dos níveis de contaminação no ambiente, especialmente no solo e na água.

Vivemos em uma sociedade em contínuo crescimento, acrescida do forte incentivo do sistema capitalista, com uma política econômica que incita os altos investimentos em produção sem o devido planejamento ambiental. A civilização moderna, tem percebido a natureza como algo separado do humano, com uma concepção de mundo em que fatos e fenômenos se apresentam de forma fragmentada, desconexa, considerando a natureza como fonte de recursos inesgotáveis. Neste contexto, vive-se em um ambiente em que a natureza se encontra degradada. Mas, devido à preocupação com a escassez dos recursos, bem como com a degradação gerada pelas formas de produção modernas, emerge a questão ambiental.

As atitudes e atividades humanas não respeitam critérios ou limites físicos, como geológicos, pedológicos ou de bacias hidrográficas. Há também o fato de dados censitários, de infraestrutura e estatísticos dar-se por município ou estados, o que pode dificultar ainda mais a definição de uma área para planejamento. Mesmo com tais limitações, a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento é de aceitação universal, uma vez que ela é um sistema natural, bem delimitado no espaço e de fácil caracterização, onde interações, no mínimo físicas, estão integradas (CARMO e SILVA, 2010).

De forma complementar, as bacias hidrográficas e os recursos hídricos podem ser subdivididos em unidades menores (sub-bacia e microbacia), o que facilita, por razões técnicas e estratégicas, o seu planejamento. As bacias hidrográficas possuem significativa importância nestas discussões ambientais, pois possuem diversos usos econômicos e sociais. Para garantir a qualidade ambiental das bacias, são necessárias diversas medidas para disciplinar o uso e ocupação (SANTOS, 2004).

Neste sentido, torna-se de suma importância o conhecimento do uso da terra em bacias hidrográficas como referencial nas tomadas de decisões para formulação de políticas públicas que visem à preservação dos recursos hídricos e gestão territorial.

A ocupação antrópica das terras através de usos múltiplos indica a complexidade e dificuldade na elaboração de propostas para a gestão territorial, tanto em nível local como regional. Especificamente, o uso da terra destaca-se por afetar diretamente a qualidade dos solos e, consequentemente, das águas, que têm sido objeto de interesse de instituições e órgãos governamentais voltados ao planejamento e à adoção de políticas agrícolas viáveis ao desenvolvimento e que não se traduzam em agressão ambiental (PINTO e GARCIA, 2005).

Sendo assim, pode-se afirmar que o modelo atual do uso da terra das bacias hidrográficas são os principais responsáveis pela degradação da qualidade da água. Partindo deste princípio, torna-se de suma importância estabelecer políticas para gestão das águas, priorizando a preservação, qualidade e quantidade, fazendo-se necessário o uso racional e consciente na utilização dos recursos hídricos para garantir a manutenção e interação do ciclo da água, solo e do clima. Neste sentido, é possível reconhecer que a água é um bem público e constitui um direito humano, sendo fundamental à vida (SANTOS, 2004).

O presente estudo propôs analisar duas bacias hidrográficas: a bacia do ribeirão Paraíso, em Jataí-GO, e a do córrego do Cerrado, também conhecido como Cadunga, em Canápolis-MG. As referidas são contribuintes da bacia hidrográfica do rio Paranaíba, ambos pertencentes a bacia hidrográfica do rio Paraná.

A escolha das bacias deu-se em virtude dos usos múltiplos apresentados por ambas, em que se objetivou analisar a qualidade das águas, levando em consideração as características físicas e os diferentes modelos de usos e ocupação e os possíveis impactos antrópicos existentes em ambas as bacias.

O município de Jataí-GO é considerado a capital estadual na produção de grãos, um dos maiores produtores de milho e sorgo do Brasil, o quinto em nível nacional, na produção de soja com 1.164,913 toneladas colhidas em 2007. A partir do ano de 2008, a cana-de-açúcar passou a ter grande representatividade na produção agrícola do município, superando a produção de soja (FRANCO E ASSUNÇÃO 2011).

O município de Canápolis-MG é considerado um dos maiores produtores de abacaxi do Estado de Minas Gerais, cuja economia do município engloba também a produção de soja, cana-de-açúcar e pecuária, possui ainda dentro dos limites da bacia hidrográfica, área urbana, industrias, cemitério e Usina de Triagem e Compostagem (UTC), a qual encontrava-se desativada, operando apenas como lixão.

Além dos passivos ambientais presentes nestes municípios como, por exemplo, cemitérios e lixões, as práticas agrícolas são o principal problema, face a utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes na atividade agropecuária. Nesta perspectiva, o  Brasil destaca-se desde a década de 1970, como um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, fertilizantes e, principalmente de herbicidas (MATA e FERREIRA, 2013).

A maioria dos fertilizantes de acordo com sua origem pode conter diversos tipos de metais que podem ser considerados como micronutrientes ou metais tóxicos. Esses elementos, quando aplicados no solo, podem persistir por vários anos, e rapidamente estar disponíveis para as plantas, com alto potencial de acumulação nos solos e de fácil mobilidade para a água através do processo de lixiviação (LIMA e SANTOS, 2012).

A água tem sido o foco das atenções mundiais nos últimos anos, provocando diversas discussões sobre a utilização dos recursos hídricos. Tal preocupação é devida ao fato destes recursos estarem ligados a impactos ambientais, como ocupação indevida do solo, uso indiscriminado da água, desmatamento de matas ciliares, sedimentação, assoreamento, construção de barragens, desvios de cursos d’água, erosão, salinização, contaminação, impermeabilização, compactação, diminuição da matéria orgânica e etc., as quais têm contribuído para o desaparecimento de rios e lagos (ARAÚJO et al., 2009).

A água é essencial para a garantia da qualidade de vida, para a produção agropecuária e industrial, prestação de serviços e para todas as atividades humanas, nos mais diferentes ambientes, sendo, por isso, identificadora da qualidade ambiental de um ecossistema, pois é a principal ligação entre os componentes de uma região ou bacia hidrográfica. Apesar da legislação ambiental e os órgãos de proteção ambiental se esforçarem, a poluição dos rios e do lençol freático é constante e, em alguns casos, decorrentes do passado e muitas vezes irreversíveis.

Devido ao caráter solvente e a capacidade de transportar partículas, a água incorpora a si diversas impurezas, definindo assim sua qualidade. Dessa forma, a qualidade da água é determinada em função do uso e da ocupação do solo nas bacias hidrográficas. O monitoramento da qualidade das águas no Brasil é baseado na Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) n° 357/2005, que dispõe sobre padrões específicos, enquadrando os corpos de água em níveis de qualidade a fim de atender às necessidades da comunidade, bem como à saúde e ao bem-estar, ao equilíbrio ecológico e aquático.

A bacia hidrográfica do Ribeirão Paraíso, em Jataí-GO possuía em seus limites geográficos a presença de um aterro controlado, atividades agrícolas (plantações de soja, milho, sorgo, silvicultura e cana-de-açúcar) e pecuária. A bacia hidrográfica do Córrego Cerrado/Cadunga, em Canápolis-MG possuía em seus limites, além de área urbana e cemitério usina de triagem e de compostagem (UTC), zona urbana, indústrias de  processamento de abacaxi, atividades agrícolas (plantações de abacaxi, cana-de-açúcar e soja) e pecuária.

Partindo-se da hipótese de que a qualidade da água de uma bacia hidrográfica está diretamente relacionada com o grau de equilíbrio entre fatores naturais e antrópicos (VON SPERLING 2005). O objetivo geral desta pesquisa foi investigar qual modelo de uso da terra proporciona maior impacto e alteração na qualidade das águas.

A fim de se obter resposta ao objetivo proposto, foram usados os métodos da American Public Health Association (APHA) para análise das amostras coletadas nos cursos d’água e solos das bacias. Ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) foram utilizadas para delimitação da área de influência e para geração de mapas de uso da terra. Parâmetros limnológicos importantes, que influenciam a qualidade da água para consumo humano e irrigação, foram avaliados e comparados com os limites permitidos pela legislação CONAMA e do Ministério da Saúde. A técnica de estatística de correlação linear foi utilizada para verificar a influência dos parâmetros sobre a qualidade das águas.

A tese foi dividida em partes para que se tenha uma visão do tema abordado e o que foi feito para se atingir o objetivo proposto. Na primeira parte apresenta-se a introdução e justificativa do trabalho, na segunda a revisão de literatura que embasaram o desenvolvimento da pesquisa, os quais priorizam os temas considerados de interesses indispensáveis.

A terceira parte traz a localização e caracterização física das áreas de estudo, apresentando as bacias hidrográficas, pois os fenômenos ocorridos dentro de uma bacia hidrográfica, sejam eles de origem natural ou antrópica, interferem na dinâmica do sistema, principalmente na quantidade e qualidade dos cursos de água (VON SPERLING 2005). Neste sentido, torna-se de suma importância o conhecimento das variáveis tais como: geologia, geomorfologia, solo, hipsometria, declividade, clima, entre outros, as quais permitem compreender a dinâmica e interação entre tais variáveis.

A quarta parte apresenta as metodologias utilizadas para a coleta de dados e os procedimentos empregados nas análises dos dados para geração dos resultados. A quinta aborda os resultados e discussão, dividida em 5 subitens: 5.1 a avaliação espaço-temporal com relação ao uso da terra, com intuito de compreender as transformações ocorridas ao longo dos anos entre 2005 a 2015, cuja pesquisa para cada bacia foi realizada separadamente.

No subitem 5.2 Avaliação, distribuição e a influência das chuvas sobre os processos erosivos em ambas as bacias. Analisou-se a intensidade pluviométrica e a erosividade pela relevância que estas proporcionam em termos de perda de solos, através do escoamento superficial, especialmente por se tratarem de áreas de alta produção agrícola, com regimes pluviométricos altos, como é o caso do bioma Cerrado.

No 5.3 buscou-se abordar a concentração e a distribuição dos metais pesados nos solos de ambas as bacias. Foram analisadas a distribuição e a concentração dos elementos químicos nos solos e nos sedimentos de fundo dos cursos d’água, tendo como parâmetro referencial os valores máximos permitidos na Resolução CONAMA nº 454/2012 para solos e a resolução CONAMA nº 420/2009 para sedimentos.

Na 5.4, o enquadramento dos corpos hídricos, onde são apresentados os resultados das análises físico-químicas das águas das bacias. Realizaram-se medidas sazonais (em quatro períodos distintos) dos parâmetros físico-químicos da água, objetivando verificar possíveis padrões ou alterações, com ênfase nas interações e intervenções antrópicas presentes, analisadas estatisticamente.

O 5.5, apresenta as análises de correlações das variáveis limnológicas, validando-as a partir do teste t-student, com intuito de verificar o grau de associação linear entre as variáveis, as quais permitiram identificar entre os parâmetros avaliados as relações existentes ao nível de 95% de significância. E por fim a sexta e última parte, em que se trata das conclusões apresentadas.

 

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Autora: Simone Marques Faria Lopes.

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