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Lodo têxtil: revisão sistemática de métodos de tratamento e potencial uso como insumo combustível de caldeira

Resumo

A cadeia produtiva têxtil representa hoje em dia, 5% do PIB nacional, dando ao Brasil a posição de quinto maior produtor têxtil do mundo. Nos processos decorrentes do processamento de fibras têxteis há geração de efluentes têxteis e resíduos sólidos, que devem passar por tratamentos adequados pela legislação, antes do seu descarte, gerando diferentes lodos. O presente trabalho pretendeu identificar os tratamentos específicos do lodo gerado pela indústria têxtil, bem como suas aplicações, por meio de uma revisão sistemática. Foram levantados sessenta estudos publicados, sobretudo em periódicos, no período entre 2000 e 2018. Constatou-se que 35 artigos científicos se referiam aos diversos tratamentos de lodo têxtil, sendo que a estabilização e redução química foram as mais abordadas. Sobre as possíveis aplicações para o lodo têxtil, foram encontrados 25 artigos científicos, sendo a construção civil a mais abordada para esse assunto. Um estudo exploratório de uma empresa de beneficiamento têxtil brasileira também foi realizado a fim de verificar a viabilidade técnica do lodo têxtil, em ser transformado em insumo combustível de caldeira. O lodo de uma indústria têxtil foi amostrado e sua composição físico-química determinada, para fins de avaliação exploratória. O caráter de combustibilidade do lodo é dependente da composição do material, a qual deve apresentar matéria orgânica em maior proporção aos demais componentes químicos.

Introdução

A indústria têxtil foi uma das pioneiras no processo de industrialização do Brasil, desenvolvendo-se a partir do século XIX (ALMEIDA, 2012). Hoje, a indústria têxtil representa cerca de 5% do PIB nacional, dando ao Brasil a quinta posição de maior produtor têxtil do mundo. O país possui o quarto maior parque industrial do mundo, é autossuficiente na produção da principal matéria-prima (algodão), terceiro principal produtor de malha e o segundo maior produtor de Denim (COGO, 2011 e ALMEIDA, 2012). A indústria têxtil é uma das maiores geradoras de efluentes líquidos, dentre diversas áreas industriais, com consumo estimado de 150 litros de água para produção de um quilo de tecido (LEÃO et. al., 2002).

A cadeia produtiva têxtil tem basicamente quatros processos: fiação, tecelagem/malharia, beneficiamento e confecção. Em cada um dos processos há geração de efluentes têxteis e resíduos sólidos específicos, que devem passar por tratamentos adequados antes do seu descarte.

De modo geral, os efluentes têxteis são tratados por processos físicos, químicos e biológicos convencionais, os quais apresentam bons resultados na redução da concentração da matéria orgânica, porém tem como inconveniente a alta produção de lodo (AVELAR, 2012). O lodo consiste em um corpo semissólido constituído por, aproximadamente, 95% de água e 5% de sólidos.

O tratamento e o gerenciamento dos resíduos industriais são imprescindíveis, pois proporcionam benefícios econômicos e ambientais, uma vez que, favorecem a venda de materiais dotados de valor comercial para a reciclagem, minimizando assim, a disposição inadequada dos mesmos na natureza e consequentemente os impactos ambientais. As indústrias de confecção têxtil que buscam gerar menos resíduos por meio do aprimoramento de seus processos produtivos tornam-se mais eficientes e competitivas, um exemplo de uma gestão ambiental dentro da indústria seria a aplicação de um programa baseado na produção mais limpa (DEBASTIANI e MACHADO, 2012).

Entende-se por desenvolvimento sustentável, aquele que atende as necessidades da geração atual sem comprometer o direito das futuras em satisfazer as suas próprias necessidades. Neste contexto, a P+L consolida-se como uma ferramenta extremamente útil para a promoção do desenvolvimento sustentável, pois, se por um lado, aumenta a eficiência dos processos produtivos, melhorando a competitividade das organizações, por outro, racionaliza o consumo de recursos naturais e reduz a geração de resíduos (DEBASTIANI e MACHADO, 2012).

Desta forma, buscam-se alternativas viáveis sob o ponto de vista econômico e ambiental para os lodos, dentro dos conceitos de produção mais limpa e economia circular. Como por exemplo, adição de lodo têxtil e cinzas de lenha em argamassas de cimento Portland (LELOUP, 2013), utilização de lodo têxtil em pavimentos rodoviários (OLIVEIRA, 2014), reaproveitamento para uso florestal (ROSA, 2004), entre outros usos.

Neste cenário, este trabalho visou sistematizar e avaliar métodos de tratamento de lodos da indústria têxtil, identificando composição, processo gerador e principais usos. Paralelamente, foi realizada uma avaliação exploratória de viabilidade técnica de transformar lodo têxtil em insumo combustível de caldeira de uma empresa brasileira de beneficiamento têxtil.

Autores: Mariana Medeiros Martins Balota; Cláudia Echevenguá Teixeira; Luciano Zanella e Mauro Silva Ruiz.

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