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O mundo invisível dos mananciais: as cianobactérias e o trabalho do departamento de recursos hídricos metropolitanos da Sabesp

Resumo

Apesar da ocorrência de cianobactérias em mananciais ser natural, elas podem se reproduzir de maneira exagerada, causando um desequilíbrio. O objetivo do presente estudo é apresentar o trabalho de monitoramento e mitigação desses possíveis impactos realizado Departamento de Recursos Hídricos Metropolitanos (MAR) da SABESP. Para a análise hidrobiológica, as amostras são preparadas a partir de água natural de cada reservatório, sem utilização de preservação ou conservantes, coletadas em pontos de monitoramento estratégicos dos mananciais da RMSP. A análise da água bruta é realizada por hidrobiólogos, profissionais capacitados que fazem a identificação e contagem das cianobactérias. Os resultados são avaliados de acordo com a legislação vigente. Em alguns casos, após avaliação dos resultados das análises, pode ser necessária a intervenção com algicidas, sendo os principais o sulfato de cobre e o peróxido de hidrogênio. A aplicação desses produtos químicos segue um protocolo interno rigoroso, além de atender a legislação. Assim, embora as cianobactérias estejam presentes em todos os mananciais da RMSP, o MAR desenvolve um trabalho por meio do monitoramento, ações de manejo, além de estudos e reuniões periódicas, que garante a qualidade da água.

Introdução

A presença de organismos vivos invisíveis a olho nu nos corpos de água é natural e sempre existiu. Ao longo de sua evolução, alguns grupos de bactérias desenvolveram a capacidade de realizar fotossíntese, dentre os quais, destacam-se as cianobactérias, também conhecidas como cianofíceas e “algas azuis”, nome dado porque oprimeiro desses organismos encontrado possuía tal coloração. No entanto, podemos encontrar cianobactériascom as mais diversas cores. Sua coloração é conseguida pela presença de diferentes pigmentos, tais como “clorofila a” e “clorofila b” (conferem cor esverdeada), ficoeritrina (confere cor avermelhada) e ficocianina (confere cor azulada) (SANT’ANNA, 2006).

Em relação à organização, as cianobactérias podem viver isoladamente ou formar colônias filamentosas ou globulosas, às vezes envoltas por uma bainha mucilaginosa ou de gelatina (PEZZI, 2010). Alguns filamentos chegam a atingir centímetros de comprimento e podem se locomover por deslizamento. Esses seres, para fazer fotossíntese e, assim, produzir seu próprio alimento, necessitam de água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz (SILVA JÚNIOR, 2013).

Apesar de até hoje serem chamadas popularmente de algas, esse é um termo inadequado, pois, embora as cianobactérias sejam organismos fotossintetizantes que se assemelham às algas unicelulares, possuem características celulares procariontes, como as bactérias comuns. As algas são seres mais complexos, com um núcleo celular rodeado por uma membrana e organelas membranosas (organismos eucariontes) (LOPES,2013).

As cianobactérias são encontradas em diversos habitats, como água salobra ou marinha, neve, deserto, camadas internas do solo, entre pelos de animais, inclusive em condições extremas como fontes termais de altas temperaturas. Entretanto, a maioria das cianobactérias é de água doce, constituindo o plâncton ou formando camadas escuras junto aos sedimentos do fundo dos corpos d’água (PEZZI, 2010).

Em condições ideais com aumento de nitrogênio e fósforo, elevação das temperaturas e disponibilidade de luz (insolação), as cianobactérias podem reproduzir-se de maneira exagerada, causando as famosas florações, ou bloom (SILVA JÚNIOR, 2013). Essas florações estão relacionadas com o processo chamado de eutrofização, que pode ser natural ou antrópico. O processo natural acontece espontânea e lentamente, pois os mananciais recebem continuamente nutrientes. Quando o processo de eutrofização é acelerado pela ação humana e tem como causa a presença de efluentes e dejetos nas águas, acúmulo de lixo, uso de fertilizantes, poluição difusa carregada pelas águas das chuvas, diz-se que houve eutrofização antrópica ou artificial.

As florações podem conferir gosto e odor à água. Essas alterações são causadas devido a compostos orgânicos produzidos pelas cianobactérias, tais como a geosmina e o metilisoborneol (MIB). Eventualmente, pode ocorrer a liberação de cianotoxinas (SANT’ANNA, 2006). Além disso, a alta densidade de cianobactérias pode também interferir no processo de tratamento de água de uma ETA, como na etapa de filtração.

Diante disto, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) avançou nos estudos sobre a qualidade da água nas represas e nos seus tributários, passando a realizar um monitoramento mais preciso da presença de cianobactérias nos corpos d’água. A observação contínua e de modo repetitivo desses organismos, quantificando e qualificando sua presença em cada um dos mananciais da RMSP, é que permite determinar a ação de manejo adequada a cada situação.

Autores: Renata Harumi Muniz dos Santos; Priscila Roberta Barreto; e Adilson Macedo.

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