Microplástico: Um problema macro

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego após analisarem a distribuição global e a concentração de microfibras em amostras de água de todo o mundo, elaboraram uma técnica para coletar amostras de ar em grandes altitudes ao redor do mundo para uma possível identificação de microfibras na atmosfera.

Para a realização desse trabalho, o autor Deheyn diz que a melhor ciência às vezes envolve uma tecnologia mais simples, nesse caso o uso de uma fita dupla face. O pesquisador conta que esse tipo de amostragem nunca havia sido feita anteriormente.

O estudo foi feito a partir de uma fita colada na parte externa de um avião. A cada vez que o piloto pousava era feita a remoção da fita. A mesma era fechada dentro de um pacote e era substituída por uma nova fita antes de próxima decolagem. O pacote era enviado aos pesquisadores para uma posterior análise. Ao olhar por um microscópio, Deheyn encontrou o que estava procurando: microfibras grudadas nas fitas. Ele aponta que muitas vezes a quantidade de microfibras encontradas pode não ser um número absoluto, mas ao menos evidenciará sobre quais tipos de partículas são encontradas na atmosfera.

As microfibras são um subconjunto de microplásticos, ou seja, pequenos pedaços de materiais derivados de petróleo que se partem de pedaços maiores de plástico e são menores que 5 mm. A poluição por plástico e seus impactos no ambiente vêm sendo notícia no mundo todo. Os mais conhecidos são os plásticos usados diariamente como: saco plástico do supermercado, garrafa de água, peças de carro ou de móveis, canudos, isto é, os materiais conhecidos como macroplásticos. Esse material quando descartado no meio ambiente tem um processo de degradação lento e, embora passem anos, esses macroplásticos sofrem intemperismo e podem ser transformados em pedaços cada vez menores.

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Os microplásticos uma vez no ambiente, pode entrar facilmente na cadeia alimentar e afetar o bem-estar do ecossistema. Seus efeitos ainda não são totalmente compreendidos, embora seja amplamente aceito pelos pesquisadores que seu impacto seja negativo. Isso é citado pelo fato da difícil remoção de todo esse material do ambiente, ou pelo menos, pelo conhecimento da tecnologia até hoje que faça a sua remoção em tão grande escala.

O fim de uma guerra, o início de uma era.

Estudos revelam que o aumento de plásticos acumulados no ambiente foi a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Esse aumento está relacionado com o crescimento na taxa de produção de plástico em todo o mundo. Jenni Brandon e sua equipe de pesquisa observou que desde a década de 40 a quantidade de plásticos microscópicos dobrou a cada 15 anos, mas isso pode estar relacionado ao aumento da população costeira da Califórnia (área de estudo) durante o mesmo período.

O trabalho de Brandon é o primeiro que examina o acúmulo de plástico ao longo do tempo em um determinado local. Isso ofereceu aos pesquisadores a oportunidade de entender e tentar resolver em detalhes os problemas gerados pela poluição de plástico nos oceanos.

Obtendo os números certos

A equipe de pesquisa de Brandon não se limitou em apenas identificar plástico no ambiente. Identificaram também que invertebrados marinhos estavam ingerindo mini-microplásticos. E embora não seja surpresa que esses organismos estivessem comendo plástico, Brandon ficou surpreso com o grande volume de microplásticos que antes eram perdidos: cerca de um milhão de vezes mais do que se pensava anteriormente.

Analisando amostras de água do mar, Brandon encontrou alguns dos mais pequenos microplásticos na água do mar de superfície em concentrações muito mais elevadas do que as medidas anteriormente. O seu método revelou que a maneira tradicional de contar os microplásticos marinhos estava provavelmente perdendo as menores partículas.

Em média, Brandon estima que o oceano está contaminado por 8,3 milhões de peças de mini-microplásticos por m3 de água. Estudos anteriores medindo pedaços maiores de plástico encontraram apenas 10 pedaços por m3.

O melhor caminho a seguir

Presas por uma corda e submersas debaixo d’água, amostras de plástico estão se degradando lentamente. O experimento pertence a dois laboratórios diferentes, mas têm o mesmo objetivo: entender como os plásticos se degradam.

O primeiro experimento está sendo feito por Deheyn e pela pesquisadora de pós-doutorado Royer. Eles estão monitorando microfibras à base de petróleo e celulose (fibra de madeira). Deheyn não planejou inicialmente estudar microplásticos e ele é especialista em biofluorescência. Mas ele notou materiais estranhos brilhando em suas amostras. A princípio pensou que eram apenas arranhões nas lentes, mas descobriu que eram realmente microfibras.

A observação de Deheyn de poluentes fluorescentes levou a novas oportunidades. Ele e pesquisadores da Escola de Engenharia da Universidade da Califórnia em San Diego têm usado a fluorescência para desenvolver novas tecnologias para detectar microplásticos filtrados a partir de amostras de água.

Identificação de microplásticos

A técnica desenvolvida pela estudante de engenharia Jessica Sandoval, é chamada de Identificador Automático de Microplásticos. O protocolo visa substituir a contagem manual pelo olho por processos de automação que identificam as fibras. Sandoval desenvolveu um software para quantificar o plástico em cada filtro e também gerar informações sobre suas características usando o reconhecimento de imagem. Ela diz “com essas tecnologias, podemos processar amostras com mais facilidade em todo o mundo e gerar uma melhor compreensão da distribuição dos microplásticos”.

Deheyn está usando essa tecnologia para analisar amostras de água que foram coletadas na década de 1970. Essas amostras são analisadas quanto à sua concentração de microfibras para determinar como as quantidades dessa poluição mudaram ao longo do tempo. Esta pesquisa também mostrará quais tipos de fibras são as menos biodegradáveis e, em que período nos últimos 50 anos, essa poluição plástica em particular se tornou perceptível.

O segundo experimento é com plásticos pós-consumo, como garrafas de água e copos de iogurte e estão acumulando micróbios marinhos. Esses organismos ajudam a quebrar o plástico, e o oceanógrafo Jeff Bowman, faz parte de um grupo que trabalha para entender como e quais micróbios são mais importantes.

A cada dois meses uma nova turma da Universidade Nacional visitam e verificam o plástico submerso e usam os dados para atividades do curso. Bowman e outros cientistas aproveitam para ensinar sobre microbiologia marinha e educam sobre a poluição de plástico. Mais tarde, os alunos da pós-graduação realizam análises mais detalhadas das amostras para criar uma biblioteca de sequências genéticas de bactérias que se acumulam nos plásticos oceânicos. Eles esperam aprender mais sobre a capacidade da comunidade microbiana marinha de degradar plásticos e como esse entendimento pode ser aplicado para degradar plásticos em escala industrial.

“O plástico oceânico é um enorme desafio ambiental, mas também apresenta uma oportunidade educacional única”, disse Bowman. “Os estudantes de graduação ouvem sobre plásticos oceânicos nas notícias e podem ver o problema quando visitam as praias locais. Somos capazes de alavancar isso para construir uma compreensão do papel dos micróbios no sistema marinho e como os micróbios podem fazer parte das grandes soluções ambientais deste século. ”
Mesmo com um grande enfoque da literatura a pesquisas voltadas a esse tópico, os cientistas enfatizam que ainda temos muito a aprender sobre os efeitos dos microplásticos no meio ambiente e, finalmente, em nós. Dadas as manchetes alegando que em breve haverá mais plástico no oceano do que peixe, é uma pesquisa que a comunidade científica e a sociedade em geral estão ansiosas para explorar.

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“Este é apenas o começo do nosso entendimento sobre a ‘biologia dos plásticos’. Eles estão por toda parte, no ar que respiramos, na água que bebemos, nos alimentos que comemos ”, disse Deheyn. “Então, precisamos aprender a conviver com eles ao nosso redor e dentro de nós. No entanto, enquanto as questões científicas fundamentais estão sendo trabalhadas, a questão-chave como sociedade permanece pouco abordada: por que continuamos fabricando materiais que não se degradam e que se acumulam em excesso que prejudicam todo nosso ecossistema?

Texto adaptado por Renata Mafra

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Fonte: Water Online

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