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Monitoramento da qualidade da água em tempo quase real: uma alternativa para a gestão de recursos hídricos

Resumo

A dificuldade que se tem em promover uma adequada gestão da qualidade dos recursos hídricos tem como uma das causas a escassez de dados, seja espacial ou temporalmente. Os programas de monitoramento da qualidade da água convencionais possuem uma taxa de amostragem baixa, que em muitos casos se resume a algumas amostras por ano. Na busca por tornar as séries históricas de qualidade da água mais densas e representativas, desenvolvem-se técnicas de monitoramento automatizado, com equipamentos fixos em campo, coleta de dados automática e envio em tempo real. Embora estas técnicas tornem as séries históricas muito mais representativas e possibilitem uma tomada de decisão em tempo hábil para o gestor, elas ainda não estão consolidadas e possuem uma série de obstáculos na sua utilização, como o alto custo, as dificuldades de instalação dos equipamentos em campo, e a manutenção e calibração dispendiosas. Uma alternativa seria o chamado monitoramento da qualidade da água em tempo quase real (MQATQR), no qual um operador vai até o curso d’água portando o sensor, que pode ser uma sonda multiparamétrica, faz as leituras com uma frequência maior que o monitoramento convencional, e vai até uma base onde possa enviar esta informação. Com um mesmo aparelho pode ser feita a cobertura de um grande número de pontos e o equipamento pode ter sua calibração controlada em laboratório. Nesse contexto, o objetivo desta tese é avaliar a efetividade e o impacto econômico da utilização de uma estratégia de MQATQR como ferramenta de geração de dados de qualidade da água em um cenário de escassez de dados. Para isso foram utilizadas séries históricas de pontos de monitoramento da qualidade da água em tempo real no Brasil, Canadá e EUA. Estas séries foram submetidas à análise espectral para identificação das frequências mais densas e da representatividade delas dentro das séries. Os valores das frequências obtidos foram relacionados com atributos físicos e hidrológicos das bacias hidrográficas dos pontos de monitoramento. Para obtenção dos intervalos de amostragem foi aplicado o teorema de Nyquist-Shannon. A avaliação da viabilidade econômica da estratégia foi feita com dois estudos de caso, um é a aplicação na Rede Hidrometeorológica Nacional de Referência e o outro a aplicação no âmbito dos empreendimentos hidrelétricos sujeitos à resolução conjunta ANA/ANEEL nº 03/2010. Foi possível observar uma boa relação entre as frequências de amostragem e a área das bacias, possibilitando a prescrição de diferentes tipos de MQATQR para diferentes tipos de bacia. Os intervalos de amostragem obtidos por meio das frequências características em geral se mostraram executáveis nos moldes do MQATQR até a permanência de frequência de 90%. Para as permanências maiores que 90% os intervalos se aproximam do diário, sendo mais aconselhável a utilização de estratégias em tempo real. A estratégia de MQATQR se mostrou com melhor custo-efetividade para a maioria dos programas de monitoramento quando se utilizam permanências de frequências inferiores a 65%. Para permanências maiores que 65% a estratégia se mostrou economicamente viável para programas de monitoramento cujos pontos de amostragem estão próximos à base de operação. A estratégia de MQATQR se mostra como alternativa efetiva para o aumento da densidade temporal dos dados para diversos tipos de programas de monitoramento, com exceção daqueles que exigem o acompanhamento das variações bruscas na qualidade da água, como sistemas de alerta de qualidade da água.

Introdução

A maneira como o homem estabelece a sua relação com o meio ambiente pode sujeitalo em maior ou menor grau aos efeitos dos fenômenos da natureza, e muitas das necessidades humanas são supridas pelo uso dos recursos naturais. Essas duas constantes fizeram com que o homem, em seu processo evolutivo, desenvolvesse especial interesse em conhecer a dinâmica dos fenômenos da natureza.

Com os recursos hídricos não foi diferente. As demandas pelo uso da água fizeram com que o homem criasse e aprimorasse técnicas para monitorar a quantidade e a qualidade da água, de modo que os dados gerados pudessem embasar as decisões nas áreas de gestão, engenharia e ambiental.

Para os usos quantitativos, ou seja, aqueles que vão derivar, extrair, desviar a água de um curso ou alterar o seu regime, a disponibilidade de dados é mais farta, mesmo ainda não sendo suficiente. As redes de monitoramento pluviométrico e fluviométrico com frequência temporal diária já operam em muitos pontos no Brasil, com séries históricas representativas para um grande número de bacias hidrográficas (ANA, 2007).

Todavia, quando se trata de dados de qualidade da água, a densidade temporal disponível nos pontos onde há monitoramento é muito baixa, não fornecendo uma base sólida para o apoio à gestão do uso. Muitas vezes essa deficiência acaba forçando os órgãos do poder público a utilizar apenas critérios quantitativos para questões que envolvem a qualidade da água. Um exemplo disso são os processos de outorga de lançamento de efluentes onde, muitas vezes pela falta de dados, se considera apenas a capacidade de diluição de cargas de um determinado volume, não levando em consideração as características qualitativas daquele rio e dos processos que nele ocorrem.

Tudo isso acaba gerando uma perspectiva pessimista da gestão dos recursos hídricos, que é o gerenciamento do que não se conhece. Diante da identificação da necessidade de medidas de controle para os recursos hídricos, o caminho natural deveria ser a implementação de programas de monitoramento robustos, para com isso obter os dados necessários, suficientes e confiáveis. De posse dos dados seriam realizados estudos, e a partir destes estudos, criados métodos a serem aplicados na gestão.

Autor: REGIS LEANDRO LOPES DA SILVA.

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