saneamento basico

Remoção dos compostos odoríferos geosmina e 2-metilisoborneol de águas de abastecimento através de processos de aeração em cascata, dessorção por ar e nanofiltração

Resumo

 

Atividades humanas aceleram o processo natural de eutrofização das águas, favorecendo a floração de algas e cianobactérias. Estes organismos emitem os compostos 2-metilisoborneol (MIB) e geosmina, que conferem gosto e odor de mofo e terra à água. A presença destes compostos se estende à água potável uma vez que os processos convencionais de tratamento são insuficientes para removê-los. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar alternativas de processos de tratamento para a remoção de MIB e geosmina da água. Os processos estudados foram aeração em cascata, dessorção por ar e nanofiltração. Os resultados sugerem a possibilidade de remoção quase total de MIB e geosmina da água através do sistema de nanofiltração, enquanto que os processos baseados em aeração e dessorção foram relativamente ineficientes.

 

Introdução

 

As atividades humanas têm contribuído para o comprometimento de grande parte dos ecossistemas aquáticos do Brasil (REBOUÇAS; BRAGA; TUNDISI, 2006) e do mundo (UNEP GEMS, 2008). Um dos principais impactos é a eutrofização das águas, estimulada pelos aportes de nitrogênio e fósforo trazidos por fontes pontuais e difusas de poluição (TUNDISI; TUNDISI, 2008). Ambientes eutrofizados favorecem eventos de florações de algas e cianobactérias, as quais produzem, entre outros, os compostos odoríferos 2-metilisoborneol (MIB) e trans-1,10-dimetil-trans-9-decalol (geosmina). Estes compostos conferem gosto e odor de terra e mofo à água, sendo detectados a concentrações bastante baixas, da ordem de 10 ng.L-1 (YOUNG et al., 1996). Eventualmente, a água potável distribuída apresenta gosto e odor ofensivos devido à presença de MIB e geosmina, uma vez que estes compostos são pouco removidos pelos processos convencionais de tratamento (HOEHN; MALLEAVIALLE, 1995; SRINIVASAN; SORIAL, 2011). Por exemplo, nos primeiros meses do ano de 2004, o lago Guaíba, em Porto Alegre, experimentou uma floração intensa da cianobactéria Planktothrix mougeotii. As concentrações de MIB nas águas bruta e potável chegaram a 1.985 ng.L-1 e 838 ng.L-1, respectivamente (BENDATI et al., 2005). Nesta ocasião, a água distribuída
apresentava gosto e odor fortes, dando origem a inúmeras reclamações por parte dos consumidores.

Em geral, os consumidores avaliam a qualidade da água potável através das percepções sensoriais de gosto, odor e cor (DORIA, 2010). Uma água segura do ponto de vista químico e microbiológico será reprovada pelos consumidores se sua aparência for desagradável, estimulando o consumo de fontes alternativas, como água engarrafada (McGUIRRE, 1995), ou não seguras do ponto de vista sanitário (THOMPSON et al., 2007).

Os órgãos reguladores da qualidade da água potável consideram gosto e odor como um problema estético, não afetando diretamente a saúde. Isto se reflete nos padrões de potabilidade estabelecidos por diversos países. No Brasil, gosto e odor enquadram-se na categoria de padrões de aceitação, sendo seu valor máximo permitido descrito pela expressão “não objetável” (BRASIL, 2004). Alguns autores argumentam que gosto e odor têm um efeito indireto sobre a saúde. Por exemplo, Jardine, Gibson e Hrudey (1999) afirmam que água de gosto desagradável pode causar efeitos psicossomáticos, como dores de cabeça, estresse e náusea, afetando particularmente aos grupos mais vulneráveis da população.

Os métodos mais usados para remoção de MIB e geosmina são adsorção e oxidação (JUNG; BAEK; YU, 2004). Especialmente em águas de abastecimento com problemas sazonais de gosto e odor, carvão ativado pulverizado (CAP) é o método preferido por sua flexibilidade. Marchetto e Ferreira Filho (2005) concluíram que a aplicação de CAP, antes ou depois do coagulante, não afeta a eficiência da adsorção. Contudo, recomendam a aplicação antes do coagulante de modo a permitir que as partículas de carvão sejam incorporadas aos flocos que serão removidos no decantador. Trabalhando com água destilada artificialmente contaminada com MIB e geosmina, Juliano (2010) obteve remoções superiores a 96% para ambos contaminantes, usando carvão de coco e dosagem de 30 mg.L-1. Contudo, sabe-se que a presença de matéria orgânica natural diminui a capacidade de adsorção pela competição com os sítios livres do carvão. Em testes com quatro diferentes tipos de águas, Cook, Newcomb e Sztajnbok (2001) observaram maior adsorção de geosmina em comparação a MIB em todos os ensaios. Os autores atribuíram o fenômeno à menor solubilidade e maior peso molecular da geosmina. Drikas, Dixon e Morran (2009) observaram concentrações não detectáveis de MIB e geosmina em ensaios usando cinco filtros de carvão ativado granular (CAG), para concentrações afluentes entre 50 e 200 ng.L-1. Isto foi observado mesmo com água bruta contendo concentrações variáveis de matéria orgânica dissolvida.

Autores: Michely Zat e Antonio D. Benetti

 

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