saneamento basico

Percepção ambiental dos moradores das comunidades de Ratones e lagoa do Peri, Ilha de Santa Catarina

Resumo

A falta de saneamento básico está ligada ao crescimento populacional desconexo de políticas públicas. Este trabalho, desenvolvido entre julho de 2015 e julho de 2016, teve como objetivo avaliar as percepções de ribeirinhos sobre a situação de corpos d’água nas localidades do Rio Ratones e da Lagoa do Peri em Florianópolis, ilha de Santa Catarina. Foram entrevistados 51 moradores ao total. Os moradores de Ratones conheciam um maior número de rios da ilha e relataram abastecimento direto de suas residências por corpos d’água superficiais. Na comunidade da Lagoa do Peri a maioria das residências são abastecidas pela rede pública. Ambas as comunidades realizam filtragem intradomiciliar da água, consideram suas matas ciliares degradadas, a chuva importante para os ecossistemas e relataram falta de tratamento de esgoto. Conclui-se que os moradores apresentam uma visão ambiental antropocêntrica, onde os moradores interpretam o meio ambiente como um espaço desconexo ao homem.

Introdução

A Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) se configura como um mosaico heterogêneo de comunidades ribeirinhas decorrentes de seus perfis ocupacionais e históricos diversos, e vem sofrendo nas últimas décadas um crescimento populacional significativo desvinculado de políticas públicas efetivas quanto ao abastecimento de água e saneamento básico para as novas comunidades (FUSVERK, 2002).

Várias residências encontram-se desligadas da rede pública de abastecimento de água, e seus moradores acabam recorrendo a alternativas como mananciais superficiais e subterrâneos, embora estes sejam desprovidos de tratamento de água. Nesse panorama, outros problemas socioambientais acabam por ser tornar recorrentes, tais como: degradação de matas ciliares, proliferação de doenças de veiculação hídrica, falta de tratamento de esgoto, poluição de mananciais tanto superficiais quanto subterrâneos e diminuição da pesca artesanal (CAPELLESO, 2011; MARTUCCI, 2004).

Bairros e/ou comunidades representam uma interessante alternativa para a análise de significados e valores que diferentes sujeitos atribuem a fenômenos socioambientais que ocorrem ao seu redor. Peterson (1999, apud HOFFEL et al. 2004) avalia que as visões de sujeitos sobre os meios aos quais estão inseridos são definidas com base em variados e particulares parâmetros pessoais, históricos e culturais, e que o reconhecimento destas diferenças pelo pesquisador pode auxiliar seus estudos. Assim, para se inferir sobre uso e preservação de mananciais e como moradores interpretam os recursos hídricos de suas localidades, deve-se buscar a análise de suas percepções ambientais (MELAZO, 2005).

Diante do heterogêneo mosaico de comunidades presentes na Ilha de Santa Catarina foram selecionadas duas distintas localidades, o bairro Ratones e a comunidade da Lagoa do Peri. O bairro Ratones (27°30’55.5″S 48°29’37.5″W), emancipado em 1934, está localizado no noroeste da Ilha de Santa Catarina, sendo colonizado a partir de um porto, existente no rio homônimo. Fidélis (1998) relata que, em 1938, o Rio Ratones possuía aproximadamente 16,34 quilômetros (km) de extensão, profundidade média de 2 metros (m) e 15 m de largura, já em dados de 1978, esses relatam que o rio teve sua extensão diminuída para 12,46 km, profundidade média de 1 m, no entanto, houve um aumento de sua largura superior a 20 metros no leito principal. Ao longo das últimas décadas, os cursos d’água da localidade sofreram intensa degradação, seja em tempos passados pela agricultura e pecuária, quanto atualmente pela ocupação desordenada. Isto resulta no fato de que grande parte de seu curso já não são mais navegáveis. O bairro possui uma área estimada em 33,12 km², não se comunica com o oceano, detém uma população estimada em 2.801 moradores (IBGE, 2010) constituída, em sua maioria, por nativos (descentes de Açorianos, índios e negros) e poucos imigrantes. Encontra-se em uma região de fácil acesso geográfico e tem como foco econômico a agricultura e comércio local.

Já a comunidade da Lagoa do Peri (27°44’00.1″S 48°30’47.5″W) está localizada ao sul da porção insular do município de Florianópolis, representa o maior manancial de água doce do litoral catarinense, com área superficial de 5,1 km². Nesta região, encontra-se o Parque Municipal da Lagoa do Peri, que possui 2.030 hectares de unidade de conservação, e segundo dados da Floram de 1998, conta com 707 moradores (PEREIRA, 2001). A localidade apresenta uma população heterogênea: desde pescadores, pequenos agricultores, comerciantes a promotores de turismo. O nível da lagoa não é afetado pelas oscilações da maré, pois encontra-se a aproximadamente 3 m acima do nível do mar. Os principais rios formadores da lagoa são o Cachoeira Grande e o Ribeirão Grande, sendo que a lagoa costumava desaguar no rio Sangradouro. A localidade de entorno à Lagoa do Peri pode ser considerada como uma região menos desenvolvida economicamente que o bairro Ratones (PÊGAS-FILHO E TIRLONI, 2009).

O objetivo deste trabalho foi analisar as percepções de moradores ribeirinhos sobre a situação dos corpos d’água e possíveis usos da água nas comunidades de Ratones e Lagoa do Peri, ambas localizadas na Ilha de Santa Catarina.

Autores: Otávio da Silva Custódio e Nei Kavaguichi Leite.

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