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Reaproveitamento de resíduos sólidos no Brasil

Iniciativa busca soluções para o reaproveitamento de resíduos sólidos no Brasil

Reaproveitamento de resíduos sólidos no Brasil

Por Julia Valeri

Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil é um dos países que mais geram lixo urbano no mundo. Entretanto, estima-se que apenas 4% desse lixo seja reciclado. Sendo assim, o país perde cerca de R$ 14 bilhões por ano pelo não reaproveitamento dos resíduos.

Denominado CCD Circula, a iniciativa que inclui participação da USP une instituições para o gerenciamento, tecnologia e educação na busca de soluções para combater os impactos do lixo urbano

Para solucionar os problemas de resíduos sólidos e incrementar a reciclagem do lixo urbano no Brasil foi criado o Centro de Ciências para o Desenvolvimento de Soluções para Resíduos Pós-Consumo, Embalagens e Consumos (CCD Circula). Centro esse coordenado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) em Campinas em parceria com uma rede de instituições, entre elas a USP.

O DNA do projeto, segundo a professora Vivian Lara dos Santos Silva, professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) de Pirassununga da USP e integrante da CCD, é fomentar redes interdisciplinares e de multistakeholders (partes interessadas) com o propósito de atacar um problema real da sociedade.

“O foco do CCD Circula é partir de um problema social e usar a ciência de maneira articulada com o mercado, para discutir soluções tecnocientíficas para a geração e produção de resíduos sólidos.”

Vivian afirma também que o enfoque do CCD Circula é o ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis. Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU) em forma de Agenda que deve ser implementada até 2030.

Conjunto de ações

A diretora do Ital, Eloisa Elena Correia Garcia, explica que a CCD Circula atua em cinco plataformas (P1 a P5) distintas e complementares.

A princípio, ela diz que a abordagem será a questão da circularidade. Assim, a primeira plataforma (P1) é responsável pela gestão e inovação para a economia circular nas organizações e cadeias, o que ela chama de logística reversa.

“A Logística Reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos”, explica Eloisa.

A P2, ou segunda plataforma, assume a tarefa da mitigação do impacto de resíduos orgânicos. Ou seja, a busca por soluções que reduzam os resíduos orgânicos que possuem impactos no solo devido ao seu destino a aterros sanitários.

Voltada ao Design, Materiais e Tecnologias Inovadoras, a P3 é encarregada de reconstituir o design dos materiais de embalagens, para prevenção da poluição do pós-consumo.

A P4 está direcionada às tecnologias para reúso e reciclagem.

A última plataforma, ou P5, se refere à educação, ações voltadas para a gestão do resíduo sólido. Nesta quinta plataforma, Eloisa propõe um trabalho horizontal, que envolve as escolas, os jovens, os consumidores e os empresários. “É atacar o problema em seu centro, em sua base, é educar e conscientizar todos. Entretanto, a ideia é buscar ativamente soluções para enfrentar os desafios presentes nessas cinco perspectivas fundamentais.”

Inicialmente o projeto é voltado para o Estado de São Paulo. Apesar disso, Eloisa acredita que, ao concentrar esforços nas soluções para o Estado paulista, será possível contribuir significativamente para a redução desses problemas que afetam todo o Brasil. “Para atingir o objetivo central de redução de resíduos sólidos, é essencial o apoio das academias, dos institutos de pesquisa e das empresas envolvidas nessas questões.”

Problema persistente

A relação do lixo com o homem nem sempre foi uma problemática, embora tenha sempre existido. Os povos pré-históricos já queimavam resíduos e depositavam ossos e cinzas em locais predeterminados. Eles faziam isso a fim de evitar o mau cheiro e a contaminação. Porém o marco da mudança da dinâmica na relação entre homem e lixo deve-se à cultura do consumo em massa, na década de 1950. As nuances gradativas de aumento do consumo em massa gerou o aumento dos resíduos sólidos urbanos.

Não se sabe ao certo qual foi o primeiro ato de reciclagem, mas constam que foram feitos de formas individuais. Os aterros sanitários aparecem em relatos de civilizações antigas, como os hindus. Os israelitas também já tinham preocupações com os descartes dos excrementos. Até mesmo na Idade Média algumas cidades na Itália também tinham regras que proibiam o descarte de lixo nas ruas.

Mas o conceito de reciclar surge somente em 1950, para caracterizar elementos que podem retornar ao seu estado original, por meio de mudanças em seu estado físico, físico-químico ou biológico, para que se torne novamente matéria-prima e, posteriormente, um novo produto. “Se o lixo é um problema, a reciclagem decerto é a solução. Seu principal objetivo é minimizar os impactos que os resíduos sólidos podem gerar ao meio ambiente“, afirma Eloisa. Segundo a diretora do Ital, a reciclagem dos resíduos coletados pelas municipalidades é pequena.

“O Brasil produz em torno de 78 milhões de toneladas de lixo todo ano. Desse total em torno de 32% é resíduo de embalagem e mais de 50% é resíduo de alimentos. A reciclagem é desigual e a proporção varia de Estado para Estado e de região para região.”

De acordo com dados do Movimento Recicla Sampa, iniciativa das concessionárias de coleta de resíduos domiciliares e de saúde da capital paulista, com apoio institucional da Prefeitura de São Paulo, dos programas municipais de reciclagem em 2019, 81% estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul. “A reciclagem de lixo em São Paulo desponta como a mais eficiente do País, com o equivalente a 7,5 mil toneladas por mês”, finaliza Eloisa.

Além do Ital, participam também do projeto pela USP a FZEA, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), a Escola Politécnica e o Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC).

A iniciativa tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as Universidades Estadual de Campinas (Unicamp), Estadual Paulista (Unesp), Federal de Minas Gerais (UFMG), a Escola de Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Econômico (SDE), e de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, além de várias empresas.

Fonte: Jornal da USP.

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