Resumo
O processo de erosão hídrica e o arraste dos sedimentos para os cursos d’agua é um fenômeno natural que vem sendo agravado pelas práticas inadequadas de uso, ocupação e manejo do solo, favorecendo o desenvolvimento de graves impactos ambientais, sociais e econômicos. Dentro desta perspectiva, o objetivo deste estudo foi avaliar os processos hidrossedimentológicos da Bacia Hidrográfca do Rio Quatorze, utilizando o modelo hidrológico computacional SWAT (Soil and Water Assessment Tools). Para atingir este objetivo utilizaram-se as seguintes metodologias: a) pesquisa de dados em referencial teórico específco da bacia; b) geração de banco de dados espaciais e tabulares e c) aplicação do Modelo SWAT para simulação da produção de sedimentos e do escoamento superfcial. Os resultados obtidos a partir da simulação demonstraram a influência do uso e ocupação do solo sobre o processo erosivo, sendo geradas pequenas quantidades de sedimentos em áreas cobertas por floresta e grandes quantidades em áreas cobertas pela agricultura. A topografa também influenciou na produção de sedimentos, sendo que em bacias planas a perda de solo foi inferior comparada a relevos acidentados ou áreas íngremes. De uma forma geral, apesar das restrições dos dados e da não calibração, o modelo demonstrou ser relativamente efcaz, fornecendo informações de apoio para gestão ambiental de uso, ocupação e manejo do solo, reduzindo os impactos sobre os recursos hídricos.
Introdução
Em virtude do atual crescimento econômico e consequente desenvolvimento urbano das cidades brasileiras, vêm sendo observadas modifcações constantes no uso e ocupação do solo, o que possivelmente poderá contribuir com a ocorrência de desastres naturais como inundações e deslizamento de encostas.
Segundo Tucci (2007) o processo de urbanização afeta o funcionamento do sistema natural da área a ser ocupada, alterando principalmente o regime hídrico pré-existente. Schueler (1987 apud Araujo et al., 2013) menciona que as alterações no regime hídrico ocorrem principalmente em decorrência da limpeza de terrenos, de terraplanagens e de impermeabilizações da superfície do solo.
Após a instalação da cidade, os problemas no regime hídrico tendem a se expandir. As constantes impermeabilizações provindas da construção de telhados, ruas, calçadas dentre outras, reduzem a área superfcial destinada à infltração, canalizando o fluxo hídrico em redes concentradas que facilitam a ocorrência de processos erosivos, principalmente nas margens dos rios (Araujo et al., 2013; Misra, 2011).
Klein (1985 apud Araujo et al., 2013) e Misra (2011) mencionam o aumento do volume e da vazão do escoamento superfcial, a frequente ocorrência de enchentes de elevada magnitude, a erosão e assoreamento dos canais hídricos e a variação no regime de temperatura, como consequências geradas ao sistema aquático pelo processo de urbanização.
Araujo et al. (2013) destacam ainda a importância dos fatores intensidade e duração da precipitação, rugosidade do solo, comprimento e declividade da encosta, erodibilidade natural do solo e tipo de cobertura vegetal, para o controle dos processos erosivos, sejam eles de origem hídrica ou eólica.
A cobertura do solo é o fator de maior importância no controle da erosão, pois amortece o impacto da gota d’água na superfície do solo, evitando o início do processo erosivo (Silva et al., 2007).
Lepsch (2010) afrma que a forma como o solo é manejado durante sua preparação para o cultivo influencia diretamente a sua capacidade erosiva, aumentando ou diminuindo sua resistência a erosão conforme a presença de cobertura vegetal.
Segundo Galeti (1987), Bertoni & Neto (2008), Lepsch (2010) e Ozsoy & Aksoy (2015), a erosão do tipo hídrica é considerada a erosão mais comum e de maior importância. Guerra et al. (2009) afrmam que o processo de erosão hídrica tem abrangência em quase toda a superfície terrestre, destacando-se em áreas com clima tropical, onde ocorre o agravamento do processo devido seus elevados índices pluviométricos em determinadas estações do ano.
A erosão hídrica pode ocorrer de quatro formas distintas: pelo impacto da gota da chuva (efeito splash/ splash effect), pela remoção da camada superfcial do solo (erosão laminar/ sheet erosion), pela remoção de solo por canais superfciais bem defnidos (erosão em sulcos ou ravinamento/ rill erosion) e pela remoção de solo em canais profundos (voçorocas/ gully erosion) (Bertoni & Neto, 2008; Araujo et al., 2013 e Brandy & Well, 1996).
O início do processo erosivo do solo segundo Bertoni & Neto (2008) e Guerra et al. (2009) é dado pela ação do efeito splash. Segundo Araujo et al. (2013), esse efeito consiste no desprendimento de partículas do solo devido o impacto direto da gota de chuva com o solo exposto ou coberto por uma fna lâmina de água. Carvalho (2008) complementa mencionando que o impacto gerado pela gota da chuva afeta inicialmente, a estrutura superfcial do solo exposto, facilitando o desprendimento das partículas que serão transportadas pelo escoamento superfcial.
Para Guerra et al. (2009), o efeito splash prepara as partículas do solo para o transporte superfcial, rompendo os agregados em tamanhos menores e salpicando estes em diferentes direções e distâncias. O salpicamento dessas partículas fnas ocasionará o preenchimento dos poros superfciais, compactando a superfície do terreno, reduzindo a capacidade de infltração da água e consequentemente promovendo um escoamento superfcial difuso (Guerra et al., 2009).
Segundo Lepsch (2010); Silva et al. (2007) e Brady & Well (1996), a erosão laminar é caracterizada pela remoção lenta e uniforme da camada fna da superfície irregular do solo pelo escoamento superfcial difuso. Este processo erosivo é de difícil percepção, sendo identifcado apenas pela exposição das raízes das culturas, o que normalmente é considerado um processo natural por muitos agricultores e pecuaristas (Lepsch, 2010 e Bertoni & Neto, 2008). Segundo Guerra et al. (2009), quando identifcado esse processo erosivo, as possibilidades de recuperação da área degradada são elevadas, pois o processo ainda se encontra em estágio inicial.
Autores: Jakcemara Caprario; Aline Schuck Rech; Guillermo Ney Caprario e Alexandra Rodrigues Finotti.