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Avaliação de sustentabilidade aplicada a iniciativas de compostagem e vermicompostagem de resíduos orgânicos: estudo de caso em instituições de ensino superior

Resumo

Instituições de Ensino Superior (IES) podem ser comparadas a pequenos núcleos urbanos quanto as suas interfaces sanitárias e ambientais. Diversas parcelas dos resíduos sólidos gerados nas IES possuem potencial de recuperação dentro da perspectiva da valorização de resíduos, podendo ser tratados in loco, resultando em ganhos ambientais, sociais e econômicos. A compostagem e a vermicompostagem apresentam-se como uma importante prática sustentável em tais ambientes e foi selecionada como foco para avaliação de sustentabilidade em IES. A avaliação do potencial de desvio de resíduos sólidos orgânicos dos aterros sanitários e a redução de gases de efeito estufa (GEE), comparando ao sistema convencional de manejo de resíduos, foi a estratégia metodológica aplicada para atingir os objetivos propostos. Os resultados obtidos, para um horizonte de 10 anos, indicaram que as emissões de GEE evitadas do Ifes, considerando o envio de 20,0 % dos orgânicos para a compostagem, corresponderia a 12,291 tCO2e de metano e da FSP-USP, nas condições atuais de operação, a 16,43 tCO2e de metano o que equivale a 25 e 32 barris de óleo consumidos respectivamente no mesmo período. Conclui-se que a metodologia adotada foi adequada como estratégia para avaliação de sustentabilidade aplicada, permitindo quantificar e posteriormente comunicar aos interessados os resultados da iniciativa como forma de manter o interesse em participar e garantir a sua continuidade.

Introdução

Instituições de Ensino Superior (IES), em função do seu porte e campo de atuação, desenvolvem atividades de ensino, pesquisa, extensão e de apoio operacional com potencial de geração de grandes quantidades de resíduos sólidos e efluentes líquidos e o consumo de diversos recursos naturais e efeitos negativos ao meio ambiente e a saúde.

Diversas parcelas dos resíduos sólidos gerados nas IES possuem potencial de recuperação dentro da perspectiva da valorização de resíduos, podendo ser tratados in loco como é o caso dos resíduos orgânicos. Por suas características e composição, esses resíduos favorecem a atração, alimentação e proliferação de insetos, artrópodes e roedores que desempenham função de reservatório e/ou vetores de diversas doenças (GÜNTHER, 2005).

A compostagem tem sido apresentada como uma alternativa sustentável para o gerenciamento e a reciclagem de resíduos sólidos orgânicos, resultando em produto de qualidade, conhecido como composto, que pode ser usado como complemento orgânico na agricultura (MARTÍNEZ-BLANCO et al., 2010 apud European Commission, 2009).

Haug (1993) define compostagem como a decomposição biológica e estabilização de substratos orgânicos, sob condições que permitem o desenvolvimento de temperaturas termofílicas como resultado do calor produzido biologicamente, resultando em um produto final estável, livre de patógenos e sementes de plantas e pode ser beneficamente aplicado na terra.

A promoção da compostagem da fração orgânica dos resíduos está inserida na lei federal nº 12.305/10, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2010). A alternativa de produção de composto orgânico tem sido adotada por diversas instituições do país. Por essas razões, são necessárias exaustivas e sistemáticas avaliações sobre seu desempenho ambiental, devendo ser considerados os impactos ambientais potenciais, positivos e negativos (MARTÍNEZ-BLANCO et al., 2010).

Uma possibilidade interessante para ambientes institucionais é a utilização de minhocas no processo, denominado de vermicompostagem, que aceleram a estabilização da matéria orgânica e reduzem a demanda de espaço físico, porém, são seletivas quanto as condições ambientais locais.

A compostagem, quando desenvolvida via processo aeróbio, gera baixas quantidades de metano por tonelada de resíduo orgânico em comparação com formas de tratamento anaeróbio ou disposição em aterro (INÁCIO, 2010 apud AMLINGER et al., 2008; BARTON et al., 2008; VANOTTI et al, 2009; PICKIN et al., 2002). Adicionalmente, quando desenvolvida in loco, envolve redução dos custos de gerenciamento, em especial de coleta, transporte e disposição final, minimização de impactos ambientais como a diminuição do volume de resíduos encaminhado aos aterros e lixões.

Em função da crescente preocupação com a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), diversos autores dedicaram-se a obter os fatores de emissão (EFs) da compostagem. Os fatores de emissão podem ser utilizados para avaliações ambientais, porém, é importante coletar dados quantitativos para melhorar a precisão, confiabilidade e consistência de bancos de dados e modelos (ANDERSEN et al. 2010).

O destino final da maioria dos resíduos sólidos orgânicos no Brasil, são os aterros sanitários. Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013, foram geradas 76,4 milhões de toneladas de RSU no ano em referência, das quais 69,1 milhões de toneladas foram coletadas. Desse montante coletado, 40,3 milhões de toneladas foram encaminhadas para disposição final em aterros sanitários, e 28,8 milhões de toneladas foram enviadas para lixões ou aterros controlados. Sendo que mais da metade desse montante é composto por matéria orgânica.

Apesar de ser a alternativa mais viável para o tratamento de resíduos sólidos urbanos, a degradação anaeróbia da matéria orgânica nos aterros sanitários emite grande quantidade de gases por tonelada de resíduo tratado. Considerando apenas o CH4, estima-se que o tratamento e disposição de resíduos urbanos representem 13% das emissões antropogênicas deste GEE. Os aterros sanitários são as principais fontes dessas emissões (INACIO, 2010 apud BARTON et al., 2008). Dessa forma, tratamentos alternativos, que possuam menor impacto, devem ser estudados e adotados.

Para a avaliação da sustentabilidade das iniciativas de compostagem ora apresentadas foi selecionado como foco de estudo o potencial de desvio de resíduos sólidos orgânicos dos aterros sanitários e a redução de gases de efeito estufa (GEE), comparando ao sistema convencional de manejo de resíduos.

Autores: Jacqueline R. Bringhenti; Geraldo André Rosseto Barreto; Wanda Maria Risso Gunther e Adriana Marcia Nicolau Korres.

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