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Mais de 80% dos nortistas consideram a falta de água como problema grave

Uma vez ao dia e mediante ao pagamento de R$ 50 por mês, são as condições que a dona de casa Erinete Corrêa de Oliveira, 37, tem para ter água de um poço artesiano no reservatório da casa da família. Ela mora na avenida do Turismo, no Tarumã, Zona Oeste, desde que nasceu, e nunca teve acesso à água tratada em sua residência porque as torneiras não são ligadas à rede de abastecimento da concessionária responsável pelo serviço.

Erinete e as demais famílias que moram no Tarumã não são as únicas que sofrem com a falta ou dificuldade de acesso à água potável em Manaus. Moradores de outras áreas da cidade convivem diariamente com esse problema, que é a primeira preocupação para 84% dos moradores da região Norte do Brasil, de acordo com dados de uma pesquisa inédita dos institutos Datafolha e Máquina de Pesquisa, a que A CRÍTICA teve acesso ontem.

A dona de casa e outras famílias que moram às margens do igarapé da cachoeira baixa chegaram a utilizar a água suja do igarapé para lavar roupa e até tomar banho após o governo desapropriar as casas do outro lado da rua para construção da ponte do Tarumã. “O vizinho que vendia água pra gente foi embora e não tinha outro com poço artesiano. A gente usava a água do igarapé para lavar as coisas e tomar banho e pegava água no posto de combustível para beber e fazer comida”, relatou.

Mas a água do igarapé ficou ainda mais poluída e não dava mais para ser usada, conforme Erinete, foi quando um vizinho, que mora do outro lado do igarapé, fez um poço artesiano e falou com as famílias que precisavam de água. “No início ele cobrava R$ 30, depois passou para R$ 50, ficou pesado, mas como não tem outro jeito temos que pagar. Ele liga a bomba uma vez ao dia e eu encho a caixa e mais três baldes que tenho para poder ter água o dia todo”, contou.

Em todo o País, o tema preocupa 64% da população. De acordo com o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 20% dos domicílios particulares permanentes no Brasil ainda não possuem rede geral de abastecimento de água. Na região Norte, a falta de rede geral de abastecimento de água potável atinge mais de 40% das casas.

Para os moradores da região Norte, numa lista com seis opções, a falta ou dificuldade de acesso à água própria para consumo é o problema de infraestrutura mais grave enfrentado pelos brasileiros, seguido pela ausência da rede de esgoto, com 73,9% e falta ou dificuldade de acesso a transporte público, com 52,6%. Os nortistas também são os que mais se sensibilizam com o tema da água, enquanto os moradores do Sudeste são os que menos se afetam, conforme a pesquisa.

Sem resposta
A CRÍTICA procurou a Manaus Ambiental, concessionária responsável pela distribuição de água na capital amazonense, para saber sobre a rede de abastecimento da empresa, os bairros até agora não atendidos, os desafios e projetos de expansão, mas até o fechamento desta edição a empresa não se manifestou.

Nortistas preocupados
Falta de acesso à água potável preocupa 84% dos moradores da região Norte do Brasil, de acordo com pesquisa dos institutos Datafolha e Máquina de Pesquisa. O estudo coletou a opinião de mais de 2 mil pessoas, a partir de 16 anos e de todas as classes econômicas, entre os dias 20 e 24 de outubro. As entrevistas foram presenciais e aconteceram em 178 municípios, distribuídos geograficamente pelas áreas pesquisadas.

Segundo mais grave no Brasil
Em nível nacional, o problema da “falta ou dificuldade de acesso à água própria para consumo” foi classificado como o segundo mais grave, ficando atrás apenas da “ausência de rede de esgoto”, conforme dados da pesquisa dos institutos Datafolha e Máquina de Pesquisa.

Denna Maciel, administrador
“Todo dia, a partir das 21h, nós ficamos sem água nas torneiras e o abastecimento só volta às 6h do dia seguinte. A concessionária não informa nada sobre a interrupção no abastecimento e quando ligamos para saber o que está havendo a resposta é que não estão sabendo de nada. Isso está acontecendo há mais de dois meses aqui no conjunto Ipase, na Compensa. É complicado essa situação, é um grande problema para todos nós que moramos aqui porque muitos moradores não têm caixa d’água. Como o conjunto é antigo, boa parte dos moradores tirou a caixa d’água velha e não substituiu por uma nova. A maioria depende que a água saia da torneira e este problema da falta de abastecimento a noite toda causa um grande sofrimento, principalmente para os idosos que vivem no conjunto”.

Interior vive situação pior
Se em Manaus, onde há uma concessionária responsável pela distribuição de água, o serviço é ruim para boa parte da população, no interior do Amazonas a situação é ainda mais complicada. Muitas famílias utilizam água da chuva para beber e fazer comida, visto que os desafios para o abastecimento domiciliar de água potável em comunidades rurais do Estado são grandes.

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, projetos buscam solução para o problema, mas há grandes desafios, de acordo com o assistente de mobilização Edson Carlos Gonçalves. “Há um sistema de bombeamento e abastecimento de água em fase de teste que leva água potável para uma estação, mas é experimental. É difícil levar água tratada para todas as casas porque os investimentos são maiores”, disse.

Foto: Euzivaldo Queiroz
Fonte: A Crítica

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