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Compliance? Não. Ética e Compliance!

Em 2003, quando fundei o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, o discurso corporativo era pautado pela Responsabilidade Social Empresarial (RSE). As empresas financiavam projetos de terceiros ou colocavam em prática suas próprias ações em prol da sociedade, muitas das vezes substituindo ou mesmo fazendo o papel do Estado. Desta maneira, as empresas buscavam fazer parte do seleto time das “Empresas Cidadãs”.

Naquela época era quase proibido falar em meio ambiente no mundo dos negócios e os ambientalistas eram rotulados de “ecochatos”. Anos mais tarde surgiu o conceito da ecoeficiência e, logo em seguida, chegou a vez da Sustentabilidade. Esta expressão é derivada de outra, o Desenvolvimento Sustentável, usado pela primeira vez no final dos anos 80, e mais recentemente passou a integrar a estratégia de empresas que buscam se adequar as melhores práticas para atuar de maneira Ética, socialmente responsável e ecologicamente correta.

Contudo, muitas empresas, aproveitando as novas ferramentas do marketing,pintaram tudo de green! Outras, por consumir menos papel, água e energia, passaram a acreditar que se transformaram nas rainhas da cocada preta. Doce ilusão! O Desenvolvimento Sustentável, em toda a profundidade da expressão, vai muito mais além do que discursos superficiais e atitudes verdes. E estes seriam os motivos para este movimento, esta onda, estar chegando ao fim e dando lugar a um novo frenesi corporativo: o compliance.

O compliance, impulsionado pela Lei Anticorrupção, regulamentada recentemente pelo governo federal, vem do verbo em inglês “to comply” que pode ser entendido como “cumprir e satisfazer o que foi exigido”, ou seja, uma “empresa compliance” é aquela que está “em conformidade” após se atentar e obedecer todas as Leis e regulamentos impostos a sua atividade como também suas regras e políticas internas.

Nos EUA e na Inglaterra, nações muito mais evoluídas nas questões ligadas aGovernança Corporativa, a palavra compliance vem sempre acompanhada de uma outra que complementa a expressão ideal: Ética e Compliance. E isto é mais do que evidente! A Ética é (e sempre será) muito mais importante do que o compliance e também porque este é intrínseco àquela e não o contrário.

O que deve ser exaltado, buscado e colocado em prática day by day é a Ética! Observe o caso da Siemens. Mesmo com um robusto e invejável programa global de compliance, a empresa participou de um cartel durante anos no Brasil. A decisão de relatar às autoridades o tal esquema e assinar um acordo de leniência só deve ter sido feito quando a água encobriu a boca e chegou no nariz da empresa. Desta forma, a melhor opção foi se valer dos benefícios legais.

Portanto, isto tem que ficar bem claro para o mercado: uma empresa que se autointitula ou mesmo que é reconhecida por seus Stakeholders como uma empresa compliance não necessariamente é uma “Empresa Ética”, pois, poderá estar 100% em conformidade, mas esconder debaixo do tapete ações antiéticas. Mas, umaEmpresa Ética é, naturalmente, uma Empresa Responsável, Sustentável e Compliance!

Que as empresas busquem o reconhecimento público por ser uma Empresa Ética e nada mais… Este será o maior e melhor prêmio que uma empresa poderá conquistar!

 

Autor
Douglas Flinto

Douglas Flinto é diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios

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