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As formas de construir revelam nossa cultura

Roger Scruton (2017), no seu livro “A alma do mundo”, traz algumas ideias interessantes para refletirmos sobre a ocupação atual das cidades.

Ele fala sobre a importância do lugar sagrado na cidade, constantemente presente na história da humanidade. Vemos esse elemento presente na antiga cultura grega, nos romanos, etruscos, bem como na Índia.

O autor afirma que a origem dessas crenças em comum não são explicadas pelos arqueólogos e antropólogos de forma única. Mas se recorrermos à filosofia da história para buscar pistas, ela nos dirá que essas crenças estão diretamente relacionadas com a necessidade da vida humana, por isso não estão limitadas ao tempo ou ao espaço, mas caminham junto com a humanidade, desde que conectada à sua essência.

Scruton comenta que a corrupção da terra e o vandalismo nos incitam a uma desolação, que não compreenderemos se não reconhecermos uma memória mais profunda no nosso coração que nos explica esse sentimento. Ele continua fazendo menção às novas formas de arquitetura, que tratam os edifícios como instrumentos, da mesma forma como fazemos com os seres humanos. Caímos no hábito de ver tudo, incluindo nós mesmos, como uma coisa que deve ser usada e explorada, e é nisso que consiste a nossa queda, diz ele (SCRUTON, 2017).

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Forte tudo isso, não? Você já havia parado para pensar sobre o assunto desta forma? É evidente que nosso estilo moderno de fazer as coisas nos permite sermos mais rápidos e menos onerosos, porém, será que é disso que estamos precisando? As construções nas cidades gregas eram projetadas visando inspirar o cotidiano dos seus cidadãos, elevar suas consciências através do belo e do harmônico.

Também os tipos de edifícios romanos podem ser vistos como tentativas de manter a presença sagrada da coluna (base de sustentação e de elevação da terra até o céu) nos usos da vida cívica. Podemos ver neles a interpenetração do sagrado e do secular e, assim, a santificação da comunidade humana e a humanização do divino (SCRUTON, 2017).

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Dessa forma, pesquisei na história um pouco das obras relacionadas diretamente ao saneamento para ver o que se acha: O aqueduto romano! Talvez seja a mais característica de todas as estruturas romanas. Era construído para levar água em grande quantidade às cidades, para ser bebida, para as termas públicas e privadas, para uso ornamental em lagos e fontes, e possivelmente também para irrigação de terras e vilas rurais (GIOVANNONI, 1992).

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O aqueduto de Segóvia é composto por 167 arcos de pedra granítica que erguem a sua imponente estrutura para formar um dos maiores monumentos de categoria artística e arqueológica ainda existentes na terra. Desta forma, a cidade foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO em 1985. Não há argamassa para unir as pedras e essa impressionante estrutura é mantida em pé a quase 2 milênios. Na parte superior existem 2 nichos, um em cada lado do aqueduto, sendo que um deles continha a imagem de Hércules, que segundo a lenda, foi o fundador da cidade. (DIAS, 2016).

Outro monumento desta natureza é a ponte do Gard, situada no sul da França. Trata-se de uma ponte construída em três níveis que assegura a continuidade do aqueduto que trazia água de Uzès até Nîmes, na travessia do rio Gardon. Foi provavelmente construída no século I a.C. (WIKIPÉDIA, 2018).

A Fontana di Trevi (ano 19 a.C) marcava o ponto final do Acqua Vergine, um dos mais antigos aquedutos que abasteciam a cidade de Roma. A água desta fonte serviu a cidade por mais de 400 anos (WIKIPEDIA, 2019).

Os invasores godos em Roma destruíram os aquedutos, durante as Guerras Góticas e os romanos, durante a Idade Média, tinham de abastecer-se da água de poços poluídos e da pouca límpida água do rio Tibre, que também recebia os esgotos da cidade. O antigo costume romano de erguer uma bela fonte ao final de um aqueduto que conduzia a água para a cidade foi reavivado no século XV, com o Renascimento (WIKIPEDIA, 2019).

Observem que essa história contada anteriormente demonstra os ciclos históricos que tratei no artigo passado, lembra?! Bem, mas agora quero dar ênfase nas belas fontes que os romanos erguiam como forma de demonstrar a importância da água e sua sacralização por meio de imagens mitológicas dos deuses. Até o próximo artigo!

Professora Luciane Dusi Pereira
Engenheira Sanitarista e Ambiental – Msc

Referências:

ANDRADE, Ramiro Lopes. Projeto de uma estação de tratamento de efluentes. 2015. Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAhIakAJ/projeto-estacao-tratamento-efluentes?part=2>. Acesso em: 27 fev. 2019.

CAMARGOS, Daniel. Poluição do ar em Belo Horizonte aumenta 40% em 12 meses, afirma OMS. 2014. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/05/08/interna_gerais,526489/poluicao-do-ar-em-belo-horizonte-aumenta-40-em-12-meses-afirma-oms.shtml>. Acesso em: 12 mar. 2019.

DIAS, Andressa. O aqueduto de Segóvia e seus arcos estáveis. 2016. Disponível em: <http://estruturandocivil.blogspot.com/2016/01/o-aqueduto-de-segovia-e-seus-arcos.html>. Acesso em: 12 mar. 2019.

GIOVANNONI, G. Construção e Engenharia. In: BAILEY, C. O legado de Roma. Rio de Janeiro: Imago, 1992. p. 481-528.

SCRUTON, Roger. A alma do mundo: E experiência do sagrado contra o ataque dos ateísmos contemporâneos. Rio de Janeiro: Record, 2017. 236 p. Tradução de: Martim Vasques da Cunha.

MARSHALL, Francisco. Sarau das Águas mostra arqueologia da cultura hidráulica. 2011. Disponível em: <http://www.aguaonline.com.br/materias.php?id=3336&cid=4&edicao=515>. Acesso em: 27 fev. 2019.

THAMARA. Apresentações – O Panteão de Agripa. 2011. Disponível em: <http://opantheon.blogspot.com/2011/02/apresentacoes-o-panteao-de-agripa.html>. Acesso em: 12 mar. 2019.

WANG, Alfredo. Viagens28: Fotos de viagens pelo mundo.. 2006. Disponível em: <http://viagens28.blogspot.com/2006/11/duas-fotos-de-tritoes-em-situacoes-e.html>. Acesso em: 27 fev. 2019.

WIKIPEDIA. Fontana di Trevi. 2019. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fontana_di_Trevi>. Acesso em: 27 fev. 2019.

WIKIPÉDIA. Ponte do Gard. 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_do_Gard>. Acesso em: 12 mar. 2019.

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