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O que aprendemos com a crise hídrica? (Seminário CABAS/FENÁGUA 2016)

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) promoveu o painel “O que aprendemos com a crise hídrica?”, durante o XIX CABAS – Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, em Campinas/SP.

O painel teve a moderação de Newton Lima Azevedo, governador do Conselho Mundial da Água e a participação de Juliana Almeida Dutra, coordenadora adjunta da Câmara de Prestação de Serviços e Relacionamento com Clientes, Paulo Roberto Szeligowski Tinel, consultor operacional da SANASA e Vicente Andreu Guillo, Diretor-Presidente da Agência Nacional das Águas (ANA).

Lima Azevedo iniciou o painel fazendo algumas considerações iniciais a respeito do cenário hídrico no Brasil.

A respeito da Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH), Lima a considerou “fácil de falar, difícil de fazer”. Em sua opinião, faltam políticas públicas efetivas sobre a gestão de recursos hídricos, na qual deveria ter uma espécie de “Ministério das Águas”, para tratar as questões da água que permeiam todos os setores da sociedade. Em sua fala, ele também abordou a respeito da carência de gestão das diversas áreas relacionada aos recursos hídricos devido à falta de capacidade técnica, em especial, em relação ao planejamento e gestão das operações. A importância das tecnologias para reduzir as perdas de água foi outro ponto apontado por ele, no qual em algumas regiões do país atingem o índice de 70% de perda durante a distribuição de água potável.

Segundo Juliana Almeida, “não houve quase nenhum aprendizado da sociedade, pois mais se amedrontou do que sensibilizou da importância de se economizar água”.

Além da sociedade, outro setor que teve aprendizados com a crise hídrica foi o setor industrial, onde a água se tornou um recurso estratégico para a operação da empresa, sendo assim, o setor industrial investiu em programas de reúso de água e de abastecimento com fontes alternativas. Ainda assim, apesar do pouco aprendizado da sociedade, se avançou no sentido de perceber que a água não é um recurso natural ilimitado, concluiu Juliana.

Para o consultor operacional da SANASA, Paulo Roberto, o maior aprendizado foi em relação ao planejamento, pois antes da crise hídrica, se imaginava escassez hídrica apenas na região do nordeste. Com a escassez hídrica, o tratamento exigiu maior quantidade de produtos químicos, sendo utilizados por volta de 10 PPM de derivados de cloro para desinfecção, passando para cerca de 70 PPM durante a crise hídrica, chegando a picos de até 200 PPM. Além disso, também houve ações da SANASA para ofertar maior quantidade de água de uso não potável para as indústrias da região, diminuindo a demanda de água potável.

Com o apoio do Centro Internacional de Referencia de Reuso de Água da USP (CIRRA/USP), a SANASA implantou um programa de reuso de água não potável, aplicando águas de menor qualidade em usos menos exigentes. O reuso de água não potável foi implantado no Corpo de Bombeiros, com oferta de 100 m³/mês, tornando-se pioneiro no país em utilizar água de reuso para tal finalidade. Além disso, também foi construída a Estação Produtora de Água de Reúso – EPAR CAPIVARI II, destinando-se a água de reúso para fins industriais. Para estabelecer as modalidades, diretrizes e critérios para reúso direto da água não potável proveniente de ETEs, foi estabelecido a Resolução Conjunta SVDS/SMS Nº 09/2014, no qual seu Art. 3º, paragrafo IV e VII abordam as modalidades citadas acima.

Outra ação tomada para reduzir o consumo de água em Campinas no cenário de crise hídrica foi uma campanha de uso racional da água, onde a população reduziu em 20% o consumo, de acordo com Paulo Roberto.

Paulo Roberto concluiu sua fala no painel dizendo que a crise hídrica em São Paulo foi controlada, porém, não se trata de algo passageiro, pois o reservatório Cantareira ainda está em déficit e a região de São Paulo está em estresse hídrico.

Após a fala de Paulo Roberto, Lima Azevedo complementou citando o exemplo de reúso de água no ABC Paulista para fins industriais, onde a água captada em uma ETE passa por tratamento, e é reutilizada no polo industrial, diminuindo a necessidade de oferta de 1m³/s de água potável na região.

Lima Azevedo comentou a respeito do aumento da oferta de água potável através da dessalinização, visto que 60% da população do país estão próximas ao litoral e no nível do mar, aumentando o potencial de utilização dessa tecnologia.

O Diretor-Presidente da Agência Nacional das Águas (ANA), Vicente Andreu, iniciou sua fala questionando a respeito da “crise hídrica ter acabado”, pois os estados do CE, AL, RN, PB, PE, ES, DF são exemplos de estados que contradizem tal afirmação.  Vicente ainda citou o exemplo do Acre, que teve a sua maior cheia em 30 anos em 2016, e menos de 5 meses depois, teve sua maior seca já registrada.

“A cultura da abundância de água que temos no Brasil não faz perceber a fragilidade desse sistema”, complementou Vicente. Além disso, precisamos de uma mudança nos padrões de consumo de água no país, porém, existe uma contradição nessa questão devido ao nosso atual modelo, pois as concessionárias de abastecimento de água seriam as principais prejudicadas, devido à queda de arrecadação em suas receitas.

Outro ponto abordado por ele foi à percepção da população diante de um cenário de crise hídrica. A população volta ao mesmo nível de consumo quando volta a chover, sendo assim, o aprendizado da população é zero. O diretor-executivo da ANA, também reconheceu a mudança que está acontecendo no padrão do ciclo hidrológico, e que essas mudanças vão persistir, tanto com situações extremas de seca, quanto em situações de enchentes nos próximos anos. Além disso, a água deveria ser mais cara para sensibilizar a população de sua importância, porém, deve continuar acessível pra quem não possui renda e para uso nos processos produtivos, concluiu Vicente.

Cleyton Cardoso
[email protected]
Departamento Técnico
Portal Saneamento Básico

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