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O melancólico fim da Agespisa está próximo

Licitação da subconcessão de Teresina marca o final trágico da empresa

Março de 2016 vai entrar para a história do Piauí. É o dia da licitação para a subconcessão dos serviços de água e esgoto da zona urbana de Teresina e, claro, o trágico fim da Agespisa. Endividada, carimbada de incompetente, com milhares de funcionários à beira da demissão e outras centenas com um futuro incerto, a empresa fundada no início da década de 60 sobreviveu por 54 anos aos desmandos políticos e eleitoreiros, mas sucumbiu diante de uma dívida impagável.

Se há trinta anos alguém dissesse que a Agespisa iria falir, muitos dariam risadas. Hoje, céticos se perguntam como uma empresa que “vende água” amarga o caminho sem volta da execração pública e falência. O fim da empresa traz muitas surpresas, a primeira delas é o aumento da taxa de esgoto. Hoje, o teresinense paga o correspondente a 50% da taxa de água para cobrir os custos com esgoto. Em 2018, com a saída da Agespisa, o valor passa a corresponder a 100% do valor da taxa de água.

Esse será o impacto no bolso dos teresinenses, medido ao final do mês. Mas e o impacto na vida de milhares de funcionários, servidores e seus funcionários?

A licitação, na modalidade internacional, vai escolher a empresa que vai substituir a Agespisa. Até a assinatura do contrato, oito meses se arrastarão como um calvário para aqueles que estão passivos de demissão, disposição ou na dúvida do Plano de Desligamento Incentivado.

Entenda o fim da Agespisa e o negócio das águas em Teresina

Com a concessão, os serviços de água e esgoto de Teresina serão separados do interior e operados pela nova empresa. De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, todo ano cerca de 174 milhões de reais saem dos bolsos dos teresinenses para os cofres da Agespisa. A despesa anual da empresa com o saneamento e abastecimento d’água na capital é de R$ 205 milhões, gerando um prejuízo de R$ 31 milhões por ano.

Parece um mal negócio, mas não é. Teresina arca indiretamente com grande parte do prejuízo da Agespisa gerado com o interior.

Segundo a FIPE, com os outros municípios do Piauí, a Agespisa arrecada R$ 162 milhões – doze a menos do que fatura com Teresina. A empresa gasta para operar o abastecimento d’água nesses municípios R$ 268 milhões, gerando um déficit de R$ 106 milhões – ou quase quatro vezes o prejuízo com a operação na capital. No final, todo ano, a Agespisa amarga um prejuízo de R$ 136 milhões. Desse saldo negativo, Teresina é responsável por apenas 22,7% do prejuízo, os outros 77,3% vem das deficitárias operações das cidades do interior.

O grande negócio da Agespisa – e da empresa que vai substituí-la – é vender água. E todo mundo precisa dela. Principalmente no calor de Teresina. . No quesito abastecimento d’água,com 92,8% da população atendida, Teresina tem está acima da média brasileira que é de 82,5%.

Aqui, a produção de água tratada não é o problema. As Estações de Tratamento d’água – ETA, atendem bem à demanda da população de mais de 800 mil habitantes da cidade. O grande problema está no disperdício da água que é produzida.

A Agespisa gasta muito no tratamento da água para o consumo, e, segundo a FIPE, 57% de toda a água que é tratada acaba sendo desperdiçada em vazamentos e ligações clandestinas. Se cobrasse por toda a água que produzida e consumida por Teresina, a Agespisa seria uma das empresas mais rentáveis do Brasil. Empresas enxegaram isso e querem o negócio para elas.

Empresa privada vai faturar, teresinense paga a conta

Para tirar Teresina da idade média do saneamento básico são necessários, R$ 1,7 bilhão, montante que a Fipe chamou de CAPEX – sigla em ingles para capital expenditure – que no bom português corresponde às despesa de capital ou aquisição de bens de capital.

Teresina amarga uma das piores posições no ranking brasileiro com apenas 17% de esgoto tratado. A maior parte desse dinheiro é para, basicamente, ampliar a cobertura de saneamento básico de Teresina e atender aos critérios de universalização do saneamento básico, além de combater o desperdício de água. Esse 1.7 bilhão de reais serão investidos ao longo de 32 anos – tempo que vai durar a concessão. O que é mais interessante, segundo o SEPAC, responsável pela Concessão, quem paga essa conta é o teresinense.

O diretor-geral do Instituto de Águas do Piauí, Herbert Buenos Aires, afirmou que o novo sistema de abastecimento de água e tratamento de esgotos é autofinanciável porque é garantido pela cobrança das tarifas. “É o que não acontece hoje. Daqui para a frente, nós vamos ter todo o sistema financiado pelo que arrecada”, afirmou Herbert Buenos Aires.

Considerando a atual perda de água tratada por desvio ou vazamentos, a falta de hidrômetros e a ineficiência comercial, o negócio está longe de ser ruim. É um negócio da Índia. Com uma gestão eficiente, a Agespisa passaria a arrecadar mais e a ter lucro com Teresina. Incapaz de melhorar sua administração, pelo menos é o que diz a FIPE, o Governo e a Prefeitura de Teresina vão, por um pouco mais de três décadas, permitir que uma empresa privada faça o que, por incompetência, os dois entes governamenteis, por outras três décadas deixaram de fazer.

Não duvide que tudo será resolvido. E o dinheiro para fazer isso é o mesmo que vai para a Agespisa, sai do bolso de quem paga a conta d’água. A diferença é que por 32 anos esse dinheiro vai deixar de ir para uma conta pública e terá como destino uma conta privada. Teresina vai atingir 100% do saneamento básico, o desperdício de água vai ser reduzido de 57% para pouco mais de 20%. Vamos pagar uma conta um pouco mais cara. Vamos adoecer menos. Nossos terrenos vão valer mais. E alguém ainda vai lucrar muito com isso.

Fonte: Capital Teresina
Foto: Google

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