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Medidas para economizar água na Califórnia podem servir para Minas

O que fazer para diminuir o consumo de água em uma situação em que as condições naturais não ajudam? A pergunta, que vem sendo feita com frequência com sotaque mineiro, desafia governantes em outro idioma, e há muito mais tempo. Enquanto a crise hídrica preocupa as autoridades em Minas desde fevereiro, quando foi oficialmente confirmada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o governo da Califórnia, na Costa Oeste dos Estados Unidos, enfrenta a seca desde 2012. Em medida de dureza sem precedentes, o governo fixou multa de US$ 500 (cerca de R$ 1.500) para quem desperdiçar água.

As agências responsáveis pelo abastecimento das cidades californianas podem ser multadas em US$ 10.000 (aproximadamente R$ 30.000) caso seja constatado desperdício. E, mesmo depois de tanto tempo e esforço, não há solução à vista. O quadro que aflige o estado norte-americano serve de alerta para Minas, onde não há garantia de que as condições meteorológicas venham a mudar a curto prazo, reservatórios ostentam índices até piores que os californianos e as medidas para enfrentar o desafio ainda parecem tímidas.

Especialistas alertam para diferenças de cenário que geram preocupação ainda maior para os mineiros. Considerada a caixa-d’água do Brasil, Minas tem situação geográfica e climática bem mais confortável do que a da Califórnia, que chega a buscar água a até 600 quilômetros de distância para algumas de suas cidades.

Ainda assim, o estado brasileiro apresenta quadros graves em seus reservatórios, entre eles o Serra Azul, com 15,9% de sua capacidade. A possibilidade de a situação se agravar, com o prolongamento da seca, acende a discussão sobre o risco de autoridaes mineiras serem obrigadas a lançar mão de medidas tão drásticas quanto as da Califórnia, para manter o abastecimento.

Atualmente, os principais reservatórios na Califórnia estão com nível abaixo de 50%, e a grande preocupação é a chegada do verão, em 21 de junho, período em que o consumo de água pelas famílias pode aumentar em até 80%. O governador Jerry Brown tem agido de maneira rígida e não abre mão de que o consumo seja reduzido em 25%, mas alcançar essa meta não está sendo fácil. Dados divulgados recentemente mostram que a diminuição do consumo foi de apenas 8,6% de junho a setembro de 2014, em comparação com o verão de 2013, muito pouco para os cálculos governamentais.

Ao experimentar o primeiro ano do período atual de crise hídrica, Minas ainda estuda sobretaxar os consumidores. De acordo com a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário de Minas Gerais (Arsae-MG), órgãos que integram a força-tarefa criada para lidar com a crise discutem que medidas serão adotadas para gerir a escassez de recursos hídricos. Segundo o diretor-geral da agência, Antônio Caram Filho, uma consulta pública será realizada para debater o assunto, mas ainda não se fala em datas.

Já a Copasa – que detém a concessão da água em 635 municípios de Minas –, afirma que o programa Caça-Gotas, para combate ao desperdício, resultou na redução de 39% no tempo para correção de vazamentos em Belo Horizonte. A companhia informou ainda que vem fazendo campanhas para incentivar a redução do consumo em pelo menos 30% e que deve intensificar essas ações. A economia chegou em março a 16%, na comparação com o mesmo período de 2014.

Mesmo a experiência da Califórnia tem mostrado que só punir não adianta. Por lá, a meta de redução de 25% ainda não foi atingida, mesmo um ano depois de lançada. As denúncias de desperdício são contadas aos milhares, enquanto a aplicação de multas não passa das centenas. Além disso, quem é multado tem a opção de frequentar aulas de orientação sobre como evitar o desperdício e acaba ficando livre da autuação.

Na avaliação do ex-superintendente da Copasa José Magno Senra Fernandes, mestre em meio ambiente, saneamento e recursos hídricos, a saída para enfretar o quadro de escassez de água está no planejamento e investimento em infraestrutura. “Conheço a situação da Califórnia e sei que a falta d’água lá é muito pior do que aqui. Minas não deveria estar passando por esta crise. E não adianta sobretaxar a população ou puni-la por um problema que é de gestão. É preciso, sim, investir em campanhas maciças de redução de consumo. Mas, sobretudo, ampliar os sistemas de captação”, diz, lembrando que a Bacia do Rio Doce, na porção Leste do estado, tem recursos hídricos de boa qualidade a distâncias viáveis para abastecer a Grande BH.

Perdas astronômicas

O coordenador do Centro de Pesquisas em Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Barreira Martinez, destaca outra demanda importante: “A Copasa precisa reduzir as perdas de água, registradas entre o que é captado e o que é distribuído. As perdas são astronômicas, acima de 30%, porque faltam investimentos para melhorar a rede”. Apesar de admitir que há casos de desperdício que devem ser combatidos, ele ressalta que não adianta terceirizar a falta de planejamento, colocando-a na conta do cidadão. E acrecenta que as medidas da Califórnia servem de alerta para Minas: é preciso agir para evitar alcançar quadro tão crítico, até porque a recuperação dos recursos hídricos não ocorre rapidamente.

Uma das apostas da Copasa para enfrentar o desafio na Grande BH é um novo sistema de captação de águas no Rio Paraopeba, para abastecer o reservatório Rio Manso. A previsão de conclusão é para o mês de outubro. Porém, questionada ontem sobre o prazo, a companhia informou que está impossibilitada de prestar esclarecimentos até que sejam divulgados os resultado do 1º trimestre deste ano, o que deve ocorrer no próximo dia 14.

Campo livre de restrições

Na Califórnia, por enquanto, as restrições e as metas de redução de consumo de água valem apenas para as áreas urbanas. O estado é o maior produtor e exportador de vinho, frutas e legumes dos Estados Unidos e, para evitar um dano maior à economia local, os produtores rurais, por enquanto, estão livres das medidas de racionamento, mas ninguém sabe até quando essa situação vai perdurar. Caso o estado entre no quinto ano seguido de falta d’água, nenhum setor estará a salvo.

 

 

 

Fonte: Em.com.br

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