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Para economizar água antes de cobrança de sobretaxa moradores mudam rotina

Com racionamento de água e cobrança de sobretaxa batendo à porta, tem gente repensando hábitos para sair da lista de mais da metade de consumidores da Região Metropolitana de Belo Horizonte que não atenderam ao apelo da Copasa para a redução de 30% no consumo (veja quadro). Alguns fizeram o dever de casa desde o início da crise hídrica, mas não viram resultado na conta. Outros simplesmente ignoraram a campanha e começam agora a sentir o drama, buscando alternativas em uma verdadeira corrida contra o tempo. Moradores de casas e prédios se esforçam para, mais de dois meses depois do anúncio oficial do colapso, reverter o quadro.

A dona de casa Rosa Martins, de 68 anos, moradora do Bairro Jardim América, na Região Oeste de BH, é uma das que vão adotar medidas de economia a partir de agora, e tenta pôr na linha marido e os três filhos. “Via o noticiário, mas confesso que não acreditei muito. No início, diminuímos no banho e começamos a fechar torneiras, quando não eram usadas, mas depois voltamos aos velhos hábitos. Ainda evito ficar muito tempo debaixo do chuveiro, mas não estávamos neuróticos com o assunto”, conta.

Como resultado, a conta de água não só não diminuiu em nada como, no mês passado, ficou R$ 20 mais cara, fator que ela atribui a visitas que recebeu. O marido continua lavando o carro uma vez por semana. “Eu, pessoalmente, impus algumas medidas, como a do banho mais rápido, mas o resto da família não liga muito. Talvez, quando vier a sobretaxa, eles acordem, mas estou tentando estimular novos hábitos, para não chegar a esse ponto. Ninguém quer pagar mais caro”, diz. Rosa pretende ainda aproveitar a água da máquina de lavar para limpar o quintal e varanda da casa, entre outras ações. “Todos aqui reclamaram, mas não temos outra saída, até porque estamos na contramão do que o momento exige.”

A aposentada Lúcia Maria dos Santos, de 74, moradora do Bairro São Geraldo, na Região Leste da capital, sofre com outro extremo do problema: entrou na campanha da economia desde o início, e já não sabe mais o que fazer para reduzir o que passa pelo hidrômetro. Isso porque, apesar de todos os esforços, não houve diminuição no registro de consumo e, se a sobretaxa já estivesse em vigor, ela com certeza a pagaria.

Mas ela garante que esfoço não tem faltado. Banho demorado, nem pensar. Para lavar a louça, foi-se o tempo da torneira escorrendo água em abundância. Até a descarga foi reduzida. Nem o quintal está sendo lavado. Quando chove, a água é imediatamente captada. “Houve redução de centavos no valor da conta, mas estamos fazendo o que podemos. Não há como fazer mais, estamos no limite”, desabafa.

O zelador de um prédio no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH, que pediu para não ser identificado, conta que mudanças de hábito na limpeza estão sendo propostas pela síndica apenas agora, depois da constatação de que a conta não diminuiu. Como o condomínio não se pronunciou antes, ele continuou fazendo o trabalho normal, com medo de ser advertido caso adotasse medidas de economia por sua conta. Na semana passada, foi orientado a molhar as plantas a cada 15 dias, caso não chova, e a só varrer as áreas comuns, e não mais lavá-las. “Não sei se isso será suficiente, caso os moradores não façam sua parte também. Há pessoas que economizam de verdade, mas há outras que não estão nem aí. Deveria haver uma reunião para todos entrarem em um acordo, porque, se um não colaborar, em se tratando de um prédio, não adianta nada.”

RIGOR O construtor José Gonçalves, de 79, tem duas casas, uma no Bairro Braúnas e outra no Bandeirantes, na Pampulha. Na primeira, ele praticamente alcançou a meta de economia de 30%, passando de um consumo de pouco mais de 80 metros cúbicos para 62. Para ajudar na tarefa, ele fez uma adaptação na calha para guardar água da chuva em um depósito e aproveitá-la para quase tudo. No banheiro, um lembrete não deixa ninguém esquecer que é preciso fechar a torneira enquanto se ensaboa. Porém, na outra casa, houve aumento na última medição, de nove metros cúbicos para 10, por causa de um vazamento na caixa. “A melhor metodologia para poupar água é a captação, com a devida limpeza de folhas das calhas e tirando ninhos de pombos”, afirma.

José Gonçalves é a favor de mais rigor em relação a quem ainda desperdiça água em plena crise: “Madames e empregadas continuam usando mangueira para varrer. Isso tem que ser corrigido e fiscalizado, ainda que por vizinhos. Como cidadão, convém pedir com educação para a pessoa varrer, e não lavar. Se precisar, que use a água da máquina de lavar para esse fim”, aconselha.

Dados relativos ao mês de fevereiro, divulgados pela Copasa há duas semanas, mostram que apenas 20,37% da população da Grande BH reduziu o consumo em 30% em relação ao segundo mês de 2014. Em Minas, o percentual foi ainda menor: só 17,43% dos consumidores economizaram o suficiente para atingir a meta estipulada pela companhia de saneamento. E, para piorar o cenário, 26,73% dos imóveis na Grande BH aumentaram o gasto médio de água na comparação com o ano passado. Um contingente de 26,94% dos clientes manteve a despesa no nível de 2014, mostrando que a campanha não atingiu mais da metade dos donos de imóveis.

 

 
Fonte: Em.com.br

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