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Reservatórios baixos, conta de luz alta

Alguns especialistas apontam que, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, pode faltar energia no País e ocorrer ainda neste ano ou no próximo um racionamento. Outros analistas, principalmente os ligados a pastas do governo federal, consideram o risco muito pequeno. O que é praticamente unanimidade é a certeza de que a perspectiva é de elevados reajustes nas tarifas de energia para os próximos meses e 2015.

Apesar de a padroeira do Brasil ser Nossa Senhora Aparecida, é o nome de São Pedro o mais lembrado no País nos últimos tempos. O santo, a quem é atribuída a responsabilidade pelo tempo, receberá as preces não só dos agentes do setor elétrico, mas também dos consumidores, que irão sentir no bolso o aumento da conta de luz em função do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Se não chover, a tendência é de racionamento ainda neste ano ou em 2015, segundo os especialistas.

Mas o setor sabe que não pode contar com a boa vontade dos céus para se ter segurança quanto ao fornecimento de eletricidade. A saída é buscar estratégias para enfrentar o intenso aumento da atividade das térmicas (que têm uma produção muito mais cara do que as hidrelétricas). A geração corresponde a cerca de 37% da composição do custo de uma tarifa de energia. A questão é que a dependência da termeletricidade parece longe de acabar.

Em março, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, afirmou que havia acendido o sinal amarelo quanto ao nível dos reservatórios. Uma fonte que acompanha o setor elétrico considera que a situação estaria mais para a cor laranja, puxando para o vermelho. Conforme essa fonte, o governo somente não reconhece a possibilidade de racionamento e tenta segurar o máximo que pode os valores das tarifas (através de aportes do Tesouro) por se tratar de um ano eleitoral. A defasagem das contas de luz estaria em cerca de 25% e “estouraria” nos reajustes dos próximos anos, fundamentalmente, em 2015.

O Brasil trabalha sobre o fio da navalha (quanto à capacidade de fornecimento de energia), mas acredito que passaremos por isso, neste ano, essencialmente, em função das térmicas que têm ajudado bastante, independentemente do custo delas”, afirma o coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Carlos Faria. Contudo, o dirigente alerta que o problema deve continuar em 2015, em função dos níveis dos reservatórios estarem muito baixos. As expectativas continuam as mesmas, operar com o segmento térmico de uma forma mais constante para tentar fazer com que os reservatórios retornem a níveis aceitáveis.

O integrante da Fiergs antecipa que, dificilmente, os consumidores escaparão de tarifas mais onerosas. Para o dirigente, o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) precisam repassar às contas de luz esses custos, principalmente no próximo ano, pois o Tesouro não aguentaria arcar com os acréscimos. O empresário ressalta que as distribuidoras necessitam ter condições para manter um nível de investimentos e garantir a qualidade quanto ao suprimento de energia. “A nossa energia não é cara, a nossa tributação é que é pesada”, lamenta o dirigente. Tributos como ICMS, PIS e Cofins equivalem a aproximadamente 28% da tarifa cobrada do consumidor final.

Apesar desse percentual elevado, o integrante da Fiergs aponta que dificilmente esse cenário mudará. Faria argumenta que os estados não abrem mão de impostos na energia, pois são receitas volumosas. Eventualmente, acrescenta o empresário, o que pode ocorrer é algum diferimento para determinado setor da economia. Além da discussão quanto à tributação, para Faria é preciso diversificar a matriz energética nacional, com uma política de médio e longo prazos, para o País não ficar tão dependente da hidreletricidade.

Chance de insuficiência é inerente ao sistema escolhido
O que mais assusta em um problema é a possibilidade da sua volta. E essa parece ser a sina do setor elétrico brasileiro. O presidente da Trade Energy, Walfrido Avila, comenta que o País sempre passa pelo risco de racionamento, justamente porque adota o sistema hidrelétrico. O dirigente salienta que, como os reservatórios baixaram muito, claro que a possibilidade de ocorrer empecilhos aumenta. Na eventualidade de uma forte estiagem, pode acontecer um racionamento, admite o especialista. “Mas tem que ser grande a falta de água, uma desgraça”, ressalta Avila.

Por essa razão, o integrante da Trade Energy defende que o Brasil precisa de mais reservatórios. Como nos últimos anos, foi-se diminuindo a quantidade de reservatórios, proporcionalmente ao consumo, elevaram-se as chances de um racionamento. O dirigente recorda que, por uma pressão de ONGs, recentemente, se fez a escolha por usinas a fio d’água (sem reservatórios). As térmicas também seriam uma opção. “Aí vai ser caro”, informa o presidente da Trade Energy.

O presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, comenta que o uso das termelétricas hoje já contamina a perspectiva de custo de energia para 2015. De acordo com o especialista, a previsão é que o Brasil feche 2014 ainda com uma condição ruim quanto ao nível dos reservatórios. Vlavianos detalha que a forma de mitigar a dependência das hidrelétricas é trazendo novas fontes para a matriz elétrica. “Temos que possuir mais energia atômica, eólica, térmica, precisamos começar a ter incentivo para as empresas explorarem o gás”, defende o representante da Comerc. No entanto, Vlavianos admite que é muito alta a probabilidade de situações como essa, pela qual passa o sistema elétrico brasileiro, acontecerem novamente no futuro.

Perspectiva de aumentos acima de 10% para os gaúchos
No mês de abril, a concessionária AES Sul foi autorizada pela Aneel a efetivar um aumento de cerca de 30% nas suas tarifas. O percentual elevado assustou os consumidores das outras duas grandes distribuidoras do Estado (RGE e CEEE-D), que ainda passarão por reajustes neste ano (respectivamente, em 19 de junho e 25 de outubro). Apesar de economistas acreditarem que os percentuais não chegarão a ser tão elevados como o da AES Sul, a estimativa é de incrementos de dois dígitos, ou seja, acima de 10%.

O professor da faculdade de Economia da Pucrs Gustavo Inácio de Moraes calcula que os percentuais que serão aplicados cheguem a algo um pouco inferior a 20%. O professor do curso de Ciências Econômicas da Fadergs, Fabian Domingues, explica que a intensidade dos reajustes da RGE e da CEEE-D dependerá das condições dos contratos de cada uma delas. “Mas, cabe observar que o reajuste da AES Sul está acima da média dos reajustes já concedidos pela Aneel”, frisa Domingues.

Moraes reitera que a seca de maior intensidade e as demandas elevadíssimas registradas nesse verão indicam valores altos quanto ao consumo de eletricidade. Esse contexto, reforça o economista, leva a uma tendência de fortes aumentos, tanto em 2014 como em 2015. O professor ressalta que a questão do encarecimento da energia deverá afetar todos os estados brasileiros.

Se confirmada a elevação generalizada das tarifas de energia, como reflexos para a economia em geral, Domingues cita que haverá um aumento da inflação devido à importância que o insumo tem na composição de custos de vários setores econômicos importantes, como o metalmecânico e o de serviços, além de reduzir a renda disponível às famílias. Já do ponto de vista das finanças públicas, por um lado, é possível que haja redução da arrecadação pela diminuição da atividade econômica. “Por outro lado, tarifas mais altas permitem maior arrecadação, de modo que o efeito final é ambíguo”, sustenta o professor da Fadergs.

Para Moraes, um fator positivo do reajuste das tarifas é que a iniciativa permitirá novos investimentos na capacidade de distribuição da energia. O professor da Pucrs complementa que a rentabilidade das empresas anda muito ruim. “No passado, o modelo do setor elétrico quis tentar segurar as tarifas e isso foi um tiro no pé, pois acabou ocasionando a perda do dinamismo nos investimentos.” No entanto, segundo Moraes, sob o aspecto da macroeconomia, o aumento do custo da energia implicará efeitos muito negativos. O economista concorda com Domingues e indica a inflação como o primeiro deles. “O segundo é que os reajustes estão acontecendo em um momento de desaceleração da economia e isso afeta o ciclo econômico, não só o de 2014, mas o de 2015”, afirma o professor da Pucrs.

Conforme estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o custo médio da energia elétrica para as indústrias brasileiras no mercado cativo pode chegar a R$ 420,20 por MWh ao final de 2015 (hoje é de R$ 310,67 o MWh). Essa projeção deve se confirmar caso o reajuste médio de 17,1% (dado relativo a 22 distribuidoras avaliadas pela pesquisa até meados de maio) se mantenha para as outras 41 concessionárias que ainda terão seus reajustes aprovados e se repita no ano que vem. O trabalho enfatiza que, na comparação com janeiro de 2013 – quando foi concedido o desconto nas tarifas através da MP 579 e o valor era de R$ 263,00 por MWh – o aumento será de 60%.

Setor deve seguir apostando nas hídricas
Mesmo com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas verificados neste ano, a matriz elétrica brasileira continuará predominantemente hídrica, segundo os especialistas. “Trata-se de uma energia excelente”, resume o diretor da Siclo Consultoria em Energia Paulo Milano, ao explicar que há um menor impacto ambiental do que a termelétrica e, apesar de ter uma construção mais cara e demorada, é muito mais segura e barata durante a operação. “O Brasil ainda tem uns bons aproveitamentos hídricos por fazer, só que está sujeito a São Pedro”, recorda Milano.

O dirigente enfatiza que se não houvesse as térmicas, hoje a situação do abastecimento de energia seria muito mais grave. O consultor defende que é preciso ter um sistema hidro-térmico para poder suportar as necessidades do consumo elétrico, com a termelétrica servindo como uma garantia de fornecimento. O analista adverte que se no próximo ano a chuva não ajudar, novamente o setor elétrico sofrerá contratempos.

Para um futuro a longo prazo, Milano acredita que uma opção será a energia nuclear através da fusão e não da fissão. O diretor da Siclo lembra que o maior problema da produção nuclear hoje é o lixo atômico. No entanto, no processo de fusão nuclear o rejeito não é radioativo. Atualmente, essa tecnologia não seria viável, mas o consultor prevê que esse cenário mudará com os anos. Uma facilidade com essa fonte é a possibilidade de instalar as usinas em um leque de lugares muito maior do que no caso de uma hidrelétrica (que precisa do manancial hídrico) ou de uma termelétrica convencional (que perde economicamente se ficar longe da jazida de carvão, gás ou de outro combustível fóssil).

Milano cita ainda que a escassez da oferta de energia em 2014 aumenta a perspectiva que novos empreendimentos a carvão sejam instalados no Brasil. O Rio Grande do Sul tem particular interesse nessa questão, pois detém cerca de 90% das reservas do mineral e em condições facilitadas para a sua extração, principalmente na região de Candiota. O diretor da Siclo só faz a ressalva que mesmo as termelétricas precisam de água para operar e esse é um limitante naquela localidade.

De acordo com o consultor, a entrada de parque eólicos no sistema é algo a ser comemorado, porém não se comparam com a potência de uma hidrelétrica. “Ajuda, mas não resolve.” Essas usinas também contribuem para diversificar os pontos de entrada de energia na rede. Um exemplo disso são os complexos que estão sendo instalados pela Eletrosul nos municípios de Chuí e Santa Vitória do Palmar.

Atendimento no verão pode ser tido como aceitável
Neste verão, o Rio Grande do Sul enfrentou a ocorrência de vários cortes de energia. “Isso foi ruim, porque ninguém quer ficar sem luz”, frisa o diretor da Siclo Consultoria em Energia Paulo Milano. Entretanto, o consultor salienta que, nas condições oferecidas, o atendimento das concessionárias foi satisfatório. “Dentro dos poucos recursos que tinham, ofereceram um serviço aceitável, mas não foi perfeito.

Milano recorda ainda que, além do forte calor, algumas regiões enfrentaram temporais, caso do Vale do Sinos, área sob a responsabilidade da AES Sul. O dirigente comenta que a empresa chegou a trazer equipes de São Paulo para reforçar o grupo de ação no Estado. Entretanto, em casos como esse, não há como passar sem reflexos nocivos e falta de energia. “O que vai se fazer? Não tem sistema totalmente seguro”, aponta. Milano acrescenta que é possível deixar o sistema mais robusto e menos suscetível a falhas. “O problema todo é custo.” O consultor cita o exemplo do Litoral gaúcho. “A praia é um terror.

A dificuldade de atender a essa região é que a concentração de pessoas e as altas demandas de energia acontecem apenas no período de verão. Durante o restante do ano, os investimentos feitos para atender a esse pico de consumo ficam ociosos e não geram um faturamento para justificar o aporte de recursos das concessionárias.

Fonte: Jornal do Comércio
Veja mais: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=162611

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