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Como a Grande São Paulo chegou à escassez de água

Principal fornecedor de água à população da Grande São Paulo, o Sistema Cantareira teve uma sequência de quedas no nível das suas represas – e o panorama já é considerado a pior crise da história na região. A rede, na sua totalidade, é responsável pelo abastecimento de 8,1 milhões de habitantes, população quase seis vezes maior do que o número de habitantes de Porto Alegre.

Com a falta de chuva constante, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) rejeitou a possibilidade de racionamento e passou a resgatar, ainda em maio, o chamado “volume morto”: reserva técnica situada abaixo das comportas e que nunca havia sido usada.

Quase três meses depois, só se agrava a secura das torneiras dos paulistas. Conforme reportagem do jornal Folha de S. Paulo  de sexta-feira, as medidas adotadas pela Sistema Cantareira nos últimos cinco meses já são equivalentes a uma situação de racionamento, com um rodízio de três dias sem água para cada 1,5 dia com abastecimento. Essa foi uma das alternativas adotadas para recuperar a rede e economizar água. Quem paga a conta, até agora, é o consumidor, que enfrenta a escassez de água e encabeça uma onda de reclamações.

O presidente do Conselho Mundial de Água, Benedito Braga, explica a crise paulista em três pilares. O primeiro, e considerado o mais importante, é a situação climática, já que a chuva entre o final de 2013 e início de 2014 foi 30% menor se levada em consideração uma série histórica de cem anos. O segundo corresponde ao costume dos consumidores que não se preocuparam em usar água conscientemente, pois o recurso sempre foi abundante. Em terceiro, está a falha no processo de alertar a situação aos moradores.

— O sistema foi se depreciando e, agora, há uma redução do consumo também em função da implantação de um bônus para quem economiza. Outro fator é a questão da infraestrutura de reservatórios previstos que, se já estivessem prontos, não resolveriam, mas deixariam a situação menos dramática. Nesse momento, até outubro, a única coisa que tem de fazer é rezar para chover — aponta Braga, que reforça a necessidade da população de economizar água, se necessário, por meio do aumento da tarifa.

Para o vice-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Carlos André Bulhões Mendes, São Paulo chegou ao ponto crítico devido à falta de gestão. Ele avalia o Sistema Cantareira como um exemplo a não ser seguido, já que, enquanto os níveis baixavam, poucas medidas foram tomadas e, neste momento, qualquer solução bate no temido e polêmico racionamento.

— Há cerca de um ano, o nível dos reservatórios do Cantareira vem baixando. Isso é a crônica da morte anunciada. No momento que tenho o nível caindo, tenho de adotar regras de operação para controlar a torneira — diz Mendes.

O professor compara a administração da água a uma poupança para horas difíceis. Entre as medidas que poderiam ser adotadas, estão campanhas de educação e até mesmo cortes para reduzir o consumo.

— É muito fácil para os administradores atribuírem a seca dos reservatórios à imprevisibilidade do clima. Isso acontece todo o ano, tem de se adaptar — critica.

Conforme a Sabesp, a produção de água do sistema caiu de 31,8 mil litros por segundo em fevereiro para 23,3 mil litros por segundo em junho. Entre as medidas adotadas para a economia nos últimos meses — consideradas insuficientes por alguns especialistas — está o desconto de 30% na conta de água para quem diminuir o consumo em pelo menos 20% e a redução da pressão de distribuição.

No Rio Grande do Sul, a Companhia Rio-grandense de Saneamento (Corsan) atende a cerca de 8 milhões de pessoas em 320 cidades — quase o mesmo número de moradores abastecidos pelo Cantareira em 11 cidades de São Paulo. Segundo o diretor de operações da estatal gaúcha, Antônio Martins, o Estado não corre o risco de enfrentar crise como a vivenciada no Sudeste. A explicação é que o sistema paulista corresponde a um conjunto de grandes represas, nas quais o volume de chuva não foi suficiente para repor a retirada de água. Já no RS, os mananciais não estão concentrados em uma única área, mas espalhados pelas regiões que contam com 180 estações de tratamento e 800 poços profundos.

— Para termos problemas na região metropolitana de Porto Alegre, teríamos de ter uma estiagem histórica em todo o Estado, afetando os sete afluentes do Guaíba. Nossos sistemas estão bastante espalhados, e temos rios que fazem a captação própria — explica o diretor.

Martins considera o sistema gaúcho mais seguro no que tange à prevenção de estiagens. Porém, cidades como Bagé e São Leopoldo — abastecidas por autarquias municipais — vivenciaram racionamento nos últimos anos devido a problemas de reserva ou seca de rios.

Fonte e Agradecimentos: JORNAL ZERO HORA (RS)

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