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Biólogo define Baía de Guanabara: ‘Latrina e lata de lixo’

É uma vergonha treinar e o barco bater em caixas de madeira, pneus e sacolas plásticas!” Essa declaração pertence à velejadora brasileira medalhista de bronze nas Olimpíadas de Pequim, Isabel Swan, sobre o alto grau de poluição na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Faltando apenas 29 meses para os Jogos Olímpicos, o local escolhido como sede das competições de vela permanece imundo e não apresenta melhoras significativas.

Em entrevista ao SRZD, o biólogo e professor Mário Moscatelli denunciou a situação de um dos principais cartões postais da Cidade Maravilhosa. “Em termos ambientais, a baía está uma latrina! A bacia hidrográfica local constitui-se de um conjunto de valões de esgoto e lixo que descarregam toda sua carga pútrida para dentro da região“, disse.

O especialista também condenou a ineficiência dos projetos implementados para drenagem da poluição. “É mais do que óbvio que depois que os resíduos são espalhados pela Baía, o custo de removê-los é estratosférico e de eficiência duvidosa. Por que não remover mecanicamente os resíduos enquanto os mesmos estão concentrados nos rios? Parece que a minha realidade é diferente das autoridades!

A gestão do secretário de Estado do Ambiente, Carlos Minc, também não foi poupada pelas críticas do biólogo. “Fiquei decepcionado em muitos aspectos relacionados à gestão dele na esfera estadual”, afirma. Segundo ele, o problema também não é tão complicado de ser solucionado. “É preciso tomar vergonha na cara! Temos dinheiro e tecnologia. Falta apenas um cronograma sério de conhecimento público, com menos factóides e mais resultados práticos“, conclui.

O que está provocando a poluição acentuada na Baía de Guanabara, atualmente?
A poluição na Baía é histórica. Intensificada principalmente a partir do século passado. Na atualidade, a bacia hidrográfica local constitui-se de um conjunto de valões de esgoto e lixo que descarregam toda sua carga pútrida para dentro da Baía de Guanabara. O caso da poluição na região é o retrato ambiental mais escrachado da impunidade e da prevaricação que ocorre com os recursos públicos voltados para grandes obras no Brasil.

Em termos ambientais, como está a situação da Baía?
Uma latrina e lata de lixo! O que sobra da Baía de Guanabara, do ponto de vista ambiental, está situado entre os municípios de Magé e Itaboraí. No entanto, a região também está com os dias contados em razão do crescimento desordenado da malha urbana.

O governo do estado propôs algum projeto de dragagem?
Apenas no canal do Fundão, onde o mesmo foi desassoreado. Sendo que a área continua recebendo um volume gigantesco de esgoto e lixo da bacia hidrográfica local.

E o que aconteceu com o projeto? Por que ele não está sendo realizado?
Na Baía de Guanabara, com pouco tempo disponível até às Olimpíadas (motivo de preocupação das autoridades), a manobra foi a instalação de Unidades de Tratamento de Rios (UTR) nos principais valões que desembocam na região. Por meio dessas estações será tratado o esgoto e retido o lixo. No entanto, somente a UTR do Rio Irajá foi instalada até o momento. Faltando aproximadamente seis ou sete unidades para impedir o bombardeio diário de esgoto e lixo que a Baía recebe diariamente.

Qual a posição das autoridades responsáveis pelo caso?
Sempre dizem que “vai ser feito”, mas o cronograma físico-financeiro não aparece nunca! Quais obras serão feitas com a intenção de melhorar as condições ambientais da Baía de Guanabara? Onde serão executadas? Qual a finalidade específica de cada uma? Quanto vão custar? De onde virá o dinheiro? Quais os prazos? E os parâmetros ambientais de avaliação de sucesso? Respostas básicas que nunca são respondidas.

O que deveria ser feito para melhorar a despoluição na região?
Tomar vergonha na cara! Temos dinheiro e tecnologia. Falta apenas um cronograma sério de conhecimento público, com menos factoides e mais resultados práticos contendo início, meio e fim.

Qual a sua opinião sobre o posicionamento das autoridades responsáveis?
Empurraram com a barriga (assim como é culturamente de praxe) o encaminhamento das soluções técnicas para problemas ambientais mais do que conhecidos há décadas. As ações sobre as consequências já poderiam ter sido atacadas há pelo menos três anos, mas foram proteladas. Como se a cidade do Rio de Janeiro tivesse sido informada apenas na semana passada de que seria sede dos próximos Jogos Olímpicos ou se nossas autoridades desconhecessem o monstruoso passivo ambiental existente na Baía. Eu já disse inúmeras vezes: sobram impunidade e prevaricação!

Qual a importância do projeto Baía Sem Lixo 2016?
A oportunidade de dar uma virada de mesa no caos ambiental existente na Baía de Guanabara está prestes a ser perdida por falta de estratégia das nossas autoridades. Não sei se foi ou é intencional e se falta gente para pensar e operacionalizar, mas fato é que a situação da região e do sistema lagunar continua praticamente na estaca zero, faltando apenas 29 meses para o início das Olimpíadas.

A população carioca deveria cobrar a solução para esse problema com mais veemência?
Claro! Não somente para esse, como para a maioria dos serviços que somos obrigados a pagar para o tal poder público que de público só tem o nome. Sem qualquer retorno de qualidade na maioria esmagadora dos casos.

Já tentou entrar em contato com algum membro dos Comitês Olímpicos Internacional (COI) ou Brasileiro (COB) para esclarecer esta situação?
Levei de helicóptero o senhor Márcio Fortes, ex-autoridade olímpica, pelo projeto Olhoverde. Agora estou tentanto entrar em contato com o General Azevedo, conhecido como a atual autoridade olímpica, visando suprí-los das informações reais do caos ambiental existente. Diferente do mundo cor de rosa de algumas autoridades.

Qual a eficácia da medida das Ecobarcas, que começam a recolher lixo na Baía de Guanabara?
Relação de altíssimo custo com baixíssimo benefício. Até hoje, depois de 10 anos repetindo o mesmo mantra, não entendo o motivo do Governo do Estado não instalar ecobarreiras nos pricipais valões de lixo da Baía de Guanabra, operando com máquinas a remoção de todos os resíduos lançados pela população dentro dos rios. Não dá para entender! É mais do que óbvio que depois que os resíduos são espalhados pela Baía, o custo de removê-los é estratosférico e de eficiência duvidosa. Por que não remover mecanicamente os resíduos enquanto os mesmos estão concentrados nos rios? Parece que a minha realidade é diferente das autoridades!

Diante de toda essa poluição, a Baía de Guanabara está preparada para sediar competição de barco a velas durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro?
Não há a mínima condição!

Já conversou com algum velejador sobre esta situação?
A maioria comunga de minha opinião.

Por que o governo não consegue evitar o despejo de lixo na Baía?
Porque o monstro criado por décadas de faltas de políticas públicas nas áreas de habitação e transporte está repassando seu custo ao ambiente mais uma vez. Enquanto isso, inexplicavelmente, o poder público não toma as medidas estratégicas visando o curto, médio e longo prazo. Apresentando medidas contrárias de pouco resultado operacional, como as “ecopeneiras” existentes e do projeto dos barquinhos.

Em circunstâncias e termos ambientais, a gestão do secretário de Estado do Ambiente, Carlos Minc, foi positiva para o Rio de Janeiro? E para Baía de Guanabara?
O Minc é um dos melhores na área política ambiental do estado e talvez no Brasil. No entanto, fiquei decepcionado em muitos aspectos relacionados à gestão dele na esfera estadual. Por exemplo, no que diz respeito à relação submissa com a Cedae, assim como nos projetos de recuperação ambiental no Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá e na Baía de Guanabara, que na minha opinião, deveriam ter deslanchado há muito mais tempo e não estando nessa indefinição que perdura até hoje. Enfim, cada um sabe os seus limites e o que fez ou deixou de fazer.

Mais algum comentário sobre a poluição na Baía de Guanabara?
Não é por falta de dinheiro que a situação continua do jeito que está. O poder público já despejou 1,2 bilhões de dólares pelo programa de despoluição da Baía de Guanabara e até hoje temos estações de tratamento que nunca cuidaram sequer de uma gota de esgoto (São Gonçalo) ou têm apenas metade dos equipamentos em funcionamento (Alegria). Enquanto a maioria absoluta dos rios da região são valões de esgoto e lixo.
Notamos também a situação da Marina da Glória e da Enseada de Botafogo adubadas dia e noite por esgoto, sem que os responsáveis públicos sejam cobrados legalmente pelos órgãos de fiscalização. É como se nada estivesse acontecendo!

Fonte: Sidney Rezende ZD
Veja mais: http://www.sidneyrezende.com/noticia/222429+biologo+define+baia+de+guanabara+latrina+e+lata+de+lixo

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