saneamento basico

Desperdício de água ameaça produção de alimentos

Você sabia que para fazer um hambúrguer são gastos 2.400 litros de água? Somente a fatia do pão, considerando a produção de todos os ingredientes envolvidos, demanda a utilização de 40 litros.Os dados, divulgados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), alertam para a relação entre o desperdício de alimentos e de água.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 40 mil toneladas de comida são jogadas fora todos os dias no país. Desse total, a maior parte do desperdício ocorre em casa ou no preparo das refeições. E o alimento que vai para o lixo representa uma parcela ainda maior de água que escorre pelo ralo. Deixar uma maçã estragar na geladeira, por exemplo, desperdiça não só a fruta, mas também 70 litros de água.

Os alimentos industrializados requerem ainda mais água. Se para o cultivo de uma batata são gastos 25 litros de água, um pacote de batata frita leva 185 litros, o que equivale a 7,4 vezes mais água.

Neste mês, comemoramos o Dia da Água. Mas, é possível celebrar frente a tal crise hídrica? É hora de racionalizar o uso desse recurso. Selecionar o que se come e praticar o uso integral dos alimentos são formas efetivas de evitar o desperdício da água. A redução do volume de chuvas, que pode se estender pelos próximos dois anos, e a consequente diminuição da quantidade de água disponível para o abastecimento, também prejudica a produção de alimentos.

De acordo com a professora de Gestão de Qualidade de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Lourdes Masson, a falta de água pode gerar impactos diretos na segurança alimentar e nutricional da população. “Enquanto não se resolver a redução do desperdício na produção de alimentos e a crise hídrica, ficará cada vez mais difícil garantir o acesso a alimentos em todos os extratos sociais. O consumidor poderá ficar exposto a produtos mais caros, devido à redução da oferta de produtos alimentícios no mercado”, afirma. A falta de água é um dos principais problemas em países que enfrentam a fome e a desnutrição. De acordo com a FAO, daqui a dez anos 1,8 bilhão de pessoas sofrerão com a escassez de água.

Soluções para reduzir os gastos com água na produção de alimentos são um desafio. “Alternativas de tecnologias de produção de alimentos no campo devem prever o reuso da água, o aproveitamento da água de chuva, além de técnicas alternativas de cultivo. Em escala industrial, a construção de estações de tratamento de água é uma necessidade cada vez maior. Várias novas tecnologias surgiram na última década para a conservação de alimentos. Dentre elas, o uso de luz ultravioleta, a tecnologia de alta pressão e de membranas por osmose reversa para conservação de leite, sucos de frutas e purificação de água”, diz Lourdes.

Pesquisa alia economia de água e produção de alimentos

Uma das pesquisas vencedoras da 27ª edição do Prêmio propôs a utilização da anidrobiose (estratégia de sobrevivência desenvolvida por algumas plantas que atravessam longos períodos de seca) para preservar as plantações na região do semiárido brasileiro. Segunda colocada na categoria “Mestre e Doutor”, a pesquisadora Cláudia Evangelista defende, em sua pesquisa, que através de modificações genéticas é possível levar vegetais a realizar a anidrobiose, tornando-os resistentes à desidratação. Dessa forma, as plantações ficariam protegidas no período de estiagem, enquanto quantidades expressivas de água poderiam ser poupadas e redirecionadas para outros usos, como o consumo humano ou animal.

“Minha pesquisa investigou as bases moleculares da anidrobiose, que quer dizer ‘vida sem água’. Para sobreviver a climas extremos, algumas plantas suspendem seu metabolismo e se convertem em estruturas semelhantes a cristais biológicos. Durante o processo, as espécies se transformam nos seres super resistentes. Podem ser aquecidas até 100°C sem serem danificadas. E quando o ambiente apresenta condições de temperatura e umidade ideais, esses cristais absorvem água e voltam à vida”, diz Cláudia.

O Prêmio Jovem Cientista é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Fundação Roberto Marinho, e conta com o patrocínio da Gerdau e da BG Brasil. Criado em 1981, a iniciativa é um dos mais importantes reconhecimentos aos cientistas brasileiros, tem o objetivo de incentivar a pesquisa no país e reconhecer jovens talentos nas ciências. O tema da edição deste ano é “Segurança Alimentar e Nutricional”. As pesquisas vencedoras serão divulgadas em maio.

Fonte: Época

Últimas Notícias: