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Poluída, praia de ramos sofre com abandono

Favela 247 – Poluída desde a década de 1950 e considerada imprópria para banho desde os anos 1980, a Praia de Ramos cedeu lugar, em 2001, ao Parque Ambiental da Praia de Ramos, popularizado como Piscinão de Ramos. Duas manutenções depois, o local sofre com o abandono do poder público, como mostra matéria do Viva Favela. “O Piscinão não é só a piscina, é um espaço com área de esporte, praças, brinquedos e lona cultural. A água é tratada, mas o restante está em estado de abandono”, fala, indignado, o dono de quiosque César de Oliveira, mais conhecido como César Dicró, filho do cantor e compositor Dicró, falecido em 2012.

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a expectativa é que 80% da Baía de Guanabara seja despoluída, já que será palco de algumas competições. A obra integra o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que existe desde 1994. Em 20 anos, cerca de US$ 1,2 bilhão foi gasto, com resultados ainda inexpressivos.

O biólogo Mario Moscatelli, responsável pelo Projeto Olho Verde, vê o Piscinão como uma espécie de “puxadinho ambiental”. Ele afirma que, se o PDBG funcionasse normalmente, não teria sido necessário condicionar a despoluição da praia ao evento olímpico. Segundo o biólogo, já em 2001 teria sido possível minimizar a poluição da praia e de seus afluentes, ao invés de investir na construção da piscina.

Por Andressa Cabral, do Viva Favela

A Praia de Ramos esquecida

Em tempos remotos, Dicró aproveitaria as temperaturas estivais previstas para este final de semana para levar a família à Praia de Ramos… Mas há anos que o tão celebrado balneário não é mais objeto de desejo dos moradores e antigos frequentadores do litoral. A área encontra-se poluída desde a década de 50 e nos anos 80 tornou-se imprópria para banho. A praia, tantas vezes cantada e exaltada pelo cantor, deu lugar ao Parque Ambiental da Praia de Ramos, popularmente conhecido como Piscinão de Ramos. Inaugurado em dezembro de 2001 e após ter passado por duas manutenções, o parque sofre com o abandono do poder público, assim como a praia.

Na década de 70, e até o início dos anos 80, a Praia de Ramos foi muito popular entre moradores locais e de outras regiões da cidade, apesar do aumento significativo da poluição da Baía de Guanabara. Em 1981, o balneário já apresentava o maior índice de poluição entre as praias da cidade, segundo a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA, atual Inea). A praia recebe esgoto vindo dos canais do Cunha, do Fundão e da Penha.

Durante décadas, a degradação ambiental pouco comoveu o poder público, até a sociedade civil, junto com a Comissão de Defesa do Meio Ambiente da ALERJ, promover um abraço simbólico à praia reivindicando melhorias socioambientais, em abril de 2000. Diante esta manifestação, o então governador Anthony Garotinho anunciou uma série de obras para a localidade, orçadas em R$3 milhões, incluindo a mais conhecida: o Piscinão de Ramos. O lago de água salgada, com seus mais de 26mil m², foi criado como alternativa de entretenimento à população que não podia mais banhar-se nas águas impróprias da Baía de Guanabara. Desde a sua criação, a piscina chegou a receber 60 mil pessoas em um final de semana, de acordo com a Prefeitura do Rio. Atualmente, este número caiu pela metade.

Um “puxadinho ambiental” para os moradores de Ramos

Se no início o Piscinão revitalizou o bairro de Ramos, hoje a situação é quase a mesma de antes. Quem conta é César de Oliveira, mais conhecido como César Dicró, filho do cantor e compositor Dicró, falecido em abril de 2012. Dono de um quiosque na praia, César viu mudanças positivas e negativas com a construção do parque. “Isso aqui revitalizou, os comerciantes voltaram e apareceram outros. Mas o Piscinão não é só a piscina, é um espaço com área de esporte, praças, brinquedos e lona cultural. A água é tratada, mas o restante está em estado de abandono”, fala, indignado.

Para os moradores, o Piscinão serviu como alternativa para voltar a frequentar o litoral. É o que diz Edson Marinho, 70, mais conhecido como Maresia. “Eu venho a este local há mais de 40 anos. A Praia de Ramos não existe mais. Está tudo muito poluído, há uns criadouros de peixe artificial que podem cortar o corpo… Ali é um perigo. Nadar agora só aqui no Piscinão”, comenta o morador. “A inauguração do parque foi positiva, pois os antigos frequentadores voltaram para Ramos. Com a poluição, as pessoas que estavam indo para Flamengo e Botafogo voltaram para cá”, completou César.

Já o biólogo Mario Moscatelli, responsável pelo Projeto Olho Verde, vê o Piscinão de outra forma. “Aquele local, como tantos outros, precisava de uma área de lazer de fato, pois banhar-se nas águas da Baía é um suicídio. Mas sob o ponto de vista ambiental, não deixa de ser mais um puxadinho ambiental”, afirma.

Legado olímpico

O índice de poluição das águas de Ramos deve diminuir significativamente com a proximidade das Olimpíadas. A promessa é que 80% da Baía de Guanabara seja despoluída até 2016, devido à necessidade de usar o espelho d’água para algumas competições. A Praia de Ramos, neste caso, receberá o legado pós-olímpico. A obra está por conta do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que existe desde 1994. Em 20 anos, cerca de US$ 1,2 bilhão foram gastos, mas até o momento, os resultados são inexpressivos.

Moscatelli afirma que, se o PDBG funcionasse normalmente, não teria sido necessário condicionar a despoluição da praia ao evento olímpico. Segundo o biólogo, já em 2001 teria sido possível minimizar a poluição da praia e de seus afluentes, ao invés de investir pesado na construção da piscina. “Se o PDBG estivesse em funcionamento desde 1994, a região estaria bem mais limpa que agora. Há tecnologia, há dinheiro, mas falta vontade de resolver o assunto”, observa.

O biólogo aponta que os rios que deságuam na Baía tornaram-se extensão da rede de esgoto e colaboram com a sua poluição. A instalação de ecobarreiras foi uma das medidas usadas para sanear as águas dentro do prazo, bloqueando o lixo flutuante que chega pelos rios. Nas chuvas que ocorreram no final de 2013, três das 11 barreiras (Canal do Cunha e Rios Irajá e São João de Meriti) romperam-se, levando à Baía de Guanabara mais de 500 toneladas de lixo. Com este ocorrido, a despoluição torna-se ainda mais complicada. “Infelizmente as pessoas ainda continuam usando o rio como depósito de lixo. Nós temos o Canal do Cunha e o Rio São João de Meriti sem ecobarreira agora”, lamenta.

Apesar dos gastos e do tempo perdido, Moscatelli ainda acredita que seja possível recuperar a baía se uma série de medidas fosse tomada a partir de agora. “Em 15, 20 anos seria possível despoluir a baía e a Praia de Ramos, mas é necessário que exista uma política permanente de habitação, transporte e saneamento nos municípios que margeiam a baía. Dinheiro tem, o que continua de forma clara é a falta de vontade para salvar a ‘paciente’”, conclui.

Fonte: Brasil 247

Veja mais: http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/143637/Polu%C3%ADda-Praia-de-Ramos-sofre-com-abandono.htm

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