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Poluição na Lagoa da Conceição

Poluição na Lagoa da Conceição compromete o patrimônio natural, cultural e econômico de SC, diz estudo

Poluição na Lagoa da Conceição

Por: Maria Magnabosco

Um relatório de diagnóstico sobre a preservação da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, produzido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Segundo o estudo, a falta de tratamento adequado de esgoto e as demais intervenções humanas estão promovendo a perda do patrimônio natural, cultural e econômico da Ilha de Santa Catarina.

O documento servirá como subsídio na elaboração do Plano Judicial de Proteção da Lagoa da Conceição (PJ-PLC).

Os problemas de poluição da Lagoa podem ser percebidos pela aparição de zonas mortas, ou seja, locais em que a concentração de oxigênio na água fica abaixo de dois miligramas por litro. No entanto, a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) define que ambientes como a Lagoa da Conceição. Com água salobra e com importância para a pesca e turismo, deveriam ter concentração de oxigênio de 6 miligramas por litro.

Alessandra Larissa Fonseca, uma das autoras do relatório e professora do Departamento de Geociências da UFSC, aponta que a concentração de oxigênio abaixo de dois miligramas por litro caracteriza uma zona morta porque a maioria dos organismos que respiram oxigênio embaixo da água não conseguem respirar nessa concentração.

— Quem consegue sobreviver nessas condições são bactérias que precisam de pouca concentração de oxigênio ou bactérias que se desenvolvem na ausência de oxigênio. Isso gera um cheiro de ovo podre na água, por conta da produção de gás sulfídrico, que é um metabolismo de bactérias que sobrevivem e que vivem na ausência do oxigênio — explica Alessandra.

Rompimento de lagoa artificial levou à aparição de zonas mortas

Ainda de acordo com a pesquisadora, um dos motivos da aparição de zonas mortas foi o rompimento de uma lagoa artificial de tratamento de esgoto da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) em janeiro de 2021. O incidente trouxe problemas para o ecossistema da Lagoa da Conceição: a água tomou ruas do bairro, invadiu casas, arrastou carros e chegou até a Avenida das Rendeiras, onde se infiltrou para a lagoa. Segundo Alessandra, nesse evento houve uma entrada muito grande de nutrientes e matéria orgânica na água.

— Esse nutriente favoreceu o crescimento de uma alga que chegou a mudar a cor e a textura da lagoa de tanta biomassa dessa micro alga que cresceu. Quando essas algas morrem, o oxigênio é consumido no processo de decomposição. E aí faltou oxigênio para toda a lagoa, algo que nunca tinha sido registrado até então — diz a pesquisadora.

O rompimento da lagoa de evapoinfiltração (LEI) ocasionou o deságue repentino de cerca de 180 milhões de litros. O relatório da UFSC destaca: “Se considerarmos as cargas médias de nutrientes exportadas pelas águas superficiais de toda a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição para o corpo lagunar, a carga de nutrientes despejados pela lagoa de evapoinfiltração, em poucas horas, no dia 25 de janeiro de 2021, correspondeu ao que aconteceria em 24 e em 39 meses para nitrogênio e fósforo, respectivamente”.

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Casan trabalha pela recuperação ambiental da Lagoa

A Casan informou que uma série de medidas foi tomada para monitorar e avançar na recuperação ambiental da Lagoa da Conceição desde o rompimento. Segundo a Companhia, ainda em 2021 foi lançado o Trato pela Lagoa. Programa de educação ambiental e inspeção que visa regularizar o saneamento básico e contribuir para a melhoria ambiental da Lagoa da Conceição.

Além disso, a Casan fez uma limpeza na Lagoa de Evapoinfiltração (LEI) da Estação de Tratamento de Esgoto da Lagoa e implantou o chamado tratamento terciário. Que gera um efluente final com alta pureza. Atualmente, a empresa executa o projeto de Recuperação Ambiental nas dunas da Lagoa, que irá realizar a recuperação de todo o entorno da LEI.

Ainda segundo a Casan, logo após o incidente, foi elaborado um Programa de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) com autorização da Floram para a realização de diversas ações. entre elas, o monitoramento mensal em 30 pontos da Lagoa, que, de acordo com a companhia, constatou que os índices ambientais foram recuperados dentro de poucas semanas após o rompimento.

Poluição na Lagoa da Conceição

No entanto, Alessandra diz que seu grupo de pesquisa, ao utilizar o método de medição do estado trófico para monitorar a qualidade da água em casos de poluição por nutrientes. Concluíram que após o incidente da Casan, a água da lagoa esteve em um período de crise que permaneceu até este ano. Ou seja, apenas em 2023 apresentou melhoras.

— Eu fiz uma coleta recentemente, em agosto, para saber a qualidade da água. E pelo estado trófico da Lagoa, que é esse parâmetro que eu avalio, estava melhor. Mas a gente ainda identifica efeitos daquele problema, porque morreram muitos organismos, e o ecossistema é complexo. A gente tem espécies de base de cadeia alimentar e topo de cadeia, que ainda não são encontradas dentro da lagoa.

Fonte: NSC.

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