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Fornecedores de óleo e gás fecham as portas em Macaé

Capital brasileira do petróleo, a cidade de Macaé (RJ), na região Norte Fluminense, está vivendo uma onda de fechamento de empresas fornecedoras de serviços para a indústria petrolífera. Companhias como a SubSea7, Schahin, Dolphin Drilling, MI Swaco (da Schlumberger), Oil States e Distribution Now fecharam as portas de suas unidades na cidade. Outras grandes multinacionais, como a Halliburton, Schlumberger e Weatherford estão reduzindo a atividade no Brasil em resposta à queda dos investimentos da Petrobras, segundo levantamento da Prefeitura de Macaé.

Na cidade que concentra a maior parte da atividade dessa indústria bilionária, a crise atinge toda a cadeia de fornecedores, desde as grandes empresas, contratadas diretas da Petrobras, às subcontratadas, geralmente companhias de médio ou pequeno porte, desde as que prestam serviços de informática e entrega de refeições até as mais especializadas. Segundo o executivo de uma empreiteira nacional que atua na área de manutenção de equipamentos, as empresas de menor porte, que são subcontratadas, têm convivido com o atraso no pagamento de faturas das grandes fornecedoras – que, por sua vez, cobram o recebimento de aditivos contratuais não reconhecidos pela estatal.

A Schlumberger, uma das maiores prestadoras de serviços do mundo, esclareceu, por meio de sua assessoria, que está reduzindo seu quadro de funcionários em nível global, para se adaptar ao cenário mundial do setor de petróleo e gás. No Brasil, diz a empresa, “seguiu a mesma diretriz, diretamente relacionada à retração das atividades exploratórias no país”.

Por sua vez, a Halliburton informou que fez ajustes em sua força de trabalho em Macaé, “com base nas condições de negócios atuais” e que “continuará a monitorar o ambiente de negócios e irá ajustar o tamanho da força de trabalho para alinhar com as demandas atuais de negócios, conforme necessário”.

“Há grandes empresas renegociando contratos com a Petrobras sem saber quando vão receber. E ficam com material estocado sem saber quando entregar. Tem muita gente tentando entregar [rescindir] contratos [com a Petrobras] também. A empresa globalizada suporta [a redução da demanda], mas a nacional não consegue distribuir o prejuízo”, complementa o prefeito de Macaé, Aluízio dos Santos Júnior (PMDB-RJ), que também é presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro).

Pressionada pela necessidade de reduzir gastos frente ao cenário de baixa dos preços do petróleo e de seu alto endividamento, a Petrobras tem renegociado e, em alguns casos, cancelado contratos. Um dos casos mais representativos que ajudam a ilustrar a queda da atividade petrolífera no país é o número de sondas. Segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro) e da consultoria Accenture, 35 sondas marítimas devem operar este ano no país, contra as 47 que operaram no ano passado e as 71 de 2013.

Tudo isso se reflete na atividade da cadeia fornecedora sediada na festejada capital brasileira do petróleo. O prefeito diz que mais do que a atividade petroleira propriamente dita, Macaé está se ressentindo da queda da atividade econômica, refletida tanto nos serviços como restaurantes e hotéis, quanto nas empresas que servem refeições e até os serviços de transporte em helicópteros.

Esse cenário adverso levou a uma onda de demissões em 2015, quando Macaé perdeu 12.168 postos de trabalho segundo levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego. O número representa pouco menos de 10% dos 163 mil postos de trabalho formais que a cidade possuía em 2014, mas preocupa a administração local.

A arrecadação da Prefeitura de Macaé caiu 3,22% no ano passado, para R$ 2,22 bilhões, muito impactada pela queda de cerca de 30% em transferências governamentais relativas à exploração de petróleo (royalties e participações especiais), conta o prefeito. Os royalties respondem por 23% do orçamento do município, mas é o ISS a principal fonte de arrecadação de Macaé – responsável por 32% da receita.

Para tentar conter a onda de demissões no município, o prefeito Aluízio dos Santos decidiu este ano isentar as principais empresas da cadeia de petróleo do pagamento de Imposto Territorial Urbano (IPTU). E reduziu de 5% para 3,75% a alíquota de Imposto sobre Serviços (ISS) para as prestadoras de serviços que se relacionam com a cadeia de petróleo, “desde o bufê que faz a festa de fim de ano à empresa de manutenção de ar-condicionado contanto que mantenham 60% da mão de obra contratada em Macaé, disse. A isenção fiscal estimada é de R$ 20 milhões.

Atordoado com o estrago na arrecadação de royalties, Aluízio dos Santos diz que não vê outra saída senão a abertura do pré-sal para petroleiras estrangeiras, no espaço deixado pela queda dos investimentos da Petrobras. “Tem que mudar o marco regulatório, para garantir emprego. O grande problema nessa história [crise do setor petrolífero] não é o royalty, e sim a consequência gerando desemprego”, disse. Disse ter conhecimento de pessoas que aceitaram reduzir salários apenas para manter uma renda e, em especial, não perder o plano de saúde. “Lógico que royalty é bom, mas o fundamental é a atividade do petróleo: o ISS, ter hotelaria cheia, restaurante, transporte e aeroporto. E se não melhorar, vai ser caótico”, afirmou.

A Dolphin Drilling informou que o fechamento de sua unidade no Brasil reflete a perda de dois contratos – com a Petrobras, para afretamento da sonda Borgny Dolphin, e com a Anadarko, para aluguel da sonda Blackford Dolphin. Ao todo, a companhia tinha 260 empregados no país.

Em recuperação judicial, a Schahin negou que tenha fechado sua sede em Macaé, alegando que está “muito confiante” na aprovação do plano de recuperação. Um gerente da Distribution Now que pediu para não ser identificado disse que a empresa não fechou suas portas em Macaé, mas que apenas mudou uma de suas unidades para o parque de tubos da empresa, no mesmo município. Questionado sobre as demissões no processo de mudança, a fonte alegou que o assunto é “confidencial e estratégico” para a empresa. Procurada, a SubSea7 não retornou. Já Oil States e a Weatherford não foram localizadas.

Fonte: Valor
Foto: Divulgação/Valor

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