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Manaus gera 72 mil toneladas de lixo por mês e realidade segue como ameaça a recursos naturais

Manaus completa 348 anos e ao longo de mais de três séculos a população da metrópole amazonense ultrapassou 2 milhões de pessoas. O futuro do símbolo de beleza no coração da floresta amazônica é desafiado por um problema: o lixo. Com o aumento de habitantes, a capital também viu saltar o volume de lixo doméstico e industrial.

72 mil toneladas de lixo

Pelo menos 72 mil toneladas de resíduos domésticos são geradas a cada mês. O descarte incorreto ameaça igarapés, rios e lençóis freáticos, e o aterro sanitário municipal, onde é feito o descarte adequado, caminha para o limite máximo e só poderá receber lixo por mais 4 anos. No entanto, não há definição para a construção de um novo aterro para atender a demanda.

De janeiro a agosto de 2017 foram recolhidas 582.169 toneladas de resíduos sólidos em Manaus. Uma média diária de 2.395,8 toneladas de lixo doméstico. Em média, 72.771 toneladas de resíduos foram coletadas por mês. Os dados são da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp).

Comportamento que destrói

Quem anda pelas ruas da capital dificilmente ainda não presenciou alguém jogando na rua lata de refrigerante, uma pequena garrafa plástica de água ou até mesmo uma embalagem de bombom. Em alguns casos, o lixo ocupa trechos das principais vias.

Um exemplo desse hábito nocivo ocorre no bairro Petrópolis, na Zona Sul. Ao longo do córrego que é interligado com o Igarapé do Petrópolis é possível encontrar vários pontos com acúmulo de lixo. Plásticos, papel e até carcaças de eletrodomésticos são jogados na margem do córrego, na avenida Marquês da Silveira. Os resíduos que estão na margem vão parar nos igarapés e no Rio Negro, que são alguns dos maiores patrimônios naturais de Manaus.

O aposentado Jeová Fernandes Freitas, de 66 anos, disse que falta conscientização da população para descartar o lixo doméstico corretamente.

“A prefeitura faz campanha e informa o horário da coleta passar, mas não adianta. As pessoas vão lá e jogam o lixo na rua. Se essas pessoas que agem dessa forma fossem multadas, talvez sentindo no bolso, refletissem sobre esse tipo de prática”, opinou o aposentado.

toneladas de lixo

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Para a estudante do curso técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), Adria Trindade, de 19 anos, existe um hábito de jogar lixo na rua e isso faz parte de um ciclo de poluição que perdura.

“Se hoje nós estamos do jeito que está é pelo fato e as pessoas não terem consciência. Ontem mesmo, eu estava dando voltas por Manaus no carro de uma certa pessoa, e tudo o que comia jogava na rua. Não tem esse cuidado e acha que por ser uma embalagem de bombons pode, mas vai para o meio-fio e quando vem a chuva, é levado para os igarapés. É todo um ciclo de poluição e as pessoas não se conscientizam”, comentou.

Nos primeiros oito meses desse ano, em mais de 300 km de rios e igarapés foram mais de 3,5 mil toneladas de lixo recolhidas. Por dia, cerca de 22 toneladas de lixo estão sendo retiradas dos rios da cidade pelas equipes da Semulsp.

A falta de conscientização sobre o descarte correto dos resíduos é uma das principais barreiras para o serviço de limpeza de Manaus.

“Não se faz limpeza pública sem a efetiva participação de todos, os moradores da cidade cumprindo com os procedimentos. Também no caso de introdução de novos procedimentos e rotinas, é fundamental que os moradores se engajem no cumprimento do horário e no uso adequado de recipientes para coleta. Na colocação de materiais que efetivamente pertence a coleta domiciliar. É muito comum pessoas fazerem reformas em suas casas e colocarem resíduos de construção junto com a coleta domiciliar. É claro que isso não pertence a essa modalidade e torna inviável sua coleta pelo caminhão coletor domiciliar”, afirmou secretário da Semulsp, Paulo Farias.

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Ameaça a recursos naturais e saúde

A prática associada a uma série de erros tem colocado em risco os recursos naturais e a saúde da própria população. O lixo causa poluição ambiental e visual, a sujeira nas ruas pode provocar alagamentos e inundações em períodos de chuva pelo transbordamento dos igarapés e tubulações obstruídas pelos resíduos.

O custo anual com coleta e disposição do lixo de Manaus é de R$ 170 milhões. A coleta de lixo jogado em local inadequado eleva os custos com a limpeza do município.

“É um valor bastante expressivo e em vista disso é que se faz muito necessário que a população valorize esse recurso, atendendo procedimentos de coleta não jogando lixo no chão, não jogando resíduos pela janela de automóveis, não usando os igarapés como local de descarte de objetos para que se possa então obter o melhor resultado possível dessa expressiva quantia de recursos que é aplicada nessa atividade”, destacou Paulo Farias.

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Aterro no limite

Em operação desde 1986, o antigo lixão que depois se tornou o Aterro Sanitário de Manaus completa 31 anos em 2017. O local de destinação final dos resíduos sólidos urbanos de Manaus fica situado no KM 19 da rodovia AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara. O aterro possui uma usina para tratamento dos gases nocivos gerados na degradação do lixo, evitando que eles sejam lançados no meio ambiente.

O aterro sanitário de Manaus tem 75 hectares. A área está no limite e sua vida útil termina em 2021. Somente uma última área do aterro sanitário continua recebendo lixo e os resíduos estão sendo aterrados na terceira das cinco camadas restantes. Embora falte apenas quatro anos para o aterro ser desativado, a Prefeitura de Manaus ainda não definiu qual será a alternativa para destinação final dos resíduos da cidade.

“O processo já está aberto há algum tempo, as alternativas já foram levantadas e submetidas ao prefeito Arthur para que então tome-se a decisão sobre os próximos passos a serem dados sobre a destinação do lixo de Manaus. Claro que, com certeza, haverá em tempo hábil à nova unidade. Essa questão do local é uma questão um pouco controversa. Porque as cidades grandes hoje no Brasil adotam não é mais ter seu aterro próprio. As cidades hoje contratam junto a iniciativa privada os serviços de disposição e tratamento final de resíduos. É isso que Manaus fará, ou seja, nós vamos buscar no mercado empresas que estejam dispostas a atenderem o município com esse tipo de serviço”, explicou o secretário da Semulsp.

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Coleta Seletiva reduzida

Uma das soluções para o descarte correto do lixo produzido em Manaus é a coleta seletiva. Porém, o serviço só alcançou 14,1% da população da cidade em 2017. Dos 63 bairros, apenas 12 recebem caminhões da coleta para reciclagem.

De janeiro a agosto de 2017, a coleta seletiva organizada pelo sistema de limpeza pública de Manaus foi responsável pelo recolhimento de 7.292 toneladas de materiais recicláveis. A taxa de recuperação de materiais recicláveis alcançou somente o índice de 1,9%. A prefeitura afirma que responsabilidade da reciclagem também é dos fabricantes de produtos embalados.

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“A coleta seletiva hoje ela tem um desempenho de 1,9% do total de resíduos. Está muito aquém daquilo que seria possível, mas está mesmo um pouquinho acima da média das capitais brasileiras. Quanto a ampliar a coleta seletiva a prefeitura vem fazendo um esforço bastante grande para que essa ampliação se der nos termos da lei e do acordo setorial de logística reversa de embalagens, ou seja, fabricantes, importadores e distribuidores de produtos embalados devem sim assumir a sua parte nesse trabalho. Afinal, o acordo foi assinado por eles junto ao Ministério do Meio Ambiente e é isso que Manaus vem pleiteando e insistindo”, justificou Paulo Farias.

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Do lixo às flores

Uma iniciativa de transformar lixeiras clandestinas em jardins foi adotada pela prefeitura para tentar conscientizar os moradores. A Semulsp já levou o projeto para mais de 60 áreas de Manaus. A Secretaria Municipal de Limpeza Pública pretende continuar transformando os locais onde o descarte incorreto de lixo é crônico.

“Os resultados são variáveis porque as comunidades também não são todas iguais. Existem locais que as pessoas entendem, acatam e adotam o jardim que é implantado. Assumem os procedimentos adequados de coleta para seus resíduos, o jardim implantado é perene e afasta a lixeira viciada. Infelizmente, temos alguns casos em que a lixeira viciada retorna, mas a secretaria volta novamente e trabalha com a comunidade. É uma boa prática que além de evitar as lixeiras viciadas, embeleza a cidade, valoriza os imóveis e melhora a qualidade de vida das pessoas daquela área”, destacou o secretário da Semulsp.

Fonte: G1

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