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Agenda Azul

Por uma “agenda azul”: empresas mostram na COP28 por que a gestão da água deve ser prioridade para os negócios

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Por Vanessa Oliveira

Pare alguns segundos e olhe ao seu redor. Todos os produtos e serviços que você vê precisaram de água para serem feitos — seja na composição dos itens, seja na geração de energia que movimenta os processos industriais.

Algumas atividades são mais sedentas por água que outras, mas a cartilha da boa gestão hídrica convoca todos a cuidar desse recurso finito e essencial à vida.

Ainda temos um longo caminho para internalizar essa responsabilidade compartilhada, incluindo no setor corporativo, o que em tempos de aquecimento do Planeta liga um alerta para os negócios.

Dados do Observatório 2030 do Pacto Global da ONU no Brasil, feito a partir de análises de empresas listadas na B3 que respondem os relatórios de sustentabilidade a partir dos critérios do GRI, e que são participantes da rede brasileira, identificou que das 82 empresas avaliadas, 69 não mensuram o risco da escassez hídrica sob a ótica da quantidade e qualidade. Felizmente, também há exemplos positivos a serem compartilhados. Em encontro paralelo à COP28, que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, promovido pelo Pacto, empresas compartilharam esforços para cuidar da água.

Assim como nas discussões de alto nível da ONU, a emergência climática e seus riscos à segurança hídrica nortearam o encontro realizado no espaço Future Mobility Hub, no centro de Dubai. “Vivemos todos os dias situações extremas em relação ao clima e à água. No Brasil, em um mesmo dia, tem uma cidade sofrendo enchente e outra enfrentando seca”, observou Édson Carlos, diretor de sustentabilidade da Aegea e CEO do Instituto Aegea, uma das maiores empresas de saneamento do segmento privado no país. No Brasil, 35 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso à água potável e quase metade do país enfrenta graves deficiências em saneamento básico.

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Em Manaus, que sempre foi tida como cidade onde a iniciativa privada não funciona, a empresa teve de enfrentar uma dura realidade. “Encontramos uma cidade com uma franja de periferia era maior do que imaginávamos. Atualmente, mais de 500 mil pessoas recebem tarifa social. Quando chegamos lá eram pouco mais de 35 mil contempladas”.

O tarifário especial é concedido a pessoas com carência econômica, que, pelas dificuldades, acabam recorrendo a furtos, ligações piratas (os “gatos”), ou retiram água direto do igarapé, se expondo a problemas de saúde. “Hoje, todo mundo tem água potável”, comemorou Édson. O esforço agora é para expandir o esgotamento sanitário. Uma das dificuldades é entrar em regiões marginalizadas que, não raro, estão sob julgo de organizações criminosas.

“A partir da experiência em Manaus criamos uma metodologia para usar nas favelas do Rio de Janeiro: estabelecer conexão com líderes comunitários. Conversamos com mais de de 5 mil líderes, entramos em favelas e em comunidades com milícia”, contou o executivo. Nos últimos anos, a empresa também intensificou a contratação de moradores dessas regiões para o quadro de funcionários.

“Na Rocinha temos 800 colaboradores. Na Mangueira, 200”. Segundo ele, essa aproximação, associada à visitações in loco, permite à empresa compreender melhor a realidade e necessidades da população. “Tudo isso exige esforço técnico e financeiro, mas resultou numa metodologia que podemos aplicar em qualquer área pobre onde a companhia atua”.

Eficiência e regeneração

Karen Tanaka, gerente de Sustentabilidade e Especialista em Clima da Ambev compartilhou o papel estratégico que a água tem na empresa líder em cervejas, refrigerantes, água mineral e energéticos. “Água é essencial para o nosso negócio, afinal sem água boa não tem cerveja boa”, comentou. A empresa mantém os programas Bacias & Florestas, focado na preservação e restauração de quatro grandes bacias hidrográficas do país e perpassa 11 municípios.

“Temos a meta de ter 100% de nossas comunidades que moram em áreas de alto estresse hídrico recebendo melhorias mensuráveis, desde o aumento da disponibilidade de água, de reúso dessa água e de capacitação e engajamento nas ações locais.

Sustentabilidade

Ademais a executiva destacou ainda a importancia de inovações para o tema a partir de programa de aceleramento de startups da Ambev. “Temos muitas tecnologias sendo testadas. Uma delas é a Spectral, tecnologia brasileira de satélite que consegue saber se a disponibilidade de água aumentou ou não. Outra é a O2Eco, empresa que cria uma placa de cerâmica que permite à natureza remover matéria orgânica e outros poluentes do rio aumentando seu poder de regeneração”.

Segundo Karen, o piloto feito durante o programa de aceleração em 2023 evidenciou melhoria da qualidade de água do Rio Jequitibá, no Espírito Santo. Para 2024 está previsto um teste em Jaguariúna para entender o quanto o uso dessa tecnologia vai contribuir positivamente para o aumento da biodiversidade e da qualidade de água do Rio Jaguarí ao longo de 2 km do rio.

Então na Coca-Cola, eficiência hídrica é um processo constante. “Nos últimos 10 anos, mesmo com o negócio praticamente dobrando, o consumo de água reduziu por garrafa. Há 20 anos atrás, a gente usava 2,7 litros de água para cada litro de bebida envasada. Hoje, a média é de 1,51, ou seja 0,51 além do que é envasado”, contou Rodrigo Brito, head de Sustentabilidade da Coca-Cola. Para crescer o negócio sem aumentar o consumo, segundo ele, a empresa foca em tecnologia monitoramento das plantas. Mas do lado de fora da fábrica, também há um trabalho de resiliência e segurança hídrica.

Água é um ciclo fechado. É o mesmo volume de milhões de anos atrás, por isso precisamos proteger e preservar as bacias hidrográficas.

Energia na linha de frente

Portanto Rodolfo Sirol, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CPFL Energia, uma das primeiras empresas a entrar no movimento Mais Água do Pacto Global da ONU no Brasil, destacou desafios de trabalhar a questão hídrica em uma companhia “multiplayer”, que lida com geração, transmissão e serviços, e pontuou que o principal cliente da empresa é o setor de saneamento, que tem um alto consumo de energia. “Logo percebemos o quanto precisamos fazer parte desse movimento. O saneamento é um passivo histórico.

Em suma ele compartilhou um case da empresa na cidade de Santa Terezinha, próxima de João Câmara, centro de energia eólica no Nordeste, onde o acesso a água era precário. “Situada a cerca 30 km do litoral, nos deparamos com comunidades sem água potável, onde crianças e idosos percorriam distâncias grandes no lombo de burros para buscar água. Fizemos um projeto de dessalinilização, com investimento de 8 milhões de reais, e atualmente a distância máxima percorrida é de 500 metros” disse. As comunidades dessa cidade e de outras, como Amarelão, passaram a ter também algo básico: banheiro.

Fonte: Um Só Planeta.

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