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Avaliação química, ecotoxicológica e genotoxicológica de sedimentos de cavas de minerações a céu aberto, Goiás, Brasil

Resumo

A indústria da mineração é conhecida pelos intensos impactos ambientais que desencadeia, principalmente quando desenvolve suas atividades a céu aberto. Cavas de minas são formadas em jazidas exauridas e podem se constituir em promissoras oportunidades de uso para a sociedade ou em preocupantes passivos ambientais. Embora essas bacias artificiais estejam aumentando numericamente em várias partes do mundo, ainda são pouco conhecidas, o que torna sua gestão ambiental desafiadora. O presente trabalho teve como principal objetivo avaliar a qualidade ambiental dos sedimentos de três cavas de ouro desativadas localizadas no município de Mara Rosa, Goiás, Brasil, mediante análises químicas, ecotoxicológicas e genotoxicológicas. Para tanto, amostras foram coletadas no auge da estação seca e submetidas à análise de metais e ânions. Na sequência, testes ecotoxicológicos agudos e genotoxicológicos – Ensaio Cometa – foram desenvolvidos com exemplares de peixes da espécie Danio rerio, nas concentrações de 3,1%; 6,2%; 12,5%; 25,0%; 50,0% e 100,0%, além do grupo controle. Os resultados indicam que as três cavas estão ambientalmente comprometidas, especialmente o Lago Azul, cujas águas e sedimentos se mostram submetidos a intenso processo de condicionamento geológico. Os dados obtidos com os bioensaios não comprovaram a ecotoxicidade dos sedimentos de nenhuma das cavas, mas apenas alterações comportamentais nos organismos-teste expostos às concentrações de 25,0%, 50,0% e 100,0% das amostras do Lago Azul. Em relação aos sedimentos, foram detectados danos ao DNA nos três ambientes pesquisados, sendo que o Lago Azul se mostrou genotoxicologicamente mais comprometido.

Introdução

Devido à crescente demanda por minerais, essa atividade econômica vem se configurando como uma das principais desenvolvidas por muitos países. O Brasil, detentor de um dos maiores potenciais geológicos do mundo, se destaca nesse contexto e deverá ampliar consideravelmente seus complexos minerários nos próximos anos (IBRAM, 2013). Contudo, os desafios da gestão ambiental do setor são grandes e requerem esforços conjuntos de toda a sociedade. Não são raros os casos de acelerada diminuição da qualidade de recursos naturais como solo e águas superficiais e subterrâneas em áreas mineradas, especialmente na fase de pós-operação de empreendimentos que, muitas vezes, são abandonados sem que tenham sido implementadas todas as medidas de controle e recuperação ambiental necessárias (CALIJURI e CUNHA, 2013).

Minerações auríferas se destacam nesse contexto, pois o ouro normalmente está associado a rochas sulfetadas originalmente em equilíbrio químico que, quando em contato com a água e o ar, podem fomentar o surgimento de drenagem ácida de mina (DAM). A DAM possui elevado potencial de degradação ambiental, pois é ácida e rica em metais tóxicos dissolvidos, sendo responsável pelo surgimento de inúmeras áreas contaminadas ao redor do mundo (SÁNCHEZ, 2008; ROMERO et al., 2010).

Cavas de mineração, apesar de ambientalmente complexas, vêm sendo cogitadas para uso como alternativas de recuperação ou em atividades humanas selecionadas. Todavia, estudos que buscaram mensurar o grau de comprometimento ambiental desses lagos artificiais ainda são raros na literatura científica (MOLLEMA et al., 2015), especialmente no tocante aos aspectos associados à qualidade de sedimentos.

Nesse sentido, autores como Esteves (2011) esclarecem que sedimentos integram um dos mais importantes compartimentos associados aos ecossistemas aquáticos, pois se constituem em um estoque temporalmente cumulativo de compostos químicos tóxicos. Por outro lado, ainda que a princípio a coluna d’água apresente boa qualidade, sedimentos contaminados acomodados no fundo podem se ressuspender devido a processos antrópicos, como de bombeamento de água, ou mesmo naturais, como de estratificação térmica (EDBERG et al., 2012) e, consequentemente, reintroduzir elementos tóxicos na água, tornando-a potencialmente prejudicial aos seres vivos.

Dependendo do uso que se pretende dar às cavas, avaliações mais amplas e profundas são necessárias para que se compreenda melhor os riscos potenciais associados a esses ambientes. Nesse sentido, análises ecotoxicológicas são entendidas como alternativas avançadas de monitoramento e avaliação do meio natural, pois agregam aspectos nas avaliações ambientais, possibilitando obter respostas mais profundas sobre o recurso analisado. Bioensaios são desenvolvidos com organismos-teste específicos que, após expostos às substâncias de interesse, fundamentam o estabelecimento de relações de causa e efeito, permitindo antever os riscos potenciais a que o meio natural possa estar exposto caso entre em contato com elementos tóxicos (SÄMY et al., 2010).

A cidade de Mara Rosa (Goiás – Brasil) conviveu com extrações auríferas em garimpos de aluvião por décadas, porém, nos últimos anos essa atividade rudimentar deu lugar a grandes empresas de mineração a céu aberto que se instalaram na região, atualmente desativadas. O passivo ambiental oriundo das práticas de mineração desenvolvidas no Município não foi recuperado a contento, sendo constituído principalmente por três cavas situadas em sua área rural, nas quais se formaram lagos artificiais. Além disso, os sedimentos presentes nessas unidades, seus possíveis elementos tóxicos e suas relações de causa e efeito sobre organismos-teste padronizados nunca foram analisados à luz da Química e da Toxicologia Ambiental, o que torna seus efeitos ambientais potenciais desconhecidos. Assim, o presente trabalho teve como principal objetivo avaliar a qualidade ambiental dos sedimentos de três cavas de ouro desativadas localizadas no município de Mara Rosa, Goiás, Brasil, mediante análises químicas, ecotoxicológicas e genotoxicológicas.

Autores: Vinícius Fagundes Bárbara; Maria Gizelda de Oliveira Tavares; Daniela de Melo e Silva; Elieser Viegas Wendt e Nelson Roberto Antoniosi Filho.

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