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Identificação, quantificação e classificação dos resíduos sólidos de uma fábrica de móveis

Resumo

O setor de móveis é um grande consumidor de matérias-primas e, como tal, gerador de expressiva quantidade de resíduos sólidos, líquidos e atmosféricos. A natureza dos resíduos depende, exclusivamente, do processo industrial em questão. A fabricação de móveis esteve sempre relacionada à maior geração de resíduos sólidos, principalmente nas etapas de beneficiamento da madeira. No entanto, raramente essas unidades de produção dispõem de um plano de gestão para esse tipo de resíduo. Neste sentido, o presente trabalho objetiva identificar, quantificar e classificar, de acordo com normas pertinentes da ABNT, os resíduos sólidos provenientes de uma fábrica de móveis localizada na cidade de Irati, PR. Propõe, ainda, maneiras de reutilização e reciclagem desses resíduos. Para tanto, a metodologia empregada foi a coleta de informações dos resíduos, do processo produtivo e das matérias-primas utilizadas. Para realizar a classificação, utilizou-se a norma NBR 10004, de 2004. Os resultados indicaram que os resíduos de maior geração são, de fato, os de madeira (pó, cepilhos e aparas de painéis); em menor quantidade, há geração de resíduos de plásticos, metais e papel/papelão. Têm-se ainda a geração de resíduos perigosos, como solventes orgânicos e borra de tinta. Pode-se concluir que a quantidade de resíduos gerada por uma única empresa pode não ser expressiva, mas no contexto nacional se torna um problema de consideráveis proporções.

Introdução

O crescimento desordenado da população mundial desencadeou um aumento excessivo no uso de energia e no consumo de matérias-primas, o que ocasionou, por conseqüência, um aumento cada vez maior na geração de resíduos. Essa geração, de maneira geral, ocorre em todos os processos de utilização e transformação de matérias-primas. Nesse caso, os resultados dessa transformação geram, incondicionalmente, resíduos sólidos, líquidos e atmosféricos. Braga, Hespanhol e Conejo (2005) comentam que, com a implantação de políticas ambientais, a sociedade e os indivíduos passam a ter à sua disposição um ambiente potencialmente capaz de propiciar a satisfação de uma série de demandas antes impossíveis de serem atendidas. Dentre elas estão as questões ligadas à produção e à eficiência do processo produtivo, como a redução das perdas de matérias e equipamentos em um ambiente menos agressivo. Em conseqüência dos processos econômicos esse novo ambiente passa a constituir um bem de mercado.

A natureza dos resíduos depende exclusivamente do processo industrial em questão. A fabricação de móveis esteve sempre relacionada à geração de resíduos sólidos, principalmente nas etapas de beneficiamento da madeira. No entanto, raramente, essas unidades de produção dispõem de um plano de gestão para esse tipo de resíduo.

Os resíduos sólidos são definidos, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, NBR 10.004, 2004a), como:

Todo resíduo nos estados sólido e semi-sólido resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam, para isso, soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

Ainda, de acordo com essa mesma norma, os resíduos podem ser classificados nas seguintes classes:

I – perigosos;
IIA – não perigosos; e
IIB – inertes.

Essa classificação acontece por meio da identificação do processo ou atividade que lhe deu origem, seus constituintes, suas características físicas, químicas e biológicas e a comparação com listagens de resíduos já conhecidos.

O BNDES (2007), classifica a indústria de móveis com base nas matérias-primas predominantes. As categorias básicas são: móveis de madeira, que constituem o principal segmento, representando 72% da produção total; os móveis de metal, representando 12%; e o restante, confeccionados por outros materiais, que reúne colchoarias e persianas. Segundo Nahuz (2005), a indústria moveleira integra uma grande variedade de materiais, sendo os principais: materiais derivados da madeira (madeira bruta, painéis, lâminas e derivados); metais (principalmente alumínio, aço e latão, utilizados em puxadores, dobradiças, corrediças, etc.); vidros e cristais; produtos químicos (tintas, solventes, colas, vernizes, etc.); plásticos (fitas de borda, lâminas, puxadores, deslizadores, etc.) e tecidos e couros (naturais e sintéticos). Esta mescla de materiais utilizados tem como conseqüência uma grande e complexa diversidade de resíduos, que, pela falta de um plano de gestão adequado, acabam dificultando programas de reúso, reciclagem e outras formas de destinação final adequada.

Segundo ABIMÓVEL (2006), no levantamento efetuado na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, em 2004, existem no Brasil cerca de 16.104 empresas do setor moveleiro que geram 206.352 empregos com faturamento anual de 12,5 bilhões de reais. Nahuz (2005) admite, porém, que o número de empresas pode chegar a 50.000, devido à atuação informal. Com base nesses números, pode-se ter uma idéia do volume de resíduos gerados somente neste setor.

Por utilizar, principalmente, produtos derivados da madeira (um recurso natural renovável), não é dada à indústria da madeira a devida importância no que se refere às questões ambientais. No país, estima-se que não chegam a 5% as empresas que praticam algum esquema de conservação ambiental, com prevenção de impactos ambientais causados por seus processos produtivos, matérias-primas, insumos e componentes utilizados, pela geração de resíduos e pela disposição destes (NAHUZ, 2005). Porém, devido ao elevado custo das matérias-primas e componentes utilizados, a indústria moveleira vem amadurecendo a idéia de otimizar o uso desses materiais; ainda assim, mais por questões econômicas do que propriamente ambientais.

Considerando a importância do setor moveleiro no cenário econômico brasileiro, os aspectos e impactos ambientais, os custos na recuperação dos ambientes degradados e os benefícios às organizações, a gestão ambiental emerge na indústria de móveis como forma de redução de custos no processo produtivo, destinação de seus resíduos e, ainda, como ferramenta de competitividade de mercado. Segundo a norma ISO 14.001 (2004b), um dos requisitos na implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em uma organização é o estabelecimento e a implementação de procedimento de identificação e controle dos aspectos ambientais relacionados com suas atividades.

Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo identificar, classificar e quantificar os resíduos sólidos provenientes do processo produtivo de uma fábrica de móveis de pequeno porte, localizada no município de Irati, Estado do Paraná, por meio da utilização da norma da ABNT NBR 10.004 (2004a). O trabalho abrange todo o processo produtivo da empresa e sugere formas de gestão.

Autores: Pedro Altamir Kozaka, Alison Moura Cortezb, Waldir Nagel Schirmerc, Marcos Vinicius Winckler Caldeirad e Rafaelo Balbinot.

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