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Os impactos das perdas de água no sistema de abastecimento

Muito se fala em recursos hídricos. Especialmente após a crise hídrica no Sudeste em meados de 2014 e 2015, aumentou-se a discussão sobre a preservação e uso consciente da água.

Temos alguns artigos sobre a abundância hídrica no Brasil e as dificuldades dos sistemas de abastecimento. Temos um país rico em águas subterrâneas e por precipitações. Entretanto, a distribuição é irregular nas regiões do país.

O estado do Amazonas é rico em capacidade hídrica, porém, possui uma das menores densidades populacionais do Brasil. Essas divergências regionais dificultam o planejamento da gestão.recursos-hidricos

Ainda em 2017, diversas cidades sofreram racionamentos. Hoje, a crise hídrica volta a assombrar São Paulo e ser pauta nas mídias.

Um assunto que percorre os anos e gera grandes debates para o setor da água é a redução de perdas.

O índice de perdas é um dos principais indicadores de eficiência da operação dos sistemas de abastecimento de água. E é algo que tem feito as empresas despenderem grandes esforços.

Apesar de uma redução tímida ao longo dos anos, o indicador geral do Brasil tem reduzido. Por outro lado, as disparidades entre as regiões são gigantescas.

Perdas de água no sistema de abastecimento

No ramo do saneamento e da gestão ambiental sempre existiu um debate sobre controle de perdas. Para fins de conhecimento vamos elucidar o conceito de perdas de água.

De acordo com a ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), chama-se de perda real aquele volume de água desperdiçado antes de chegar às unidades de consumo. Isto é, as perdas reais se referem à toda água tratada que se perde no sistema de distribuição.

Além disso, tem-se as perdas aparentes, também conhecidas como perdas comerciais. Elas são consideradas como o volume consumido e não computado pelas operadoras. E a consequência desse tipo de perda é clara: a cobrança deste volume se faz de forma inadequada.

Até um tempo atrás, a contabilização das perdas se distinguia de país para país, não havendo uma forma global.

Assim, a Associação Internacional da Água (IWA) buscou padronizar o entendimento dos componentes dos usos da água. Como resultado, gerou-se a matriz de Balanço Hídrico, na qual é possível inserir os tipos de perdas.

Quando comparamos o Brasil com alguns países desenvolvidos, é possível notar o grande espaço para mudanças. Cidades da Alemanha e do Japão possuem índices de perdas em torno de 11% e a Austrália possui 16%.

Com valores médios decrescentes, o Brasil se movimenta em velocidade baixa. Dados do SNIS (2015) aponta o índice nacional de perda de água em 36,7%.

 

 

 

saneamento

Quando se olha os indicadores passados, nota-se que a evolução foi muito lenta. Em 2011, o índice era de 38,8%. Isso significa que, em quatro anos, a redução foi de apenas 2,1 pontos percentuais.

O cenário brasileiro piora quando se olha para os índices estaduais

Em um momento de retomada de investimentos do setor de saneamento, é notável o desafio para as concessionárias públicas e privadas de saneamento.

Do ponto de vista da gestão, é necessário implementar ações para enfrentar o problema. De acordo com a ABES, em algumas empresas de saneamento, as perdas de água ultrapassam os 60%.

Isso é notável observando os índices estaduais divulgados pelo Instituto Trata Brasil. Em 2010, a média brasileira de perdas de faturamento era igual a 37,57%.

Nas regiões, segundo o Instituto, a média era de de 51,55% na região Norte, 44,93% na região Nordeste, 32,59% na região Centro-Oeste, 35,19% na região Sudeste e 32,29% na região Sul.

Com a Caesa (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), foram colocados em práticas dois programas para redução das perdas.

Para a companhia, as ligações clandestinas e a quantidade de consumidores não cadastrados como clientes são as maiores dificuldades.

Ressalta-se que este não é um problema somente no estado do Amapá. No geral, um dos grandes desafios para as concessionárias brasileiras é identificar as ligações clandestinas, principalmente nas construções irregulares.

mangueiras

Com isso, as perdas de água representam um dos maiores desafios e dificuldades para a expansão das redes de distribuição de água no Brasil. Isso impacta também na expansão do esgotamento sanitário no país devido às perdas de receita.

O Instituto Trata Brasil afirma que tais perdas possuem diversas causas. Elas se derivam não somente das ligações clandestinas e roubos de água, mas também por ausência de hidrantes, medição, vazamentos, corrosão, idade avançada das redes de distribuição, obras mal executadas, entre outras.

Impactos financeiros das perdas de água

Para as concessionárias, um elevado índice de perdas significa uma redução no faturamento. Consequentemente, diminui sua capacidade de investir e obter financiamentos.

É importante saber que a abordagem econômica para cada tipo de perda é diferente.

Sobre as perdas reais recaem os custos de produção e distribuição da água. Já sobre as perdas aparentes, tem-se os custos de venda da água, acrescidos dos custos de coleta do esgoto.

tabela

Para o Instituto Trata Brasil, a perda real de água tem um grande impacto negativo sobre o meio ambiente. Muitas cidades já sofrem escassez hídrica, como ressaltamos no início do texto, e as perdas fazem com que mais água tenha que ser retirada da natureza para cobrir a ineficiência, vazamentos e outros problemas no sistema de distribuição.

A ABES ressalta que a redução das perdas reais permitem às empresas produzirem menores quantidades de água tratada para abastecer a mesma quantidade de pessoas.

Com isso, tem-se a redução de produtos químicos, energia elétrica, compra de água bruta (nos casos em que há cobrança pelo uso da água) e custos com mão de obra. O quanto isso impacta financeiramente?

Por outro lado, a redução de perdas aparentes impactam na receita das concessionárias.

Diminuir fraudes na ligação, a falta de hidrômetros, os problemas de medição e os consumos não faturados geram um aumento do volume faturado, o que permite planejar investimentos necessários para atender o aumento da demanda decorrente do crescimento populacional.

Do ponto de vista econômico-financeiro e ambiental, diminuir as perdas de água é viável para as operadoras e permitem que mais pessoas sejam atendidas.

Para os consumidores, além da possibilidade de expansão e melhorias nos serviços de saneamento, não é feito o repasse das perdas para as tarifas cobradas.

Programas de Redução de Perdas de Água

Diversas empresas de saneamento estão investindo em Programas de Redução de Perdas. Esses programas consideram a relação entre o valor gerado pelo volume de água economizado e o valor do investimento, seja em infraestrutura ou gestão comercial, para lograr a redução de perdas.

Segundo a ABES, conforme os níveis de perdas reduzem, os custos dos programas se elevam, pois a economia de água gerada por investimento realizado é cada vez menor.

Os programas de redução de perdas aparentes são financeiramente atraentes, pois geram um retorno financeiro rápido.

Já os programas para a redução de perdas reais inicialmente são atrativas, principalmente quando há um elevado índice de perda, porém, após uma redução significativa os investimentos deixam de se tornar atraentes.

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O saneamento básico é uma das áreas mais atrasadas da infraestrutura nacional. Sua expansão e melhorias dependem da boa gestão do setor e em especial, da dramática situação das perdas de água.

O Instituto Trata Brasil estima que uma redução de 10% nas perdas de água agrega cerca de R$ 1,3 bilhão à receita operacional com a água.

Há muito o que ser feito pelo governo e pelas empresas brasileiras de saneamento para aumentar a eficiência operacional.

A ABES ressalta que as atitudes para redução das perdas demandam planejamento, conhecimento e persistência das ações. É possível obter resultados rápidos, entretanto, grandes reduções exigem um longo prazo.

Temos também um artigo com atitudes para redução de perdas de água, existindo diversas ações a serem realizadas contra as perdas financeiras na água. Confira em nosso blog!

Fonte: EOS Consultores

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