Resumo

Em sistemas de abastecimento, as perdas de água representam uma relevante parcela da água produzida pelas companhias de saneamento. Notadamente, a maior fração de perdas corresponde aos vazamentos que ocorrem em redes, ramais e cavaletes. Entretanto, a correta quantificação das mesmas se depara com dificuldades inerentes à aleatoriedade dos materiais utilizados e às próprias características e dinamicidade dos sistemas de abastecimento.

Nesse contexto, o presente trabalho visa quantificar a vazão dos vazamentos em redes, ramais e cavaletes através de medições de vazamentos em campo ocorridos nos municípios de São Paulo e São José dos Campos. Adicionalmente, foram coletados dados de materiais, pressões e locais dos vazamentos devido à sua direta relação com as vazões de vazamentos. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente e os resultados serão apresentados no trabalho, contribuindo para o levantamento de estimativas de perdas bem como de recuperação de volumes através de ações de perdas.

Introdução

As perdas de água no abastecimento representam um contínuo desafio às companhias de saneamento, demandando constante manutenção das estruturas que se deterioram com o tempo e a adequada gestão comercial dos clientes (TSUTIYA, 2006). Além disso, constituem um importante indicador de eficiência operacional, pois a sua correta gestão pressupõe baixos índices de perdas.

Os vazamentos constituem a maior parcela de toda a água perdida em redes de distribuição das companhias de saneamento do Brasil. Apesar de sua importância para a gestão das perdas, há poucos dados quantitativos disponíveis de vazões de água perdida nos vazamentos. As companhias de saneamento no Brasil e no mundo apresentam seus índices de perdas calculados a partir de balanços de volume macromedido versus micromedido na área de concessão da empresa ou em áreas geográficas menores como distritos de medição ou setores de abastecimento. Apesar destes indicadores serem de extrema importância, nem sempre são sensíveis às ações para redução de perdas, dificultando aos gestores avaliar a relação custo benefício destas ações. Nesse contexto, contabilizar o volume de água recuperado por estas ações a partir das vazões de vazamentos reparados nas redes ramais e cavaletes seria de grande valia. No entanto, caracterizar tais vazões de vazamentos não é um problema de fácil solução, razão pela qual tais dados são inexistentes na literatura até onde foi possível verificar; as pesquisas nesta área tem obtido mais sucesso em modelos para identificar os pontos de vazamento e não medir o vazamento (WU; YIPENG & LIU; SHUMING, 2017).

O presente trabalho apresenta os resultados de um estudo pioneiro que busca caracterizar as vazões de vazamentos em redes, ramais e cavaletes através de medições. Ao todo, foram coletadas 1.662 medições de vazão de vazamentos em redes, ramais e cavaletes reparados no ano de 2017 no município de São Paulo e São José dos Campos. Além da vazão de vazamento, outros dados como a pressão antes e após o reparo de vazamento, o tipo de material da rede, a localização e o tipo de rompimento do vazamento também foram levantados, de forma a analisar suas possíveis influências nas vazões.

A análise apontou margens de erro aceitáveis para aplicações reais, porém para algumas situações o aumento na amostragem de dados poderia garantir maior confiabilidade das vazões características.