São mais de 480 milhões de metros cúbicos desperdiçados por vazamentos e ligações clandestinas apenas nessas regiões das capitais brasileiras.
Quantidade suficiente para abastecer quase três milhões de pessoas por ano, ou toda a população de João Pessoa, Teresina e Natal juntas, capitais que estão sofrendo com a seca histórica no Nordeste.
O levantamento, feito pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental com base em dados do IBGE, mostra que a regularização do saneamento nas favelas poderia recuperar 27% de toda a água perdida nas capitais. Poderia também evitar riscos à saúde da população, como explica o presidente da Abes, Roberval Tavares de Souza.
‘O abastecimento irregular gera vazamentos porque são canos de água que não seguem nenhuma norma de engenharia. Essa água é empoçada e pode gerar vetores como dengue e chikungunya. Tem que ter vontade política e vontade de todas as partes interessadas, Ministério Público, operadoras, classe de engenharia para que a gente possa regularizar essa situação e reduzir perdas de água, levar cidadania e melhorar a saúde da população.’
Rio de Janeiro e São Paulo lideram o ranking das cidades com o maior número de domicílios em áreas irregulares. Juntas as duas capitais somam quase 800 mil moradias clandestinas, 40% do total.
Para o conselheiro do Conama e presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, falta fiscalização e planejamento por parte dos agentes públicos.
‘Enquanto continuarmos nesse estado de não planejamento nós vamos ter que lidar com a desconformidade, essas populações vão continuar no meio do esgoto, haverá dificuldade para levar saneamento e o meio ambiente acaba sendo também prejudicado. Ou seja, temos que investir numa infraestrutura para a sustentabilidade. E isso é planejamento territorial.’
Dados do Ministério das Cidades mostram que planejamento não tem sido uma máxima quando o assunto é redução das perdas de água na distribuição.
Nos últimos cinco anos, as perdas em nível nacional caíram apenas 2 pontos percentuais, de 38% para 36%. Em países desenvolvidos, como Alemanha e Japão, o índice gira em torno de 11% e 16%.