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Especialistas falam sobre a crise hídrica no Espírito Santo

O Espírito Santo enfrenta o terceiro ano sem chuvas significativas. Pesquisadores dizem que as mudanças no clima eram previstas há mais de dez anos e a estiagem não é a única responsável pela crise hídrica que o estado enfrenta.

De acordo com o doutor em recursos hídricos, Antônio Sérgio Mendonça, o desmatamento está sendo um dos agentes da crise hídrica.

“Por exemplo, o desmatamento foi feito nos últimos cem anos. O desmatamento é um fator importante, porque a árvore serve para ajudar a infiltrar água no subsolo. Se nós não tivéssemos alguma água infiltrando das chuvas em vinte anos atrás, dez anos, já teria secado o Rio Jucu e o Rio Santa Maria”, disse.

A doutora em saneamento, Edumar Ramos, acredita que o reflorestamento e a educação para o uso da água poderiam ter reduzido o impacto da falta de chuva. No entanto, os anos passam, cresce o número de habitantes e aumenta o consumo individual de água.

“Pra ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde diz que 110 litros por habitante ao dia é o valor suficiente para termos um conforto no uso da água. E, no nosso sistema, chegamos a 180 litros por habitante ao dia. Então essa também é uma possibilidade de se reduzir o consumo do abastecimento público”, afirma.

Edumar também aponta uma falha na distribuição. Da estação de tratamento até nossas casas, mais de 30% da água se perde em vazamentos.

Segundo Ricardo Franci, doutor em saneamento, a população e o poder público poderiam ter se preparado para a escassez de água.

“O painel internacional que estuda as mudanças climáticas já sinalizava para esses eventos extremos na nossa região. Tanto é assim que vários países do mundo instalaram comitês para estudar especificamente o impacto das mudanças climáticas na indústria da água. No Brasil, pelo fato de a gente sempre conviver com a lenda de que o país é a pátria d’água, que nós temos abundância, nós postergamos a criação desse comitê”, disse.

Ainda segundo Ricardo, o racionamento é uma medida extrema, mas uma das poucas saídas a curto prazo. “A população precisa economizar água, menos tempo no banho, procurar vazamento em nossas casas. Evitar o desperdício, na medida do possível”, afirmou.

O especialista Antônio Sérgio acredita que a estiagem foi influenciada pelo fenômeno climático El Niño e que, no final do ano, o volume de chuva deve se normalizar. Para incentivar a economia de água nos condomínios, ele defende a instalação de um hidrômetro em cada apartamento.

“Porque quando se tem um hidrômetro só num prédio inteiro, a tendência é o consumo ser muito maior. O morador acha que o desperdício dele será pago por todo mundo”, explicou.

De acordo com Edumar Ramos, podemos nos preparar para outros períodos de seca. “A construção das barragens, de acúmulo de água para usos múltiplos, que elas estão previstas, seria a longo prazo. A questão das perdas no sistema de abastecimento público, isso não seria a tão curto prazo. Talvez em um ano, dois anos, a gente poderia minimizar. A diminuição do consumo também poderia ser uma possibilidade a curto prazo”, disse.

Segundo Ricardo Franci, enfrentar a seca também exige leis que incentivem o consumo sustentável de água, medidas que poderão dar resultado a longo prazo.

“Por exemplo, o IPTU verde sinaliza para quem construir sustentavelmente ter benefícios econômicos por ter tomado medidas em direção da sustentabilidade. Outros exemplos são as multas por excesso de consumo, ou produção de resíduos. Precisamos da legislação, porque precisamos aumentar a eficiência ambiental das nossas cidades”, explicou.

Foto: Reprodução/ TV Gazeta
Fonte: G1

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