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Gestor da Usiminas buscará conselho independente

Da sacada do edifício-sede da Usiminas, em Belo Horizonte, o advogado Marcelo Gasparino da Silva, de 44 anos, reserva alguns poucos minutos para contemplar uma das mais belas vistas da cidade, renovando as energias que o novo cargo de presidente do Conselho de Administração da siderúrgica vai demandar. “Dedicarei 24 horas do dia, se for esta a demanda da companhia”, afirma. Escolhido numa eleição vencida pelos acionistas minoritários, e, por isso, considerada histórica para a empresa de 52 anos e meio e o mercado de capitais brasileiro, ele comanda, hoje, a primeira reunião à frente do conselho.

Para a pauta, leva propostas já apresentadas como conselheiro, mas que, no seu entendimento, não receberam a devida atenção. Gasparino defende mudanças para melhorar as práticas de governança corporativa das subsidiárias Mineração Usiminas, Usiminas Mecânica e Soluções Usiminas. Prega, também, nova revisão dos custos de produção e da política de exportações da empresa, além de um programa mais amplo de capacitação de pessoal, retenção de talentos e identificação Sobre o conflito que já dura sete meses entre os principais acionistas da siderúrgica – a Nippon Steel & Sumitomo e a Ternium/Techint – recorre ao antigo ditado que põe cada macaco no seu galho. “Vou buscar todas as formas de me blindar de qualquer tipo de assunto que vá provocar ruídos com os acionistas controladores. Posso ser julgado pelas decisões que tomei. Fáceis ou difíceis, foram decisões que o tempo mostrou serem adequadas”, diz.

Experiência não falta a Gasparino, conselheiro de sete companhias e agora iniciando seu 15º mandato no conselho de uma empresa de capital aberto no país. Com o desejo de se reeleger em 2016, diz estar disposto a fazer todo o esforço pela paz societária e a recuperação da companhia, que divulga amanhã o seu balanço do primeiro trimestre. Nesta entrevista, o presidente do Conselho de Administração da Usiminas fala, sem rodeios, sobre o papel que pretende desempenhar.de lideranças.

Como presidente do Conselho

Espero poder desempenhar no curto prazo de um ano, por meio do melhor que posso fazer, tudo a que eu pretendo me dedicar, além de fazer alguns amigos. Não se consegue acertar sempre, mas comprometo-me a fazer o melhor e a ouvir mais do que falar, tomando decisões somente após saber as posições das outras partes. Estou disponível para qualquer demanda que a companhia julgar necessária. Podem esperar de mim transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade socioambiental. Todos esses aspectos serão tratados da mesma maneira. Os conselheiros, eleitos pelos acionistas controladores ou não, têm de trabalhar pela responsabilidade. Esta é uma empresa vitoriosa, que já teve outros momentos adversos, os superou e manteve a liderança no seu mercado de atuação.
A eleição e o futuro

Foi a terceira eleição a qual concorro na Usiminas. Cheguei na companhia em 2012 e fui reeleito conselheiro no ano passado. Quero passar pela Usiminas e escrever uma parte importante da minha história profissional na empresa. Afastei-me da advocacia para total dedicação à governança corporativa e não pretendo parar por aqui. Que essa passagem pelo Conselho da Usiminas possa refletir a experiência que tive em sete companhias do novo mercado, níveis 1 e 2 da governança corporativa, cada uma com sua cultura e várias delas líderes em seus segmentos de mercado. Vou trabalhar para ser candidato ao conselho em 2016 e, com certeza, aqui não será dado o meu último passo.
Sobre os acionistas

Como empresa com controlador definido, a Usiminas desfruta do privilégio de ter duas grandes companhias como acionistas – o maior produtor de aços do Japão e o maior da América Latina. Isso tem de ser capturado em termos de melhoria para a Usiminas; como esses dois gigantes poderão influenciar positivamente nos seus destinos. A eleição de um representante dos acionistas minoritários pode ser vista como positiva num cenário como este. Um conselho independente, pelos princípios que me trouxeram até aqui, pode nos levar a alinhar os interesses. Vou trabalhar para que os controladores enxerguem que o meu objetivo é o melhor para a companhia. Buscarei todas as formas para me blindar de qualquer tipo de assunto que vá provocar ruídos com eles. Posso ser julgado pelas decisões que tomei. Fáceis ou difíceis, foram decisões que o tempo mostrou serem adequadas. Meu papel é manter o melhor relacionamento possível com eles. Será que o mercado brasileiro não enxergaria com bons olhos a aceitação pelos acionistas controladores de um presidente do conselho independente?

Crise econômica e investimentos

Vivemos um momento adverso na economia, mas é na adversidade que a gente vê oportunidades. Temos de fazer aquilo que é importante para que a empresa não perca qualidade produtiva. A situação é de muita cautela por parte de todas as companhias, principalmente aquelas que, como a Usiminas, demandam muito capital (o plano de investimentos da Usiminas para 2015 será apresentado em reunião do Conselho de Administração no mês que vem). Não há o que questionar sobre os investimentos praticados nos últimos três anos. Isso é parte fundamental da estratégia definida pelos acionistas controladores. O mercado brasileiro tem muito a crescer e os ciclos da economia são históricos. Vamos superar este momento. Este ano não é um período que a gente possa ter como parâmetro.

Investigação na Justiça catarinense

Minha defesa já foi apresentada (no caso que apura irregularidades em contrato de prestação de serviços de cobrança entre a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) e a empresa Monreal, que esteve em vigência de 2003 e 2010. Gasparino assumiu, a convite, a diretoria jurídica da concessionária de energia em agosto de 2007). Como diretor da companhia, tomei conhecimento do contrato em 2008, quando houve parecer jurídico para a renovação extraordinária durante um novo processo de licitação da empresa que passar a fazer o serviço.

Esse documento foi com o qual concordei, mediante pareceres jurídico, do diretor comercial e do presidente da companhia. Os efeitos do ato do qual participei duraram de dezembro de 2008 até a revogação da deliberação em abril de 2009. A diretoria jurídica da companhia foi extinta nessa época. Não provoquei nenhum ato ilícito. O que me foi dito é que a empresa estava sendo adequada às condições da concorrente considerada referência do setor. Quem fez a denúncia das irregularidades no contrato foi o conselheiro Lírio Parisotto (seu aliado e responsável por sua indicação ao cargo), em 2010.

Gigantes em conflito

As divergências entre os acionistas controladores da Usiminas (foto) – o grupo japonês Nippon Steel & Sumitomo e o conglomerado ítalo-argentino Ternium/Techint – resultaram, no fim de setembro do ano passado, na destituição do então presidente da companhia, Julián Eguren, e dos vice-presidentes à época Paolo Bassetti, de subsidiárias, e Marcelo Chara, industrial. Eles foram indicados em 2011 pela Ternium. O afastamento foi decidido em assembleia do Conselho de Administração, cuja votação está sendo questionada pela Ternium na Justiça mineira.

Enquanto a Nippon sustenta que a destituição foi motivada por irregularidades que teriam sido cometidas em 2012 e 2013 relativas ao recebimento de remunerações, benefícios e bônus pelos executivos, a Ternium acusa ter havido votos computados de forma contrária ao previsto no acordo de acionistas. O ex-presidente e ex-diretores se defendem da acusação de supostos problemas de compliance (conduta contra o regime interno da companhia).

 

 

 

Fonte: Em.com.br

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