Por: Álvaro Menezes
“Para que uma lâmpada seja acesa em sua casa, uma máquina ligada na indústria ou o refrigerador de um restaurante funcione, é preciso que uma longa cadeia de produção e transporte de energia seja acionada…”Este texto resumido, faz parte da introdução ao manual da ABRACE – Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, que trata exatamente de uma “Introdução ao Setor Elétrico”, sem dúvidas um importante documento.
Mas, se alguém dissesse que todas as vezes que abre uma torneira para lavar as mãos ou se refrescar em sua residência ou então, apertar um dispositivo de descarga sanitária para afastar esgotos e os riscos de doenças que podem matar e inabilitar, poderia se supor também que se estava a falar de uma longa cadeia de produção que é quase 100% dependente da energia elétrica? Na prática, esta relação é completamente relevada ao plano que coloca em lados opostos os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário com o setor elétrico.
Considerando que 80% da eletricidade utilizada no Brasil tem as hidrelétricas como fonte, seria razoável entender que a água e a energia elétrica são absolutamente necessárias uma à outra, merecendo tratamento semelhante quanto ao seu papel para o desenvolvimento econômico e social, além de políticas ambientais associadas a gestão de recursos hídricos. Porém, o que ainda se ouve e se lê, é que a energia elétrica é, certamente, a que mais contribui para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade não com a conotação que a associa ao saneamento básico também, mas antes de tudo com indústria, tecnologias, luz e modernidade.
Não há dúvidas hoje de que o setor elétrico brasileiro, outrora respeitado por sua organização, planejamento e gestão, mergulhou fundo na estratégia lulo-petista de criar um mundo paralelo de perfeição que a realidade – notadamente no caso da energia elétrica – teima em desmentir. A falta de energia é tão mais evidente que a de água, ficando difícil saber em muitos casos no Nordeste e Norte do Brasil quem vem primeiro. Há um agravante para o setor de saneamento: a má qualidade de energia faz com que muitas vezes motores desliguem, queimem ou sejam desligados devido a baixa tensão ou picos de tensão, levando a longos períodos de falta de água que são camuflados pelos convenientes indicadores da legislação que abriga a ineficiência do setor elétrico, o qual tem uma solução na ponta da língua para os problemas enfrentados pelas operadoras de serviços de saneamento básico, conhecida como eficientização energética. Esta solução, muitas vezes é o nome disfarçado de racionamento, como acontece no Nordeste e Norte onde os técnicos e gestores do setor elétrico apontam a construção de mega-reservatórios de distribuição de água como solução eficiente para reduzir o consumo de energia e garantir que no horário de pico motores sejam desligados e bombeamentos de água, por exemplo, suspensos. As companhias estaduais de saneamento destinam até 15% de sua receita para pagar faturas de energia elétrica e possuem, algumas delas, gestores especializados e equipamentos que buscam fazer o milagre de tornar eficiente a energia elétrica que recebem.
O grave hoje para todos, é que as perspectivas de solução são indefinidas, pois se associam ao PAC, na verdade um programa de obras que nada tem a ver com um plano estratégico de desenvolvimento e infraestrutura. Assim, importando a ineficiência do setor elétrico, o setor de saneamento arca com elevados custos de construção de sistemas e perda de receita que não serão corrigidos, sem que o Governo Federal eficientize a gestão e a aplicação de recursos na geração e na distribuição de energia elétrica para cidades, indústrias e operadores de serviços.