saneamento basico

Investimentos em saneamento

Uma questão estratégica

Apesar dos indicadores pífios, o saneamento básico continua relegado a segundo plano no País. Conforme pesquisa recente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mantidos os atuais níveis de investimento, as metas de universalização propostas pelo Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico), lançado em 2007, serão postergadas por 20 anos. Essa situação tem consequências que repercutem fortemente em outras áreas estratégicas tais como saúde, emprego, investimentos e capacidade técnica. Isso demonstra não apenas a fragilidade do saneamento básico no País mas, sobretudo, a falta de interesse e de investimentos que marcam as diversas administrações públicas ao longo dos anos.

Entre os diversos problemas causados por políticas públicas que, por um motivo ou outro, postergam o saneamento básico a segundos ou terceiros planos, destaca-se a sistemática perda de capacidade técnica para o enfrentamento dos grandes desafios advindos da pretendida universalização do saneamento. Observamos que a forte redução de investimentos compromete não apenas o presente do saneamento básico do País, mas, sobretudo o seu futuro, uma vez que inexiste um banco de projetos capazes de atender a demanda de investimentos, além do atual sucateamento do conhecimento técnico necessário à sua retomada. Assim, os indicadores atuais revelam situação preocupante, sobretudo quando considerado que a existência de projetos de engenharia é fator preponderante à retomada de investimentos.

Neste sentido, deve-se observar que as empresas de Engenharia e Consultoria realizam o primeiro e grande passo necessário aos investimentos, elaborando e desenvolvendo projetos técnicos que orientem a realização de obras. Estas empresas, por falta de investimentos no setor, passam por uma das maiores crises da sua história. Um exemplo da grave situação verificada no setor de saneamento básico é a dinâmica histórica da aplicação de recursos em estudos e projetos licitados pela Sabesp, que apresenta forte e sistemática queda nos últimos dois anos. Os investimentos foram de aproximadamente R$ 103 milhões no ano de 2012, mantendo-se em R$ 105 milhões no ano de 2013, porém caindo para R$ 73 milhões em 2014 e, de maneira drástica, para apenas R$ 12 milhões no ano de 2015. Ou seja, os recursos financeiros aplicados pela companhia apresentaram uma queda de aproximadamente 90%.

A redução de investimentos no setor também já está provocando o desperdício de milhares de talentos formados todos os anos nas nossas universidades, estimulados no passado pelo bom desempenho da economia e pela promessa de novas oportunidades no setor devido a demissão da mão de obra empregada, que já atinge 60% do seu contingente no estado de São Paulo, mas também desmotiva as novas gerações a participar de seu futuro, o que, em tese, deverá retardar, senão inviabilizar, a retomada de investimentos. Observamos que no Estado de São Paulo contamos com um plantel de aproximadamente 1.800 profissionais altamente especializados da área que, agregados em aproximadamente 60 empresas, têm em seu portfólio a experiência de centenas de projetos no território brasileiro e nas Américas Central e do Sul nas últimas décadas.

A Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente), ciente das possíveis repercussões futuras advindas da atual falta da aplicação de recursos financeiros, defende a imediata retomada dos investimentos para o setor mediante a consolidação de um banco de projetos que, por suas características estratégicas futuras, seja capaz de agregar as melhores soluções de infraestrutura. Somente com coragem, determinação e, sobretudo, noção de futuro, é que poderemos dotar o país de infraestrutura de saneamento necessário ao seu pleno desenvolvimento econômico e social.

(Luiz Roberto Gravina Pladevall, presidente da Apecs – Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente)

Foto: Divulgação

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