saneamento basico

Coluna Saneamento e Filosofia

Nesses anos de exercício da profissão e de estudos de filosofia, procurei compreender com mais profundidade o sentido do saneamento para a sociedade e encontrei algumas respostas ao pesquisar sobre a história e a mitologia greco-romana.

Apresentação da autora e do tema

Caros leitores, sou engenheira sanitarista, formada pela UFSC em 2000 e recebi o título de mestre em 2006. Exerço a profissão de professora universitária e faço curso livre de filosofia desde 2009.

A forma como essas civilizações tratavam o tema do saneamento pode ser vista como o ponto que une épocas tão distantes e contextos bastante diversos. Por que precisamos sanear as cidades? Qual sentido disso para nossas vidas? O que isso tem a ver com o desenvolvimento da sociedade? Que tipos de sujeiras encontramos numa cidade? De onde vêm, como se formam? São muitas as perguntas que norteiam esta investigaçã

Comecemos por responder uma pergunta que você deve estar se fazendo agora: Por que procurar inspiração para resolver os problemas atuais existentes na gestão do saneamento em uma cultura tão distante?

Bem, isso se relaciona com a motivação da minha escolha pelo curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, ou seja, com a minha preocupação pela preservação do meio ambiente. Na época, meu sonho era aprender todo o conhecimento necessário para poder, durante o exercício da minha profissão, ajudar a reverter o processo de degradação ambiental no qual estávamos (e continuamos) inseridos.

Mas infelizmente não demorou muito para eu compreender o quão desafiador era este meu sonho e os primeiros anos de exercício da profissão foram muito difíceis e desanimadores. Tentei de tudo: trabalhar em um órgão ambiental, atuar como voluntária de ONGs ambientalistas, ser consultora ambiental, fazer mestrado inserido num processo de mobilização social… mas em todos os locais eu encontrava discurso e pensamento totalmente desconectados com a prática e isso me frustrou muito.

E foi assim, num momento de bastante tristeza, que encontrei a filosofia. Levei um certo tempo até compreender como internalizar e vivenciar o conhecimento deixado pelos grandes filósofos da humanidade, bem como para enxergar os grandes exemplos de civilizações que obtiveram sucesso, em certa medida, na sua organização e condução.

Eu estava estudando simbologia, quando me “caiu uma ficha”: Se o saneamento é algo realmente importante para o desenvolvimento de uma sociedade, uma civilização como a grega e a romana devem ter deixado algo escrito sobre o assunto! Deve haver registros que possam me mostrar as ideias com as quais  trabalharam o tema e o fizeram funcionar durante seu período áureo de existência. E com esta “pista” comecei a pesquisar sobre o assunto.

Desta forma, encontrei o mito de Asclépio (do grego, Esculápio do romano), pai de Higeia (do grego, Cloacina do romano). Higeia/Cloacina representava a prevenção da saúde, não somente de forma individual, mas também coletiva. Estava aí a “ponta do fio da meada” que eu estava buscando para pesquisar e me aprofundar sobre o tema.

Historicamente Higeia/Cloacina deixou sua marca, como prova disso há  um monumento dedicado a essa divindade localizado sobre o principal canal de drenagem de águas servidas de Roma. Higeia/Cloacina também ilustrava algumas moedas do Império Romano, havia hinos e poemas feitos para ela, assim como sua história e principais características ficaram registradas nas páginas da mitologia greco-romana.

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Figura1: Higeia. (ADRIANA, 2009)

Figura 2: Santuário da Vênus Cloacina, em Roma (SANTUÁRIO… 2018).

Figura 3: Moedas romanas dão uma ideia clara de como se parecia o santuário (SANTUÁRIO… 2018).

Figura 4 – Localização do santuário no Fórum romano (SANTUÁRIO… 2018).

E esse encontro foi, para mim, a descoberta de uma renovada esperança! Por quê? Bem, muitas coisas mudam o tempo todo e mudaram muito desde o século V a.C. até os dias de hoje, porém também existem coisas que não mudaram… você já parou para pensar nisso? Existem ideias universais e atemporais que foram as mesmas no passado e continuarão seguindo no transcurso do tempo inalteradas pelas diferentes formas com as quais as expressamos nas diversas épocas e culturas como,  por exemplo, o Amor. Por mais que tenhamos criado a internet e o celular, o sentimento profundo de amor que cultivamos e queremos viver é certamente muito similar àquele que os gregos também ansiavam viver na sua época e tão bem registrado por Platão (filósofo grego do séc. IV a.C.), Khalil Gibran (poeta, pintor e filósofo libanês, 1883 – 1931) e Erich Fromm (psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, 1900 – 1980).

O que eu estou querendo dizer é que eu procurei pesquisar um pouco mais sobre a ideia com a qual a civilização greco-romana tratou o tema do saneamento com a esperança de encontrar elementos que nos ajudassem a efetivamente “trocarmos o disco” arranhado que temos escutado nas últimas décadas, repleto de reclamações, de dedos que apontam para o vizinho, para o governo e para sociedade (como se fossem um “entes” separados de nós) e que se tornou um discurso morto, sem nenhuma capacidade de ajudar-nos a empreender o caminho de retomada aos trilhos civilizatórios de uma sociedade saneada, limpa e harmoniosa, integrada com o ambiente ao seu redor, por que antes aprendeu a integrar-se consigo mesma.

Os romanos acreditavam que um bom sistema de esgoto era importante para o sucesso de Roma, pois ele contribuía para saúde das pessoas. Eles cultuavam Cloacina como a deusa da pureza e limpeza da sujeira. Seu nome é provavelmente derivado do verbo latino “cloare” (“limpar”, “purificar”), (SANTUÁRIO… 2018).

A minha ideia foi, a partir dessas pistas, pesquisar um pouco mais e fazer algumas reflexões práticas que pudessem nos inspirar, principalmente no sentido educacional, área profissional na qual atuo.

Você se sentiu tocado sobre com este tema? Então não perca o próximo artigo!

Luciane Dusi Pereira

Engenheira sanitarista

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