Em uma operação inédita no Brasil, o governo de São Paulo começa a captar nesta quinta-feira (15) o volume morto do Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da região metropolitana de São Paulo. O nível da represa está abaixo dos 10% de sua capacidade.
Em ano eleitoral, a medida de utilizar a água que fica no fundo das represas, abaixo do nível de captação das comportas, foi a saída encontrada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para escapar da impopular decisão de racionamento de água.
O governo gastou R$ 80 milhões para construir canais e instalar bombas para a retirada da água nas represas Atibainha, em Nazaré Paulista, e Jaguari/Jacareí, em Joanópolis.
O governador participa de cerimônia na represa de Jaguari/Jacareí para marcar o início da captação do volume morto. Dos seis reservatórios que integram o sistema, esse é o que possui menor nível de armazenamento de água. Ontem (14), o índice era de apenas 1,8%.
A previsão é extrair 182 bilhões de litros de água dos 400 bilhões de reserva, elevando em 18,5% o nível do Cantareira, que ontem estava em 8,4%.
Autoridades e órgãos divergem sobre até quando essa água vai durar. Inicialmente, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informou que o volume morto seria suficiente para garantir água até setembro, mas mais recentemente passou a falar em novembro, quando deveria começar o período chuvoso.
A ANA (Agência Nacional de Águas) afirmou esta semana que a reserva técnica pode acabar antes de novembro, caso sejam mantidos os atuais níveis de chuva e de consumo de água.
Há quase um mês o índice do Cantareira não para de cair. A última vez que o sistema registrou aumento no nível de armazenamento foi em 16 de abril.
Apesar da situação crítica, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) descartou reiteradas vezes ao longo dos últimos meses o racionamento de água.
Segundo estimativa de um estudo técnico feito pelo Consórcio Intermunicipal PCJ, das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, se voltar a chover a média, o Sistema Cantareira levará cinco anos para atingir 70% de sua capacidade de armazenamento de água, nível considerado bom.
Qualidade do volume morto
A qualidade da água do volume morto coloca em lados opostos pesquisadores e o Executivo estadual. O governo garante que a água é a mesma da que vem sendo retirada dos reservatórios e usada pelos consumidores atualmente.
Especialistas entrevistados pelo UOL alertam para os riscos à saúde. Para Sílvia Regina Gobbo, professora de ecologia da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), o tratamento de água usado atualmente não consegue resolver os problemas dos metais pesados que podem estar acumulados no fundo dos reservatórios.