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Nova Friburgo está para água como Macaé está para o petróleo

Um assunto importantíssimo foi tratado na Câmara Municipal essa terça-feira, 9 de junho, embora a assistência estivesse vazia. Uma reunião específica sobre crise hídrica e como este cenário se configura em Nova Friburgo. A proposição foi do vereador Wellington Moreira (PRP), que convidou para participar o superintendente da concessionária Águas de Nova Friburgo, Christian Portugal, o subsecretário de serviços concedidos da Prefeitura, Nader Pedro, e o ambientalista Fernando Cavalcante.

Wellington questionou do superintendente da Águas de Nova Friburgo se Nova Friburgo corre o risco de sofrer com a falta d’ água, de que forma a crise hídrica está afetando a cidade, se haverá racionamento de água, quais as medidas que a concessionária está tomando para garantir que esses problemas não recaiam sobre a cidade e a população. Também perguntou se haverá aumento na conta, se a concessionária realiza campanhas de conscientização ambiental e como planeja agir em relação à produção de água, ou seja, quais ações estão sendo tomadas para resguardar esse bem precioso do município.

Christian descartou, veementemente, que Nova Friburgo possa vir a sofrer com a falta d’ água, e que casos como o que ocorreu no Condomínio Terra Nova estão relacionados a problemas técnicos, como deficiência no bombeamento ou vazamento na rede. E que a falta de água em loteamentos como o de Vargem Grande, no Cônego, é específica, pois não existe rede de abastecimento em alguns desses loteamentos, que dependem de nascentes ou poços artesianos próprios. Com a estiagem, devido à redução de chuva nesse verão, essas fontes praticamente secaram.

Na reunião, a concessionária apresentou todo o sistema, como ele se divide, quais as regiões estão sujeitas às questões da estiagem. Segundo disse Christian, 85% do abastecimento é feito por sistemas perenes (ininterruptos), que fornecem água para o eixo central da cidade da Praça Marcílio Dias ao Trevo de Duas Pedras. Esses sistemas principais são o Rio Grande de Cima e o Debossan.

No breve resumo de como funciona o sistema das Águas de Nova Friburgo, foi dito que ele é formado por 728 km de adutoras, 28 elevatórias, 73 reservatórios, um centro de controle operacional de monitoramento em tempo real dos dados de nível, que acompanham os principais pontos de abastecimento. São 11 estações de tratamento e o sistema de distribuição é integrado (que possibilita transpor a distribuição). Esse sistema é formado pelo Rio Grande, que é a maior estação de tratamento, responsável por abastecer 51 bairros e 83 mil pessoas, seguido pela segunda maior unidade produtora, o Debossan, que abastece 18 bairros ou 44 mil habitantes, e mais as estações Bela Vista, Curuzu, Cascatinha e Caledônia, e Santa Cruz, em Campo do Coelho.

Das duas principais estações são retirados 380 litros de água por segundo, e no pior momento de estiagem já presenciado, se tirou para suprir as necessidades menos da metade da capacidade que pode ser coletada do rio, ou seja, dá e sobra.

Christian fez um paralelo com o que a mídia vem divulgando sobre a importância dos reservatórios, esclarecendo que em Nova Friburgo, que não possui reservatórios com o objetivo de reserva de abastecimento, a realidade é diferente de São Paulo e Rio de Janeiro. Nesses grandes centros, o número de pessoas é maior do que o nível de produção d’água, por isso a importância do reservatório nos períodos de estiagem. No caso de Nova Friburgo, a produção é maior do que o número de habitantes, e os sistemas de abastecimento são perenes.

Sobre os projetos de conscientização ambiental, a concessionária promove o projeto “Amigo da Água” e o “Viveiro Escola”.

Apesar dessa explanação otimista, de recursos abundantes e inesgotáveis, o ambientalista Fernando Cavalcanti fez importantes alertas.

“A crise hídrica que a imprensa tanto fala não é propriamente de Nova Friburgo, mas sim do planeta terra”, iniciou sua fala. Segundo Fernando, essa discussão é estratégica, geopolítica, e transcende as fronteiras de Nova Friburgo, pois, água, é um bem público, respaldado pela Lei das Águas, que a caracteriza como sendo um bem de uso público, regional, não existindo como patrimônio municipal, tanto que as câmaras municipais não podem legislar sobre a água, porque é um parâmetro de gestão do Estado e da Federação.

A relação da crise hídrica com Nova Friburgo, segundo o olhar de Fernando Cavalcante, é que o município não está na coluna do problema, mas sim na coluna da solução. Ele fez um pequeno relato para entendermos isso.

De acordo com o ambientalista, o Estado do Rio de Janeiro, no contexto de disponibilidade hídrica, está junto com Piauí, dentro da faixa de atenção da falta d’água. “O Estado do Rio é paupérrimo em água, tanto que para abastecer os 13 milhões de cariocas são retirados 2/3 do Rio Paraíba para uma transposição para o Rio Guandu, onde se tem a maior estação de água do mundo, registrado no livro dos recordes. Água que está sendo disputada na nascente que tem origem em São Paulo”, falou.

A crise hídrica está historicamente em todo o litoral do petróleo no Rio de Janeiro e pouco se fala nisso.

Então, onde é que tem água no Estado do Rio de Janeiro? Na Região Serrana. E a Águas do Brasil, mais que a Águas de Nova Friburgo, sabe disso. E, provavelmente, Águas de Nova Friburgo tem uma profunda integração estratégica das águas no Estado do Rio e de suas possibilidades de gestão para o futuro.

E onde entra Nova Friburgo nessa história? Nova Friburgo não entra na coluna do problema, mas sim na coluna da solução.

Na realidade, afirmou, “somos um município produtor de água. Nova Friburgo está para água como Macaé está para o petróleo. Só que existe uma associação de municípios produtores do petróleo, do qual Macaé exerce a presidência. Mas, o mais importante para a vida é a água, pois ela não pode acabar como o petróleo vai acabar. Então, Nova Friburgo tem que puxar para si, junto com os outros municípios serranos, de que é produtor de água, a responsabilidade que terá no futuro de gerar esse recurso para todo o estado”.

Portanto, conforme disse o ambientalista, Nova Friburgo tem responsabilidade na crise hídrica não como problema, mas como solução. A responsabilidade de ser a solução. Mas para isso, tem que se ter a noção de produção de água, pois água se produz. “Mas sobre isso, senti falta na fala do Christian”, disse Cavalcante.

Fernando alertou sobre a necessidade de se plantar florestas em Nova Friburgo para garantir a produção de água, pois sem isso, os mananciais podem diminuir. E daqui a 20, 30 anos, o Estado vai passar por uma crise hídrica séria. “Se não nos apoderarmos dos estudos estratégicos para sermos uma área produtora de água, certamente que a capital virá aqui para meter a mão na nossa água”.

É preciso discutir a questão da crise hídrica com a grandiosidade de Nova Friburgo, e não com a pequenez de politicagem, disse: “eu não vim aqui para fazer politicagem. Vim para mobilizar as consciências de que nós somos importantes produtores de água no Estado do Rio de Janeiro e que temos que nos portar com essa grandiosidade. Olhar para o futuro como está na Lei das Águas, que passou a tratar a água como recurso hídrico, que diz respeito a valores”.

Fernando também chamou a atenção para algumas questões que foram levantadas pela Águas de Nova Friburgo, como as relacionadas com a estação de água do Cascatinha e Caledônia. Para ele, deve-se voltar novamente as atenções para lá, pois essa área é responsável pela recomposição do lençol freático: cada vez que chove naquela área há infiltração que abastece esses lençóis. Portanto, é importante pensar em projetos de reflorestamento nesses lugares, numa perspectiva futura de grandes áreas produtoras de água.

A secretaria de Meio Ambiente, informou Nader Pedro, vem trabalhando nos estudos de modernização do plano diretor e do plano de saneamento básico, planos que trarão o levantamento hídrico de todos os mananciais. “Vamos, numa oportunidade futura, noticiar e disponibilizar todos essas informações. Enquanto poder público estamos exigindo da concessionária a proteção dos mananciais, requerendo projetos”.

 Fonte e Agradecimentos: http://www.votoabertonovafriburgo.com/#!Nova-Friburgo-est%C3%A1-para-%C3%A1gua-como-Maca%C3%A9-est%C3%A1-para-o-petr%C3%B3leo/cjds/557984330cf2e4994fbf329a

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