saneamento basico

Podemos ter errado na concessionária

Embora reconheça acerto na concessão do saneamento, presidente da Câmara avalia que meta de universalização do abastecimento não será cumprida.

Polêmico, determinado, participativo e com traquejo social já que é seguidamente reeleito vereador por Cuiabá, o presidente da Câmara de Vereadores da capital, Júlio Pinheiro (PTB), está no seu terceiro mandato como presidente da instituição e reconhece que isto acaba levando-o a sofrer percalços e atropelos.

Próximo de completar 296 Anos de criação, no próximo dia 8 de Abril, e 197 Anos de Emancipação em 17 de setembro, Cuiabá, segundo Júlio Pinheiro melhorou significativamente nos últimos anos, ao ponto de sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014, o que demonstra sua importância no contexto.

No entanto, ele admite que ainda existe muito o que fazer, mesmo que isto acabe impondo duras decisões que são e serão críticas até que as pessoas compreendam que o Poder Público tem que ver o conjunto da sociedade e não apenas pequenas ilhas de prosperidade no meio de um amontoado de problemas estruturais, mas que devem ser enfrentados pelo bem a população.

Segundo estimativas de 2014, feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de Cuiabá é de 575.480 habitantes, enquanto que a população da conurbação é de 841.225; já sua região metropolitana possui 863.509 habitantes e o colar metropolitano quase 1 milhão; sua mesorregião possui 1.100.512 habitantes, o que faz de Cuiabá uma pequena metrópole no centro da América do Sul.

DIÁRIO – Vários fatores o colocam no cenário político de Cuiabá, alguns positivos outros não. Como o senhor se vê como representante da população?

JÚLIO PINHEIRO – Acredito que as pessoas interpretem os fatos como favoráveis ou desfavoráveis de acordo com o momento. Assim eu cheguei por três vezes à presidência da Câmara de Cuiabá e antes disto a vereador, mas todas essas vezes, eleito legítima e democraticamente.

DIÁRIO – Mas o senhor acabou derrotado na eleição do início do mandato para presidente, numa acirrada disputa da qual o senhor acabou sendo retirado no último momento. O que aconteceu?

PINHEIRO – Eu estava presidente, me reelegi vereador e estava pleiteando minha reeleição para continuar um trabalho que tinha surtido tanto efeito positivo que chegamos a devolver dinheiro público não gasto, para o então prefeito de Cuiabá, Chico Galindo. O que hoje a Assembleia Legislativa anuncia como feito ao devolver recursos públicos para o governo do Estado, nós já fizemos isto na legislatura passada.

Quando percebi que a minha candidatura poderia trazer prejuízos para o grupo político ao qual pertenço e que era liderado pelo recém-eleito prefeito Mauro Mendes (PSB), recuei para evitar que o grupo fosse derrotado, mas não foi possível.

Menos de um ano depois da eleição do então presidente João Emanuel (PSD), o mesmo renunciou, foi cassado depois de ser denunciado pelo Ministério Público e fui eleito para completar seu mandato e assumi um Legislativo cheio de problemas, dívidas e sem credibilidade. Um ano depois, com a situação equilibrada, me reelegi presidente. Estou cumprindo meu mandato e trabalhando para engrandecer o Poder Legislativo de Cuiabá.

DIÁRIO – Mas também pesam contra o senhor denúncias do Ministério Público.

PINHEIRO – E todas serão respondidas. Considero-as exageradas e sem motivo. Mas no Brasil de hoje, alguém conhece algum político com ou sem mandato que não está denunciado. O melhor de tudo é quando a Justiça julga improcedente, aí, ninguém fala nada. Tenho convicção de que sempre atuei dentro da lei e da ordem.

DIÁRIO – Cuiabá está próxima de completar 296 anos, quase três séculos. Existe o que comemorar?

PINHEIRO – Com certeza sim. As pessoas são felizes aqui. Aqui é a terra da prosperidade, da oportunidade. Somos a porta da Amazônia, do Pantanal e a capital do agronegócio que vem sustentado a economia nacional graças ao trabalho e ao esforço das pessoas daqui.

Isto tudo não quer dizer que vivamos na Suíça, no país dos sonhos, perfeito. Temos problemas – e sérios – que não serão solucionados com apenas uma decisão, um mandato ou uma política pública. Como cidade grande temos problemas grandes, seja na questão da saúde, do abastecimento de água, da rede de esgoto, do crescimento desordenado, da regularização urbana, então os detalhes passam a fazer parte da cobrança da população para a classe política.

Volto a frisar: a Copa do Mundo e a satisfação da população e dos visitantes é nosso cartão de visita. Fora isto, basta ver o quanto de gente nova chega, quantos investimentos novos estão sendo realizados e quanto a vida da população melhorou.

DIÁRIO – Se a Copa do Mundo foi todo este sucesso, as obras como o VLT deixaram a desejar?

PINHEIRO – E muito. Vamos cumprir nosso papel de cobrar das autoridades estaduais e municipais uma solução. Ficar apenas fazendo críticas não resolve. A população de Cuiabá quer e merece um sistema de transporte coletivo melhor, moderno, eficiente. Se for o VLT, ótimo. Se for para ficarem os ônibus, eles também terão que melhorar. O que se quer é solução. O governador Pedro Taques sabia que iria encontrar estes problemas quando se candidatou. Assim também o prefeito Mauro Mendes, e nós, enquanto vereadores, então mãos à obra.

DIÁRIO – Mas e a responsabilidade quanto aos erros e falhas?

PINHEIRO – Vamos cobrar também. Aliás, temos que reconhecer, quando a Comissão de Acompanhamento das Obras da Copa da Câmara de Vereadores de Cuiabá esteve com o então governador Silval Barbosa em reunião com deputados estaduais na sede da Secopa, foi com o intuito de cobrar. E a resposta dos então responsáveis foi de que tudo ficaria pronto. Quem em sã consciência não iria querer o volume de recursos investidos na Grande Cuiabá. Nosso papel será dar de presente nos 300 anos uma cidade melhor para a população. Já para os organismos de fiscalização e para a Justiça a decisão quanto a punir ou não os responsáveis. O que não pode é a cidade ficar um buraco só. Isto desmotiva o cidadão e retrai possíveis investidores.

DIÁRIO – Não podemos só falar dos problemas das obras da Copa. E a questão da água e do esgoto, que é apontada como crítica?

PINHEIRO – Não é porque tive participação direta no processo de concessão da antiga Sanecap para a CAB Ambiental que estou falando isto, até porque eu era o presidente da Câmara Municipal, e sucessor direto do então prefeito Chico Galindo, mas a concessão foi essencial. Se a CAB não tivesse nos últimos anos aportado os recursos a situação estaria muito pior.

Houve avanços significativos, pois são mais de 250 km de novas redes de água, sem contar que a chegada à iniciativa privada acabou com várias máfias que existiam, como da seca, do carro-pipa, do manobrista, do almoxarifado e por aí vai. Acertamos na concessão. Reconheço que podemos ter errado na concessionária, mas ainda é cedo para falar nisto, já que é uma concessão de 30 anos e agora estamos chegando aos três anos, ou seja, 10% do tempo total.

DIÁRIO – Mas agora não termina o prazo para a universalização de 100% de água tratada para toda a população?

PINHEIRO – Sim. E temos que reconhecer que isto não vai acontecer e devem existir motivos para isto, mas o principal é que a Câmara e os vereadores terão que cobrar e exigir explicações, mudar o sistema de fiscalização, exigindo a empresa que anualmente apresente sua proposta de investimento e a cada três meses exigir uma prestação de contas, porque sabemos que existiam bairros atendidos só por caminhões-pipa que hoje têm água tratada, mas isto não pode servir de desculpa para as constantes reclamações da população contra a CAB Ambiental.

DIÁRIO – O prefeito Mauro Mendes (PSB) extinguiu a empresa de fiscalização Amaes e criou a Arsec, alegando de que a primeira falhou no seu papel de fiscalizar a questão da água. Essa postura não é simplista após dois anos de administração?

PINHEIRO – Assim como o prefeito Mauro Mendes, nós temos obrigações que demandam a tomada de medidas, que nem sempre dependem apenas do gestor. Existe todo um aparato que exige segurança jurídica quando se envolve o Poder Público. A CAB Ambiental é uma questão que precisa de ajustes, rápidos, eficientes e necessários, mas não basta o prefeito ou a Câmara Municipal, como muitos querem ir e romper um contrato que tem amarras e obrigações legais. O que se quer é muito simples: que a população tenha um mínimo de tratamento digno, humano e decente de água tratada e esgotamento sanitário, pois isto é saúde, isto é qualidade de vida. Imagine se Cuiabá teria condições de passar pela situação que passa São Paulo com a falta de água, rezando para chover para não faltar o líquido ao mesmo tempo em que reza para a chuva não provocar tragédia.

DIÁRIO – Não há como deixar de vincular a administração pública à questão eleitoral. Ano que vem é ano de eleição municipal. Qual será a meta do seu partido, o PTB?

PINHEIRO – Primeiro de tudo é preciso saber se os deputados federais e senadores vão mudar as regras eleitorais, com a reforma política. Segundo, vamos ter eleições em 2016 ou haverá prorrogação de mandatos para coincidência de eleições? Terceiro, vai acabar a reeleição para os detentores de mandato no Executivo? Estes questionamentos precisam de resposta. Mesmo assim, o PTB vai estar presente nas eleições, vai ampliar sua participação eleitoral e vai disputar o máximo possível de eleições;

DIÁRIO – Isto quer dizer disputar Cuiabá?

PINHEIRO – Claro que sim. Se construirmos um nome que esteja pronto para disputar as eleições municipais, não apenas em Cuiabá, mas em todos os municípios, por que não podemos pleitear igual a todos os demais partidos.

DIÁRIO – Mas o PTB não é aliado do prefeito Mauro Mendes?

PINHEIRO – Somos aliados na administração municipal e na sustentação pela governabilidade. Eu e os vereadores Leonardo Oliveira – sobrinho de Dante de Oliveira, um nome de peso e respeito em qualquer eleição – e Dilemário Alencar, outro combativo petebista, estaremos unindo esforços por Cuiabá e pelo engrandecimento de nosso partido. Mas como falei anteriormente, é preciso saber quais serão as regras que os partidos e os candidatos terão que enfrentar nas eleições de 2016.

DIÁRIO – Nos últimos meses ouve-se falar muito em uma possível incorporação pelo PTB, do Democratas. Isto pode acontecer?

PINHEIRO – As conversações estão bem avançadas e estão sendo tratadas em todos os Estados. O PTB completa no próximo dia 15 de maio 70 anos de existência e seria um grande passo poder se unir aos Democratas e construir uma frente partidária de respeito, com tempo de rádio e televisão, como representatividade no Congresso Nacional e principalmente com força política para enfrentar e se tornar uma das grandes e consolidadas siglas nas eleições de 2016, caso elas venham a acontecer.

Fonte: Diário de Cuiabá

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