saneamento basico

Chuvas não significam ausência de crise hídrica no Rio Grande do Sul

Porto Alegre – Apesar do grande volume de precipitações anuais e mesmo com densidades e corpos d’água suficientes para suprir as demandas, o Rio Grande do Sul vive em constante crise hídrica em algumas regiões. Por que estes problemas acontecem? Quais são as soluções? A situação hídrica do estado foi tema de ciclo de debates que ocorreu na quinta-feira (16.04). O evento, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção Rio Grande do Sul (Abes-RS), contou com a presença de mais de cem pessoas, entre estudiosos e especialistas do assunto.

– Nossa intenção, com o ciclo de debates, é criar um momento para repensar e avaliar até que ponto estamos em crise hídrica. Será que é uma crise? Um dos desafios é entender a crise para além da estiagem. Não simplificar a crise apenas a questão da estiagem. Pensar como a poluição, a falta de estrutura hídrica e os agroquímicos utilizados contribuem para esta crise – destaca o coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos da Abes-RS, Sidnei Gusmão Agra.

O Engenheiro Agrônomo e diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Fernando Setembrino Cruz Meirelles contextualizou os principais motivos para a escassez hídrica que ocorre no estado. Além disto, relatou o que o Governo do Estado está fazendo para conviver e melhorar os problemas com esta escassez.

– Temos cenário de escassez na produção de arroz. Só ocorre pelo fato do consumo de água nessas regiões é muito alto. A demanda é muito grande. Porém, essa escassez não é um problema real nessas localidades. Muitos produtores têm barragens particulares. Preocupa muito a escassez no Planalto. Lá não tem tanta barragem e a escassez está avançando – afirma Fernando Setembrino Cruz Meirelles.

Outros pontos levantados pelo palestrante foram mudanças no clima do Rio Grande do Sul, no Brasil e em todo mundo. Segundo Meirelles, o que está sendo observado é que as mudanças no clima também estão alterando as necessidades dos produtores. A previsão para os próximos 50 anos é de aumento ainda maior da necessidade de irrigação.

– O aumento da irrigação não é ruim. Mas a previsão da perda de floresta é muito ruim. Nos últimos anos, as lavouras aumentaram 58% de áreas agrícolas, enquanto as florestas caíram 9%. O futuro mostra que poderá ser necessário plantar café e cana-de-açúcar no estado. Ou as pessoas vão comer menos, ou vamos precisar produzir mais comida – salienta Meirelles.

A especialista em Direito Urbano e Ambiental (FMP), Mestre em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR/UFRGS) e pesquisadora em Geografia da FEE, Mariana Lisboa Pessoa, palestrou sobre o mau aproveitamento da água no Rio Grande do Sul.

– Há um tempo, na FEE, já debatemos a crise no estado. Temos situação confortável de densidade de água, recursos e corpos d’água no estado. Nosso volume de precipitação é considerado bom, em comparação com outros estados brasileiros. E apesar disso, a Agência Nacional das Águas considera o RS como uma das piores situações de desequilíbrio hídrico do país, em conjunto com o nordeste brasileiro. Os problemas estão na qualidade da água, na falta de saneamento básico e na ineficiência na irrigação. A origem destes problemas está na deficiência de planejamento e gestão de recursos hídricos – ressalta Mariana Lisboa Pessoa.

A especialista alerta que a situação crítica que ocorre na região Sudeste do país deve estar em pauta para o debate no estado. Porém, a crise também acontece no Rio Grande do Sul há muitos anos.

– Falta planejamento para a melhor utilização da chuva que temos aqui. Para que no momento em que alguma região esteja com estiagem, não ocorra a crise hídrica para essa população. A estiagem ainda afeta muitas regiões do estado, como em Bagé, por exemplo. A cidade recorrentemente pede ajuda ao Governo do Estado por faltar água – lembra Mariana Lisboa Pessoa.

A Especialista em Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PROPUR-UFRGS), Valéria Borges Vaz, salientou que o estado não possui uma crise hídrica. Para ela, existe uma crise humana, pela falta de planejamento de utilização dos recursos naturais.

– Temos que debater a estrutura do sistema estadual de recursos hídricos. Refletir dentro do sistema, como podemos tratar esses problemas. Não temos uma crise hídrica, temos crise humana. É inacreditável que o Rio Grande do Sul tenha tantos problemas nesse sentido. Existe uma abundante quantidade de água no estado. Nossa situação é bem diferente do nordeste do Brasil, mas tratamos da água de forma errada e somos comparados com esta região. Não podemos aguardar para que todo o sistema de recursos hídricos esteja implantado para agir – declara Valéria Borges Vaz, coordenadora do Fórum Gaúcho de Comitês de Bacias.

Após as apresentações dos palestrantes, os presentes participaram do ciclo de debates e conversaram sobre soluções dos problemas de crise hídrica no estado. O “Ciclo de debates 2015: Repensando o desenvolvimento sustentável” ocorreu na Fundação Getúlio Vargas. Outras informações podem ser obtidas no site www.abes-rs.org.br.

Informações para a Imprensa:

Sobre a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

A ABES é uma organização não governamental, fundada em 1966, com o objetivo de desenvolver e aperfeiçoar as atividades relacionadas com a Engenharia Sanitária e Meio Ambiente, e fomentar a consciência social e as ações que atendam às demandas de conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida da sociedade brasileira. Dispõe de uma sede nacional localizada no Rio de Janeiro com representação nas 27 Unidades da Federação através de suas Seccionais e Sub-Seccionais. A seção estadual do Rio Grande do Sul conta com a presidência de Darci Barnech Campani.

 

 

Fonte: Jornal Correios de Notícias

Últimas Notícias: