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Como planejar as cidades para a utilização de água da chuva

O rolo compressor que pavimenta o asfalto no chão de terra é, desde sempre, sinônimo de progresso. É inevitável. Rapidamente, novas ruas, novos bairros e possibilidades são levantados do zero. No entanto, a natureza impermeável da engenharia de infraestrutura perdeu a capacidade de reciclar naturalmente as águas que caem em forma de chuva.

A lógica das grandes cidades é escoar a água para outro lugar, geralmente rios ou o mar. Quando o escoamento não funciona direito, temos as tão comuns enchentes. Quando funciona, nem sempre há o caminho adequado para a água ser tratada e reutilizada. De um jeito ou de outro, o fato é que as cidades precisam reformular os sistemas de coleta para liberar água no solo antes de que ela chegue ao sistema de esgoto.

O problema é grave e está em quase todo o mundo. O diretor do Instituto de Ciências Ambientais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, David Sedlak, considera que uma das grandes tragédias do desenvolvimento urbano foi termos começado a cobrir todas as superfícies com concreto e asfalto conforme as cidades cresciam. “Enquanto concretávamos, tivemos que construir galerias pluviais para expulsar a água que caía sobre as cidades antes que causasse inundações, e isso é um desperdício de uma fonte vital de água”, afirma em palestra proferida no TED.

Rinaldo Veseliza, arquiteto e diretor de sustentabilidade do Alisto Engineering Group, concorda com Sedlak. Ele afirma em artigo no site Water Deeply que uma forma de usar melhor águas pluviais é por meio da recarga de aquíferos subterrâneos, que têm sido esgotados por causa da superexploração. “A reciclagem de todas as águas captadas reduziria a poluição de córregos, rios, baías e oceanos”, diz.

Veseliza argumenta ainda que é preciso rever as práticas e políticas atuais para gerir a água de forma eficaz. “Precisamos redirecionar a água dos canais apropriados, começando com uma solução simples para aperfeiçoar nossas ruas com superfícies permeáveis para mudar a dinâmica da gestão da água”, diz.

Sedlak cita na palestra uma forma prática e viável (já em operação) para coletar as águas das chuvas que caem em nossas cidades: capturá-las e deixá-las infiltrar no solo. “Afinal, muitas das nossas cidades estão sentadas em cima de um sistema natural de armazenamento de água capaz de acomodar grandes volumes de água”. Ele dá o exemplo da cidade de Los Angeles que obtém cerca de um terço do abastecimento de água de um enorme aquífero que está subjacente ao vale de San Fernando.

Um novo projeto está sendo construído para a criação de um parque de águas pluviais que consiste em ligar uma série de sistemas de coleta de água de chuva, ou “esgotos de chuva”, e desviar essa água para uma pedreira de cascalho abandonada. A água capturada na pedreira passa lentamente através de uma zona úmida artificial e, em seguida, vai para um campo onde se infiltra no solo. Com o sistema é possível reabastecer os aquíferos de água potável da cidade.

Água que não é aproveitada vira problema

Sob condições naturais, os aquíferos são sustentados a partir da infiltração de água de chuva limpa e água corrente no solo. Mas para ambientes urbanos, essas fontes são cortadas pelas paisagens impermeáveis, tornando as águas residuais (sem o devido tratamento natural) em fontes de baixa qualidade que podem até levar à contaminação das águas subterrâneas.

E não é pouca sujeira nas inundações. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), 38 trilhões de litros de água de chuva escoam pelos telhados todos os anos no país. A água que atinge a pavimentação escoa com bactérias, óleo, metais, pesticidas, plásticos e toda a sorte de detritos. A EPA estima que as águas fluviais sejam responsáveis por 20% da poluição dos rios e 45% da poluição dos estuários, mais do que qualquer outra fonte de contaminação.

Tem solução

Inovações recentes em como lidar com as águas pluviais urbanas estão trabalhando para evitar o escoamento perto de sua fonte e para fornecer prevenção de poluição e controle de quantidade.

Veseliza cita três soluções para o melhor aproveitamento da água da chuva. A primeira e mais simples são as chamadas ruas verdes, que aproveitam a drenagem natural em valetas de drenagem. As ruas verdes permitem que a água seja tratada lentamente e absorvida no solo, filtrando os poluentes ao longo do caminho. O arquiteto ainda defende o maior uso de pavimentação permeável e a criação de unidades de reciclagem e escoamento.

Essa última solução tem como exemplo mais notável a cidade americana de Santa Monica que foi a primeira nos Estados Unidos a ter uma unidade de tratamento do país. Implantada em 2001, hoje, ela processa 1,9 milhão de litros por dia usando sistemas modulares.

Sobre os piscinões, famosos em São Paulo, Veseliza afirma que eles devem ficar separados do acesso do público, para assim prevenir doenças. “É imperativo que além dos piscinões sejam plantadas árvores e vegetação em geral, que filtram os poluentes”, diz.

Foto: Petros Giannakouris/AP
Fonte: Juntos Pela Água

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