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Limpeza urbana é o principal motivo de reclamações no Rio, afirma prefeitura

Rio – O descontentamento dos garis, que cruzaram os braços por oito dias no início do mês e ainda protestam pelo abono das faltas, é só um indício da pouca atenção para a limpeza urbana no Rio. O DIA fez um raio X do 1746 e revela que o serviço da Comlurb foi líder de críticas na central de atendimento ao cidadão da prefeitura nos últimos dois anos. E foi ‘vice-campeão’ também no quesito má qualidade, em 2012 e 2011, quando o canal de relacionamento foi criado.

Das 47 mil críticas recebidas pelo 1746 em 2014, quase 19 mil (40%), uma média de 52 por dia, são referentes ao asseio público, e foram feitas, na maioria dos casos, por cariocas insatisfeitos com os serviços de remoção gratuita de entulho, limpeza de logradouros e coleta domiciliar. A quantidade de queixas foi 28% maior do que em 2013, quando a população se manifestou 14.758 vezes pelos mesmos motivos. Saúde foi o segundo da lista negra, com 9.233 (19,6%) reclamações. Remoção e poda de árvores, outra competência da Comlurb, foi o terceiro maior problema, e recebeu 3.802 registros (8%).

A prefeitura cobra taxa de coleta de lixo (TCL) anualmente, no IPTU, para que a população usufrua de coleta domiciliar, transporte e descarga de lixo ordinário. Só no ano passado, os donos de imóveis desembolsaram R$ 295,74 milhões com o tributo. Em 2013, o município arrecadou R$ 278,11 milhões e, para 2015, prevê recolhimento de R$ 305,6 milhões de TCL. O histórico do 1746, entretanto, mostra que pagar não é garantia de qualidade.

“A TCL é uma receita ordinária não vinculada e compõe as receitas de custeio do município. Cabe esclarecer que o orçamento da Comlurb é de R$ 1,77 bilhão, quase seis vezes superior ao arrecadado com a taxa”, explicou a Secretaria municipal de Fazenda, em nota.

Os valores da TCL variam se o imóvel for residencial ou comercial e com o bairro no qual está localizado. São cobradas taxas progressivas para sete grupos de bairros. Campo Grande, Bangu (pertencentes ao grupo 1), Irajá (grupo 2), Taquara (4) e Tijuca (5) despontaram no ranking de reclamações sobre limpeza urbana em 2014. Moradores dos dois primeiros pagam R$ 57 de TCL; os de Irajá, R$ 114; os da Taquara, R$ 190; e os da Tijuca, R$ 285 por ano. A cobrança para edificações de uso comercial chega a R$ 711 no grupo 5 e a R$ 979 (valor mais alto da taxa) no sétimo grupo, que reúne bairros como Barra da Tijuca, Gávea, Ipanema e Leblon.

O gari Célio Viana, que liderou o movimento grevista dissidente do sindicato, estima que haja um déficit de três mil garis no Rio. “Hoje, um gari trabalha por três e os que estão na ativa não suprem a necessidade da cidade”, afirma. Ele acredita que os bairros com mais reclamações são preteridos por não fazerem parte do roteiro turístico.

A Comlurb nega falta de profissionais e informa que o número de garis é determinado pela demanda de serviço. Segundo a companhia, um concurso realizado em fevereiro abriu cem vagas e os demais aprovados foram destinados ao banco de reserva. A empresa discorda que os 18.946 atendimentos informados como “reclamações” sejam de cidadãos insatisfeitos. “Não são reclamações, mas solicitações de serviços. A Comlurb monitora as informações sobre a satisfação do cidadão, planejando correções para atender cada vez melhor à população”, respondeu.

“Desde janeiro, solicitamos 11 vezes limpeza da praça. Vieram esta semana, cortaram a grama, mas o lixo continuou lá”, contesta Elka Nascimento, da associação de moradores do conjunto Sargento João Lima, em Campo Grande. Curiosamente, limpeza urbana foi o segundo serviço mais elogiado desde 2011, perdendo só para saúde de 2012 para cá. No entanto, as saudações à Comlurb são menos de 8% do número de reclamações em 2014. “A limpeza urbana também exige uma reeducação social para não jogar lixo no chão”, ressalta a especialista em resíduos sólidos Fabiana Avelar.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que realizou, em 2014, 38,8 milhões de procedimentos ambulatoriais somente na Atenção Primária, que hoje beneficia mais de três milhões de cariocas. E que o número de queixas ano passado representa “apenas 0,024% da produção ambulatorial da rede, sem contar atendimentos de emergência, cirurgias e assistência hospitalar especializada.”
Fonte: O Dia

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